A disputa pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) este ano teve renovação de pouco mais da metade. Entre os 49 eleitos para assumir em janeiro, 25 não tinham mandato e 24 foram reeleitos. A Alepe conta hoje com 13 partidos, mas em janeiro terá 12: PDT e Cidadania saem de cena, enquanto o Patriota reaparece. Centro-esquerda tem cerca de 20 cadeiras, bolsonaristas aproximadamente 20 também e “centrão” soma 10.
O fenômeno eleitoral de 2018, Gleide Ângelo (PSB) reduziu sua votação em dois terços e fez 118 mil votos, quantia ainda expressiva e que a deixou como 3ª mais votada este ano. Os conservadores Junior Tércio (PP) e Alberto Feitosa (PL) foram os mais votados este ano.
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O PT perdeu uma cadeira para seu novo aliado, o PV. Agora cada um tem três. O PSOL e o PCdoB mantiveram uma cadeira cada. O PSB segue como maior bancada, mas perdeu um assento – mas um terço da bancada do partido, como de costume, não tem identidade com as pautas da esquerda. Ainda neste campo, o PDT perdeu sua única cadeira, que era do ex-prefeito de Caruaru, José Queiroz.
O “centrão” também perdeu espaço. O PP saiu de 10 para 8 cadeiras (mas alguns são bolsonaristas) e o Solidariedade perdeu uma (de 4 para 3). O Republicanos ganhou uma e agora tem 2. Na centro-direita Cidadania também tinha uma cadeira e desapareceu, já que Priscila Krause está na disputa para ser vice-governadora, na chapa de Raquel Lyra (PSDB).
Essas cinco cadeiras a menos (duas perdidas pelo campo progressista e três do centrão e centro-direita) foram conquistadas pelo bolsonarismo. O PL ampliou uma (chegando a 5), o União Brasil também cresceu uma (5) e o PSDB ganhou duas (3), além do Patriota que garantiu uma.
PSB perde um, mas se mantém como maior bancada
Força política hegemônica no estado há 16 anos, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) sofreu um duro golpe ao não conseguir sequer ir ao 2º turno na disputa pelo Governo do Estado. Mas isso teve pouco impacto na disputa da Assembleia Legislativa. O partido atualmente conta com 15 parlamentares na casa e conseguiu eleger 14, perdendo apenas uma cadeira na Alepe. Foram 7 socialistas reeleitos, outros 3 obtiveram sucesso na empreitada pela Câmara Federal e 5 perderam as vagas na Alepe, com 7 novos chegando.
Os reeleitos foram a delegada Gleide Ângelo (118,8 mil votos), Rodrigo Novaes (85 mil), Francismar (66,6 mil), Aglailson Victor (64 mil), Simone Santana (53 mil), Waldemar Borges (44,8 mil) e Diogo Moraes (43 mil). Os três que conseguiram vaga na Câmara Federal foram Eriberto Medeiros (99 mil votos), Lucas Ramos (85,5 mil) e Guilherme Uchôa Junior (84,6 mil).
Nomes tradicionais perderam a cadeira na Alepe, como Isaltino Nascimento (31 mil), o bolsonarista Marco Aurélio (27,6 mil), Aluísio Lessa (25,6 mil), o ex-prefeito de Caruaru Tony Gel (22,4 mil). Também ficaram de fora o ex-deputado Paulo Dutra (24 mil) e o ex-prefeito do Paulista, Junior Matuto (34 mil). Já o deputado Rogério Leão sequer tentou reeleição – ele rompeu com seu partido e desde o 1º turno tem apoiado Marília Arraes (SD) para o Governo do Estado, além de direcionar seus apoios para os deputados eleitos Waldemar Oliveira (Avante) federal e Gustavo Gouveia (SD) estadual.
Entre os novatos não há tanta novidade. O presidente da Alepe, agora eleito deputado federal, conseguiu eleger Eriberto Filho (79 mil votos), de 29 anos, para a casa estadual. Outro eleito foi Jarbas Filho, de 31 anos, herdeiro do senador Jarbas Vasconcelos (MDB), que está em seus últimos anos de vida pública. “Jarbinhas” (45 mil votos) já havia se candidatado a vereador, mas não obteve sucesso.
Outro filho eleito pelo PSB é Rodrigo Farias (45 mil votos), filho da atual prefeita de Surubim, Ana Célia, e ex-secretário da prefeitura. Nenhum dos três têm perfil explicitamente conservador. O quarto estreante é Danillo Godoy (56 mil votos), natural de Bom Conselho, no agreste do estado, contou com apoio do prefeito do município e cidades vizinhas.
E há ainda três figuras mais experientes. O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes (43 mil) está eleito deputado estadual. Ex-vereador do Recife (até 2016), o dirigente partidário foi, até abril deste ano, secretário estadual de Assistência Social. Agora retorna ao parlamento. Outra volta é a de José Patriota (43 mil), que foi deputado estadual até 2012, ano em que foi eleito prefeito de Afogados da Ingazeira, cargo que ocupou por dois mandatos, até 2020, elegendo seu sucessor.
Um sobrenome poderoso na zona da mata sul e que agora estará na Alepe é o Hacker, que ganhou notoriedade nacional com o caso do menino Miguel, morto no condomínio de luxo Pier Maurício de Nassau. Vice-prefeito de Barreiros por dois mandatos (2005-2012) e prefeito de Sirinhaém por mais dois mandatos (2013-2020), France é tio de Sérgio Hacker – marido de Sarí Côrte Real e ex-prefeito de Tamandaré. France não tem relação com o caso do menino Miguel, a não ser a participação no clã político-familiar-econômico que domina o litoral sul de Pernambuco.
PT perde um, PV ganha um e PCdoB se mantém
A Federação Brasil da Esperança, que une Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Verde (PV) manteve seus sete assentos atuais. Mas com uma mudança: o PT tinha 4 e agora tem 3, enquanto o PV tinha 2 e agora tem 3.
A única cara nova eleita pelo PT de Pernambuco foi Rosa Amorim, de 25 anos, estreante em eleições. Nascida num assentamento do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) em Caruaru, tendo vivido os últimos anos no Recife, onde cursa graduação de Artes Cênicas, Rosa (42 mil) tornou-se liderança estudantil, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e foi escolhida pelo MST como candidata do movimento nesta eleição. Ela teve votos em 182 dos 185 municípios do estado.
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O mais votado da aliança foi o ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT). Seus 74 mil votos mostram que o petista ainda tem forte recall nas periferias da capital. Outro reeleito foi Doriel Barros (65 mil), liderança sindical dos agricultores familiares que vai para 2º mandato. Na aliança o PT teve 446,6 mil votos, de modo que poderia ter eleito 4 deputados caso tivesse disputado sozinho. O beneficiado seria Odacy Amorim (24 mil votos), que acabou como suplente.
O PV teve 163,6 mil votos e teria eleito dois, mas fez três graças aos votos do PT: o beneficiado foi João de Nadegi (PV), filho da prefeita de Camaragibe. Joaquim Lira (48 mil), deputado estadual com mandato, foi reeleito. E o mais votado do PV foi o enfermeiro e presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PE), Gilmar Junior (68 mil). Estreante, o profissional se destacou como liderança dos enfermeiros do estado na luta pelo piso salarial.
O PCdoB fez 88,5 mil votos e sozinho garantiria um assento, como ocorreu. O Partido Comunista reelegeu seu deputado João Paulo Costa (42 mil votos), que não é um quadro com identidade partidária. Filho do ex-deputado Silvio Costa e irmão de Silvio Costa Filho (Republicanos), João Paulo integrava o Avante e se filiou ao PCdoB como estratégia eleitoral.
PSOL mantém cadeira, mas muda nome
A federação Rede-PSOL somou 134,8 mil votos, insuficiente para alcançar uma segunda cadeira na Alepe. Na Rede (48,4 mil votos) o candidato mais votado foi Souza Vigilante (9,7 mil), sendo apenas o 4º mais votado da chapa. Já o PSOL (86,4 mil), mesmo sozinho teria conseguido manter a cadeira. E caso a chapa conquistasse mais votos, a segunda cadeira seria também do PSOL, já que teve as três candidaturas mais votadas da aliança.
