Ao contrário do que muita gente pensa, os bonecos gigantes que hoje representam uma das maiores atrações do Carnaval Pernambucano não "nasceram" em Olinda. A primeira vez que uma dessas figuras foi usada para animar um Carnaval Brasileiro aconteceu em Belém do São Francisco, cidade do sertão pernambucano, a 486 km do Recife.
Tudo começou quando, no início do século XX, o padre belga Norberto Phallapin contava sobre a tradição de bonecos na Europa que participavam de cortejos religiosos para atrair a atenção dos fiéis. Como bom ouvinte, o jovem belenense Gumercindo Pires de Carvalho teve a ideia de fazer um boneco gigante, aos moldes europeus, não para usar em momentos religiosos, mas no Carnaval.
Foi assim que nasceu, em 1919, o Boneco Gigante Zé Pereira. O Zé Pereira animou “sozinho” às ruas de Belém por dez anos, quando, em 1929, ganhou a companhia de Vitalina, outro boneco gigante que se tornaria sua esposa.
Juntos, os dois desembarcam nas margens do São Francisco - vindos da Europa, como conta a tradição, e animam as ruas da cidade durante o Carnaval. Para preservar a história dos primeiros bonecos gigantes do Brasil, os donos da festa ganharam uma nova casa: o Memorial Zé Pereira e Vitalina.
Segundo Antony Dunesk, diretor do memorial, os bonecos gigantes ficavam esquecidos o ano inteiro e existia a necessidade de aproximar a história do patrimônio cultural a população belenense. “As pessoas queriam entender a história e nós precisávamos também fazer com que os belemitas conhecessem a própria história. Nós fomos descobrir que os bonecos de Belém eram os primeiros bonecos gigantes do Brasil através de um artista de Olinda. Nem sabíamos até meados dos anos 2000, que eles eram os primeiros do Brasil, então foi Olinda que primeiro vem nos dizer que os bonecos nasceram aqui”.
No memorial, é possível conhecer a história dos 12 bonecos gigantes criados em Belém do São Francisco e inspirados em personagens locais da cultura popular, distribuídos em ilhas alegóricas que direcionam o caminho da exposição fazendo referência à chegada dos bonecos em Belém.
“A ilha da música, a ilha do povo, a ilha do carnaval, a ilha do futuro, a ilha de exibição, fomos construindo essas ilhas para que no passeio, na condução dentro do espaço, as pessoas estejam como se numa navegação, uma vez que os bonecos chegam pelas águas do rio. Então nosso chão é uma representação do Rio São Francisco e as pessoas vão circulando pelo espaço como se estivesse passeando pelas ilhas do nosso rio e em cada ilha essa temática vai abordar a força que carrega os bonecos que é a música, o povo e que é o próprio carnaval”, relatou o diretor.
Para além da exposição, os estudantes que vão até o memorial recebem uma oficina de papel machê e papietagem, técnicas da produção dos bonecos, para sentir como funciona a construção dos gigantes. Esse é o primeiro memorial dedicado aos bonecos gigantes, a música e ao carnaval belenense. Agora, os foliões da cidade e do país inteiro não precisam esperar o carnaval para ver o Zé Pereira e a Vitalina de pé.
Edição: Vanessa Gonzaga