Em Entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, a primeira senadora do estado, Teresa Leitão (PT), falou sobre a atuação do seu mandato de deputada estadual em meio ao avanço do bolsonarismo nas casas legislativas brasileiras, apontou as prioridades que devem nortear a sua atuação no Senado a partir de 2023 e também analisou o posicionamento do PT no segundo turno em Pernambuco.
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Eleita com cerca de 2 milhões de votos, Teresa defendeu que o PT não ficasse neutro na disputa para o governo de Pernambuco. Ela não retira as críticas políticas feitas à candidata ao pleito e agora apoiada pela legenda petista, Marília Arraes (SD), mas avalia a escolha do partido como uma “decisão correta” e elogia a unificação dos palanques do PT e PSB com o do PSOL em torno da candidata do Solidariedade.
Teresa pretende dar continuidade às pautas que marcaram os seus cinco mandatos consecutivos na ALEPE, que são da sua trajetória como militante, sindicalista e do histórico com o feminismo. Com a experiência da última eleição, ela ainda garante levar a discussão do etarismo na política para debater dentro do PT. “Nós temos que trabalhar uma relação intergeracional, proativa, e que traga novos quadros políticos”. Confira:
Brasil de Fato: Qual o principal desafio que você visualiza para o futuro mandato sendo a primeira senadora de Pernambuco em meio ao avanço do bolsonarismo nas casas legislativas?
Teresa Leitão: Eu acho que o principal desafio de todos os legislativos é recuperar a postura republicana de quem ocupa cargo público nesse país. A postura do governo Bolsonaro e de todos os seus seguidores são de desrespeito. São posturas de banalização da figura pública de um governante, de legisladores. Isso gera no Brasil um nível de descompasso, de vulnerabilidade institucional muito grande. A segurança institucional do país precisa ser retomada e a nossa postura, o nosso decoro, a nossa posição republicana a meu ver é o primeiro desafio.
BdF PE: No primeiro turno houve muitos atritos com a candidata à governadora do estado Marília Arraes (SD), inclusive críticas da própria Marília direcionadas especificamente para você. Agora, no segundo turno, o PT tomou a decisão de apoiar a candidata do Solidariedade. Qual análise você faz desse processo e que espaço você acredita que o PT pode ter num eventual governo de Marília a frente do estado?
Teresa Leitão: Eu acho que as críticas foram pertinentes. Eu, por exemplo, não retiro nenhuma que fiz porque foram críticas políticas. Da mesma maneira houve um momento em que Marília ao defender o candidato dela ao senado tinha também que me atacar. Acho que isso faz parte do processo e acho também que o PT tomou a decisão correta de apoiar este palanque, os três palanques que apoiaram o Lula no primeiro turno. O palanque dele que foi o palanque de Danilo, o palanque de Marília e o palanque do PSOL estão todos unificados. Permaneceremos firmes e fortes com Lula no segundo turno, estamos todos com a candidatura de Marília Arraes.
Não vejo problema não, acho que isso faz parte inclusive coerentemente da nossa discussão de ter a eleição de Lula como foco estratégico. Particularmente, não debati nada com a candidata e nem eu meu grupo político, não sei também se o PT debateu isso. Apenas ouvi Marília dizer que quer governar com o PT, mas não debati nada em relação a espaços, a cargos. Eu acho que não é o momento, precisamos ganhar a eleição. Precisamos inclusive dar uma olhada no plano de governo. Depois a gente trata da distribuição e ocupação desses espaços conforme a iniciativa e a perspectiva da própria governadora.
BdF PE: Você tem uma trajetória na luta sindical e na educação. Essas pautas devem prevalecer em sua atuação no Senado?
Teresa Leitão: A minha entrada na política se deu através do movimento social, não é uma simples pauta. Eu sou egressa desse movimento, fui dirigente sindical estadual e nacional, dirigente sindical da educação... Então será evidente uma postura que eu vou levar para o Senado. Nós temos muitos gargalos do desgoverno Bolsonaro. O Plano Nacional de Educação que está engavetado, é uma lei com grande legitimidade social porque é fruto de um debate público de muitas conferências municipais, estaduais e nacional. Dentro do plano temos metas e estratégias e uma delas é a formulação e implementação do Sistema Nacional de Educação. Tramita na Câmara de Deputados e temos que ver como o Senado vai se posicionar sobre ele.
Além disso, restaurar todos os cortes que Bolsonaro fez sem pena na área da educação, desde o “per capita da merenda”, que ele vetou o reajuste, até os cortes nos orçamentos das universidades e dos Institutos Federais. E por fim, restaurar a política educacional que não existe no governo Bolsonaro. Bolsonaro fez algumas inserções, muitas delas absolutamente prejudiciais ao desenvolvimento da educação, como as escolas cívico-militares, como a escola sem partido, como essa balela da ideologia de gênero. Então tudo isso a gente vai ter que recuperar dentro de um plano de reestruturação da educação no Brasil.