O mandato coletivo das Juntas, fenômeno eleitoral de 2018, teve sua votação reduzida a menos da metade. Saíram de 39 mil (2018) para 15,4 mil (2022), ficando em 2º lugar na chapa. Quem ganhou a cadeira foi Dani Portela (38,2 mil), advogada e vereadora do Recife mais votada em 2020. Em 3º ficou o também vereador da capital Ivan Moraes (13,9 mil).
Em 2023, quando Dani assumir o mandato na Alepe, sua cadeira na Câmara do Recife ficará com o mandato coletivo Pretas Juntas, encabeçado por Elaine Cristina e Débora Aguiar, do grupo Mães Independentes, composto por mulheres que conquistaram na justiça o direito ao plantio de cannabis para tratar seus filhos. Elas lutam pela descriminalização da maconha.
PP perde cadeiras, mas segue como 2ª bancada
Principal partido do “centrão” em Pernambuco, o PP saiu de 10 para 8 cadeiras na Alepe, o que o mantém como 2ª maior bancada da casa. Com 738,6 mil votos, o partido reelegeu cinco parlamentares, uma outra foi eleita federal, enquanto quatro perderam a cadeira e chegaram três novos nomes. Os reeleitos foram Antônio Moraes (57,7 mil), Claudiano Filho (53 mil), Adalto Santos (51,3 mil), o pastor Cleiton Collins (50,5 mil) e Henrique Queiroz Filho (43 mil).
Já a bolsonarista Clarissa Tércio foi eleita deputada federal como 2ª mais votada do estado. Os derrotados ficaram na suplência, na seguinte ordem: Roberta Arraes (42 mil), Delegado Lessa (37 mil), Clóvis Paiva (34 mil) e Antônio Fernando (34 mil). Os sem mandato que foram eleitos são: o ex-deputado federal Kaio Maniçoba (45 mil), cuja base eleitoral fica no Sertão do Itaparica; Jeferson Timóteo (51 mil), candidato do prefeito do Cabo de Santo Agostinho, onde Timóteo foi secretário de Serviços Públicos; e o pastor bolsonarista Junior Tércio (183 mil votos), esposo da deputada Clarissa Tércio.
Solidariedade perde uma cadeira
Apesar de formada de última hora, com a saída do ex-dirigente Augusto Coutinho (agora no Republicanos) e a chegada de Marília Arraes (ex-PT), a chapa do Solidariedade foi competitiva, alcançando 348 mil votos, sendo a 6ª mais votada do estado. Dos quatro deputados que o SD possui hoje, dois foram reeleitos, uma disputou uma vaga na Câmara Federal (sem sucesso) e um perdeu o mandato para um novo nome.
Os reeleitos foram: Gustavo Gouveia (66 mil votos), que até o início deste ano era filiado ao DEM, herdeiro político oriundo da zona da mata norte; e Fabrizio Ferraz (48 mil), ex-PP, coronel da PM nascido no município de Floresta, sertão do estado. O outro eleito foi Luciano Duque (61 mil votos), ex-prefeito de Serra Talhada por dois mandatos (2013-2020). Duque foi filiado ao PT por anos, tendo migrado para o Solidariedade no início de 2022, acompanhando Marília Arraes.
Quem perdeu o mandato foram Wanderson Florêncio (33 mil) e Fabíola Cabral – esta última não teve sucesso na disputa por uma cadeira federal e seu pai, Lula Cabral, teve 34 mil votos e não foi eleito, além de ter concorrido sub-júdice, visto que teve rejeitadas contas de uma gestão sua na prefeitura do Cabo de Santo Agostinho. Os dois são suplentes. Outros nomes derrotados foram o do ex-vice-prefeito do Paulista, Jorge Carreiro (21 mil); e Júlio Lóssio Filho (24 mil), cujo pai – ex-prefeito de Petrolina – também foi derrotado, já que foi suplente da candidatura de André de Paula (PSD) ao Senado.
Republicanos ganha +1 cadeira
O partido comandado pela Igreja Universal conseguiu reeleger seu deputado William Brígido (55 mil) e ainda conquistou mais uma cadeira com Mário Ricardo (48 mil), ex-prefeito de Igarassu por dois mandatos (2013-2020). Ficaram como suplentes Tiago Pontes (42 mil), ex-secretário estadual de mobilidade urbana; e Cláudia Lupércio (38 mil), primeira-dama de Olinda.
