Não há nada de espontâneo ou voluntário nestas manifestações da extrema-direita
Sento para escrever esta coluna do Brasil de Fato após exatos 7 dias de nossa grande vitória eleitoral e a sensação segue ainda muito parecida: um grande alívio percorre meus pensamentos. E provavelmente, assim espero, esta sensação ainda deve perdurar por um bom tempo. Afinal, cá estamos, 4 anos depois (ou seriam 6?), sentindo na pele aquele sentimento bom que temos ao nos livrarmos de um grande problema em nossas vidas.
Entretanto, como quase todo grande problema, sua superação concreta exigirá muitos esforços e, no meio destes, é importante que a gente possa organizar o entendimento do cenário para uma atuação mais qualificada.
É preciso compreender a natureza do momento no qual estamos inseridos e a correlação de forças presentes atualmente na sociedade brasileira. Podemos até ter visões diversas acerca do grau de importância que teve a aliança de Lula e do PT com setores do chamado centro político e até mesmo da centro-direita. Isso, entretanto, não deve nos impedir de compreender o difícil contexto no qual estamos inseridos.
Apesar da derrota, não dá para ignorar o avanço e a força acumulada por setores identificados com a extrema-direita em nosso país. É uma força que, a despeito da derrota nas urnas, teve muitos votos e possui suporte financeiro importante. Basta olhar para a centralidade e estrutura presente nos atos fechando rodovias e posicionados à frente dos quartéis destes últimos dias. Não nos enganemos: não há nada de espontâneo ou voluntário nestas manifestações, volto a afirmar, da extrema-direita no Brasil.
Também é possível vislumbrar que seus apoiadores, no fundo, sabem que não impedirão a posse de Lula, tampouco obterão a almejada “intervenção federal”. Não que não queiram, mas falta força e apoio internacional para isso. No fundo, a ideia é manter uma militância pequena, mas radical, animada. Além disso, o objetivo também demonstrar certa força e que vão agir para desestabilizar o próximo governo a qualquer custo. Isso tá bem óbvio.
Por outro lado, é importante apontar também que o cenário que eles enfrentarão não é nada simples: Bolsonaro perde capital político de uma maneira acelerada que imaginávamos. Outras pretensas lideranças deste setor mais radicalizado da extrema-direita já tentam aparecer no cenário, tentando se descolar do Bolsonaro, como é o caso dos agora senadores Mourão e Sérgio Moro. Mas vale lembrar que lideranças não se constroem de uma hora para a outra, ainda mais diante de figuras tão pouco carismáticas, como os nomes citados.
No fim das contas, e vou parando por aqui por conta do espaço, enfrentaremos um setor de oposição de direita radical pronto para sabotar o nosso governo em todos os momentos. Precisaremos de muita unidade, para atuação conjunta, e paciência para compreender os limites que este período de reconstrução do país nos impõe. Que sigamos aliviados pela vitória, mas já atentos e nos preparando para tantas batalhas que enfrentaremos.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga