Até onde a educomunicação pode chegar? Essa prática que, pelo nome, fala por si só, faz a educação e a comunicação andarem lado a lado em Juazeiro, no Vale do São Francisco, onde o Carrapicho Virtual conecta mais de 60 povoados na luta pelo acesso à comunicação democrática. Assista:
O coletivo nasceu em 2010 no Vale do Salitre, na zona rural da cidade, com o nome "Carrapicho" através de uma pesquisa da fundadora Érica Daiane, que tinha o sonho de transformar a vida de inúmeros jovens que não tinham acesso à comunicação na localidade. “Eu trouxe uma proposta de oficinas de comunicação para uma comunidade no Salitre - que nem é a minha de origem, mas uma comunidade que eu sempre fui próxima, que minha mãe atuava lá na associação, que era a comunidade de Alfavaca. Trouxe a proposta das oficinas para construir um informativo”, relembra Érica.
De Carrapicho a Carrapicho Virtual
Após as primeiras oficinas, o Carrapicho se tornou um jornal comunitário, em preto e branco, que buscava pautar as comunidades do Salitre com um olhar diferente do que era mostrado na mídia hegemônica. Mas em 2016, o coletivo notou que a juventude estava mais conectada à internet e às redes sociais. Assim, foi alterada a forma de atuação e o coletivo passou a se chamar "Carrapicho Virtual", com o mesmo objetivo, mas agora utilizando ferramentas digitais e outros formatos de comunicação.
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“A gente publicava sobre as virtudes, as belezas que a gente tem no sertão, não aquela imagem só de seca, aquela imagem de animais mortos, muito pelo contrário. Então o Carrapicho surge como essa tentativa da gente discutir comunicação, a qualidade de internet no campo, essas ideias e estereótipos que a gente vê na mídia convencional que não é realidade”, afirma Manuela Conceição, colaboradora do projeto.
Projeto Conect-se
Já em 2022, com o Projeto “Conect-se”, o Carrapicho Virtual realizou um mapeamento no Vale do Salitre a fim de sistematizar dados acerca do acesso à comunicação nos mais de 60 povoados pertencentes à Juazeiro, na Bahia.
Segundo Manuela, para levantar as informações, os educomunicadores percorreram comunidades e escolas aplicando questionários direcionados para jovens de 12 a 25 anos. “Então, o mapeamento foi em torno dessas questões para a gente questionar a qualidade da internet no campo, como essa juventude está se conectando, quanto paga, porque as famílias recebem até um salário-mínimo e as pessoas estão pagando caro por internet, mas a qualidade é ruim. Então, a juventude precisa estudar, precisa interagir e consumir conteúdos que precisam falar sobre essa juventude do campo, o que não está acontecendo, esse foi um dos resultados também. A juventude está consumindo muito, mas não está produzindo sobre a sua realidade”, destaca Manuela.
Além do mapeamento, o Projeto Conecte-se incluiu oficinas sobre comunicação e direitos digitais nos povoados. O projeto é fruto da parceria do Carrapicho Virtual e Instituto Regional da Pequena Agropecuária (IRPAA).
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Edição: Vanessa Gonzaga