PL de Bolsonaro ganha +1 cadeira e chega a 5
O Partido Liberal (PL), onde a maior parte do bolsonarismo se uniu para a disputa eleitoral, só ampliou em uma cadeira seu tamanho na Assembleia Legislativa de Pernambuco. A sigla foi a 4ª mais votada e elegeu o mesmo número que o União Brasil (UB), com cinco cadeiras cada. Entre os quatro parlamentares do PL na atual legislatura, dois foram reeleitos e dois sequer disputaram. Outros três novos foram eleitos.
O policial miliar Alberto Feitosa (PL) foi o 2º estadual mais votado, com 146 mil votos, e segue para seu 5º mandato. O outro reeleito foi o também PM Joel da Harpa (35 mil), que participou em 2021 - junto aos casais Tércio e Collins - de um protesto contra uma criança de 10 anos, grávida fruto de estupro, que foi à maternidade do CISAM fazer seu aborto legal e seguro.
Os dois deputados que perderam mandato foram Manoel Ferreira (pai do candidato derrotado ao governo, Anderson Ferreira). Com idade avançada, ele não quis disputar a reeleição. E Romário Dias, que foi candidato a 1º suplente de senador junto com Gilson Machado Neto, também derrotado. Os três novatos são o vereador do Recife Renato Antunes (46 mil); o militante bolsonarista Abimael Santos (43 mil), de Toritama; e Nino de Enoque (24 mil), candidato derrotado na disputa pela Prefeitura de Moreno, na região metropolitana.
União Brasil também ganha +1
Nascido da fusão entre DEM e PSL, o União Brasil (UB) foi o 3º partido com mais votos para a Alepe (484 mil). Entre os quatro parlamentares do União, três foram reeleitos e a única que não manteve o mandato foi Alessandra Vieira, que não tentou reeleição. Vieira foi candidata a vice-governadora na chapa de Miguel Coelho. O marido de Alessandra, Edson Vieira (33 mil votos), não foi eleito, ficando como 1º suplente.
Os reeleitos do UB foram Antônio Coelho (91 mil votos), irmão de Miguel e filho do senador bolsonarista Fernando Bezerra Coelho; Romero Sales Filho (64 mil), filho da prefeita Célia Sales, de Ipojuca; e Romero Albuquerque (46 mil), bolsonarista que se apresenta como defensor dos animais, mas defende também os caçadores e o porte de armas. A sigla elegeu dois estreantes: Cléber Chaparral (66 mil), ex-prefeito de Orobó; e Socorro Pimentel (35 mil), primeira-dama de Araripina, esposa do prefeito e ex-deputado Raimundo Pimentel.
Raquel Lyra ressuscita PSDB
Sem mandatos federais e com apenas um estadual, o PSDB em Pernambuco ressuscitou com a candidatura de Raquel Lyra ao Governo do Estado. Álvaro Porto (46 mil) foi reeleito. Outro veterano que volta à Alepe é Izaías Régis (27 mil), prefeito de Garanhuns (2013-2020), que antes da prefeitura foi deputado por dois mandatos e meio (2003-2012). E a mais votada do partido foi Débora Almeida (51 mil), ex-prefeita de São Bento do Una por dois mandatos (2013-2020). A primeira suplente é Lucinha Mota (25 mil), petrolinense mãe da menina Beatriz; e a segunda suplente é a Delegada Patrícia (14 mil), carioca que disputou a Prefeitura do Recife em 2020, também derrotada.
Patriota leva 1 cadeira
Investindo na tática de somar muitos pequenos para bater o coeficiente, o Patriota lançou chapa com 36 nomes e chegou a 165 mil votos. O eleito foi o bolsonarista Joãozinho Tenório (28 mil), ex-prefeito de São Joaquim do Monte (2013-2020) e aliado da família Ferreira. Ele é filho de João Tenório, falecido em 2020 e que também foi prefeito de São Joaquim em três ocasiões. Os dois primeiros suplentes são Fabinho Lisandro (26 mil votos), empresário de Salgueiro apoiado pelo grupo do ex-prefeito Clebel Cordeiro; e o ex-deputado Beto Accioly (21 mil).
Edição: Vanessa Gonzaga