O Mãos Solidárias é um projeto que movimenta, há dois anos, diversas comunidades periféricas do estado, incluindo o João de Deus, em Petrolina (PE). O que começou com a entrega de cestas básicas durante o pior momento da pandemia da covid-19 se ramificou e hoje é espaço de integração e formação. Para continuar a existir, foi lançada uma campanha para arrecadar fundos e pagar o aluguel do espaço físico do projeto.
Além da entrega de cestas básicas e kits de higiene, o Mãos Solidárias também oferece cursos profissionalizantes gratuitamente para a população do bairro, em especial de grupos vulneráveis como mães-solo, grávidas, com filhos em primeira infância, únicas responsáveis pelo sustento da casa, analfabetas, desempregadas e subempregadas; além de oficinas diversas para crianças.
A ação é organizada pelo Círculo de Leitura Popular da Bíblia no João de Deus, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Frente Brasil Popular Petrolina, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rede Médicos e Médicas Populares, Coletivo Coletânea e o Núcleo Popular Margarida Alves.
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Cuidado com as crianças
Recentemente, as crianças da comunidade foram beneficiadas com um curso gratuito de flauta e percussão corporal, em parceria com o IF Sertão Campus Petrolina. Uma das alunas foi Isabela Andrelino, de 11 anos. Até o momento, foram dois meses de aula. A mãe, Ana Monteiro, afirma que já foi o suficiente para pegarem gosto pela música. "A empolgação de Isabela era demais, nossa... Eles estão de recesso, mas contando os dias para voltar", conta.
Ela faz uma crítica quanto a falta de incentivo à arte e à música nos bairros periféricos. "Nossas crianças nas periferias estão esquecidas. A iniciativa do Mãos Solidárias é grandiosa", garante. Segundo ela, é um aprendizado que vai além da técnica. "Elas começam a partir daí a desenvolver suas habilidades motoras, aprendem a se socializar e vão aos poucos formando sua identidade", afirma.
De verde, está Isabela com a professora de música e os colegas de turma na aula de encerramento / Foto: Arquivo Pessoal
Cursos profissionalizantes
O Mãos Solidárias não pensa em ações só para os pequenos, como Isabela. Ana Monteiro, que está desempregada, conta que também fez parte de um curso de confeitaria oferecido pela iniciativa. Os cursos são pensados como uma ferramenta para garantir a empregabilidade dos moradores em vulnerabilidade social.
Esse é o caso de Manuela Gomes, outra moradora do bairro. Todos os dias, ela tem um encontro marcado na sede do projeto, das 13h às 17h, para realizar um curso de camareira. Manuela está desempregada e é mãe de dois filhos pequenos. "Eu tô amando. Vai ser uma experiência ótima pra mim que gosto de trabalhar na área de limpeza", é o que conta.
Com duração de três meses e qualificante, o objetivo é que quem participa saia da experiência com um emprego. Ela conta que os cursos oferecidos pelo projeto têm feito com que as pessoas encontrem uma fonte de renda. "Uma amiga minha fez o curso de panificação e biscoito e hoje tem uma minipadaria na sua residência", diz.
Além do curso de camareira, Manuela conta como foi positiva a experiência de realizar outros cursos do projeto, como o de fazer pizzas / Foto: Arquivo Pessoal
Para Herlon Bezerra, que está na coordenação do projeto e na organização da campanha para arrecadar fundos, o Mãos Solidárias tem duas dimensões de importância: a imediata e a de longo prazo. A primeira trata-se de saciar a fome, aliviar um problema urgente. A segunda trata da organização comunitária. "É a gente ter estimulada a cultura da autoorganização da classe trabalhadora, das mulheres, das famílias em situação de empobrecimento. Tudo é a gente que faz, tudo é a gente que constrói".
Ele avalia negativamente o atual governo e a perda de direitos que foi historicamente conquistada pela classe trabalhadora. "Existir o Mãos Solidárias é um contraveneno para esse tipo de construção cultural anti-humana, anti-trabalhadores, anti-empatia e à serviço da morte", finaliza.
Como ajudar
Atualmente, a iniciativa tem conseguido ser um espaço para banco de alimentos, roupas e móveis; galinheiro e horta comunitários; orientação jurídico-cidadã; além de rodas de cuidado e conhecimento; biblioteca e brinquedoteca comunitária; cozinha-escola comunitária e rede de comunicação comunitária;
Para garantir a continuidade dessas ações com o espaço de funcionamento do projeto, a campanha busca angariar doações para realugar o prédio em que está localizado, no bairro João de Deus.
As doações devem ser feitas para o PIX 10.542.814/0001-01, que é o CNPJ da Associação Anglicana do Nordeste. Os comprovantes devem ser enviados, por Whats App, para (85) 99694.5090.
Edição: Vanessa Gonzaga