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BdF PE: Para além dessas pautas, qual você acha que deve ser a prioridade de Pernambuco no Senado?
Teresa Leitão: Eu espero que os três senadores de Pernambuco que estão unidos em torno da eleição do presidente Lula possam trabalhar de maneira articulada. Eu sei que com o senador Humberto Costa estará absolutamente possível e previsível e temos que lançar mão dessa experiência de Humberto e do senador Jarbas Vasconcelos para debater as grandes pautas de Pernambuco.
Eu acho que a contribuição que podemos dar não apenas com envio de emendas, emendas que podem ser compartilhadas, emendas de bancadas, são também discutir aquilo que é mais premente no estado de Pernambuco. Pelo que eu analiso dos programas de governo, nós temos uma questão relacionada ao fornecimento de água. Tanto que no programa de Danilo havia o “Água para Todos” tanto nos programa de Marília e de Raquel existem também porque essa é uma necessidade urgente do estado. Assim como a infraestrutura das estradas, que vai ficar um recurso importante depositado nos cofres do estado, mas uma duplicação de uma BR só se faz com intervenção do Governo Federal.
Então eu acho que podemos atuar conjuntamente em defesa dos grandes interesses do povo pernambucano e do próximo governo do estado independente de quem ele seja. Há também uma questão fundamental, que eu me comprometi e sei que isso pode contagiar os outros senadores, que é de ser uma senadora que conversa com os prefeitos, defende seus interesses e as grandes pautas.
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BdF PE: Sendo a primeira senadora de Pernambuco, qual impacto o machismo exerceu na sua trajetória política e qual espaço a luta das mulheres vai ter em seu mandato?
Teresa Leitão: O machismo ainda é muito presente. Em Pernambuco houve nove mulheres participando das chapas majoritárias, duas governadoras, duas senadoras e cinco vice-governadoras. Eu acho que isso é muito importante e vem mulheres militantes históricas como a atual vice-governadora Luciana Santos, que nos representa tão bem como vice-governadora atual, vamos ter o segundo turno com duas mulheres, e como você disse tivemos uma senadora eleita. Esses são sinais de que nós estamos superando lentamente, porém, insistentemente e sem volta o debate do machismo.
Eu sofri, evidentemente, mas não me preocupa tanto quanto o preconceito etário que eu sofri de algumas mulheres nessa campanha e isso me dá uma preocupação muito maior, porque você junta isso com o machismo e além da gente ter que enfrentar toda a discussão e acende o desrespeito contra as mulheres. Você em uma campanha cujo candidato prioritário, cuja estrela maior, tem 76 anos e ainda é abusada: “Isso é uma candidata numa faixa etária que não deveria mais”. Isso me incomodou muito, eu pretendo levar esse preconceito etário para dentro do partido, não dá para gente conviver com isso.
Nós temos que trabalhar uma relação intergeracional, proativa, e que traga novos quadros políticos. O espaço da luta das mulheres está assegurado no meu mandato, no simbolismo de acontecer a primeira mulher eleita senadora, que se compõe com os outros elementos desta mulher. Quem é essa mulher? Uma professora de ofício e formação, da militância, uma ex-sindicalista. Portanto, uma mulher que sempre teve os pés no movimento social. Essas pautas pertinentes aos direitos das mulheres serão também de muita importância e prioridade no meu mandato. E o simbolismo me enche de responsabilidade com as mulheres.
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BdF PE: Neste segundo turno, o que o PT tem elencado como prioridade na tarefa de campanha para o ex-presidente Lula?
Teresa Leitão: A nossa prioridade aqui em Pernambuco e no Nordeste também é a gente conseguir ampliar a votação de Lula. Já foi uma votação bastante significativa, mas a gente tem uma gordurinha que pode buscar. E no Brasil como um todo é a gente deixar mais explicitamente pontuada a nossa proposta e enfrentar o bolsonarismo. Agora é um contra o outro e não tem mais outras candidaturas. É enfrentar o bolsonarismo, enfrentar Bolsonaro, explicitar para o povo do que se trata cada um dos projetos. Denunciar e superar esse momento de fake news, que a gente sabe que está sendo usada e ganhar essa eleição. O reencontro do Brasil com os brasileiros é esperado por milhões de pessoas. Nós ganhamos a eleição no primeiro meio turno e nesse segundo turno vamos continuar vitoriosos
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Edição: Vanessa Gonzaga