70% dos alimentos que chegam na mesa dos brasileiros são provenientes da agricultura familiar
No mês de outubro, o Vozes Populares falou bastante sobre alimentação e sobre o que chega na mesa do trabalhador. O programa passou pelos alimentos contaminados por agrotóxicos, pelos ultraprocessados e pela perda de qualidade da alimentação escolar.
Nesta edição, traz um outro caminho possível apontado por pesquisadores, movimentos populares do campo e da cidade e agricultores familiares: a produção agroecológica.
Agroecologia pode combater a fome
No território da Borborema, na Paraíba, está a Associação Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA). Desde 1983, ela atua para o fortalecimento da agricultura familiar e a promoção do desenvolvimento rural sustentável no Brasil. Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA defende que a agroecologia é capaz de combater a fome no Brasil.
"70% dos alimentos que chegam na mesa dos brasileiros são provenientes da agricultura familiar. Geralmente, esses agricultores envolvem princípios agroecológicos que conseguem fazer uma produção de alimentos descentralizadas, que conseguem diversificar um conjunto de cultivos em suas propriedades e esses alimentos são importantes porque eles geram renda, alimento pra família e consequentemente segurança alimentar. Então essa diversidade de cultivos que são extremamente adaptados aos diferentes agrossistemas podem sim se colocar como uma oportunidade pra combater a fome", afirma o assessor.
Se nas primeiras edições o Vozes Populares sobre o quanto o Brasil está perdendo em qualidade nos alimentos, a agroecologia oferece uma alternativa sem veneno e sem agredir a natureza. No debate sobre comida saudável, a agroecologia aponta também para a necessidade de valorizar sementes livres de modificações genéticas, as famosas transgênicas.
No lugar, defendem o uso das sementes crioulas, que na Paraíba, foram apelidadas de “Sementes da Paixão”. São sementes tradicionais, selecionadas, que foram utilizadas e guardadas por agricultores, passadas de geração em geração. Elas são importantes para garantir uma alimentação saudável, diversificada e de qualidade. "Enquanto as variedades crioulas são conservadas e são melhoradas a partir do conhecimento das famílias e a partir do entendimento do conjunto do seu agroecossistema, as sementes transgênicas são produzidas em laboratórios e também são de determinadas empresas que vendem patentes. Então quando você está comprando 1kg de uma variedade de milho, que chega a ser até 40x mais caro do que uma variedade de milho crioulo, é porque você está pagando os direitos de uma empresa que produziu aquelas variedades", declara.
Ele fala também do valor simbólico e tradicional das sementes. "Quando as sementes de milho crioulo cruzam com as sementes de milho contaminada, você vai perder todo esse acúmulo de conhecimento ao longo das gerações e você vai ficar dependendo de estar plantando sempre aquela aquela semente transgênica. É por esse motivo que os agricultores defendem de maneira muito forte essas suas variedades: pra manter as lembranças dos seus antepassados, mas também pra manter toda essa produção diversificada de alimentos", finaliza.
Para ter acesso a esses alimentos, Emanoel indica buscar feiras agroecológicas, quitandas, cestas agroecológicas e, sobretudo, comprar diretamente das mãos dos agricultores. Assim, você terá acesso a um produto saudável, com preço de mercado local e ainda ajuda a fortalecer a agricultura familiar e camponesa.
Ouça a versão em áudio deste programa no início da matéria.
Edição: Vanessa Gonzaga