o grande desafio na área da saúde pode ser resumido em uma palavra: acesso
Não é segredo para ninguém que o Brasil precisa enfrentar uma grande reconstrução pela frente. Inclusive, Bolsonaro e seu governo nunca esconderam suas reais intenções ao longo destes 4 últimos anos. Há uma passagem, em março de 2019, que o ainda presidente da República foi taxativo durante um jantar em Washington: "Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa". E de fato é essa a realidade com a qual nos deparamos agora.
Na saúde não é nada diferente. Pelo contrário, pode-se dizer que o desafio ganha contornos ainda maiores, afinal, além de toda a desconstrução desde o impeachment, temos, naturalmente, todo um conjunto de problemas e limites crônicos do nosso sistema de saúde, sobre os quais precisaremos agir.
Pretendo retornar a este tema em outras colunas daqui em diante, detalhando mais aspectos específicos, mas dá para cravar que, de uma maneira em geral, o grande desafio na área da saúde pode ser resumido em uma palavra: acesso. As pessoas precisam voltar a ter mais e melhores caminhos de verdadeiro acesso aos serviços de saúde em nosso país. É muito perceptível o quanto houve precarização neste componente nos últimos anos.
E por acesso, me refiro a quase tudo: desde a destruição do programa Farmácia Popular, que tanto ampliou a disponibilidade de medicamentos essenciais para a população, passando pelo acesso a atendimentos médicos e de saúde em geral, e chegando a mais exames e consultas com subespecialistas, problemas crônicos em nosso sistema de saúde.
O acesso a atendimentos em saúde continua como um grande desafio que se agrava com a péssima distribuição de profissionais em território nacional. Só para citar alguns números, a Demografia Médica de 2020 explicita que a presença relativa de médicos nas capitais chega a ser quase 3,7 vezes maior que a de médicos no interior. E este problema, deixo evidente, é de responsabilidade do estado e de políticas públicas. Enquanto o Mais Médicos, outro programa de sucesso do governo Dilma, foi capaz de minimizar este problema de maneira significativa, o Médicos pelo Brasil, programa criado por Bolsonaro, se mostrou até agora absolutamente insuficiente diante da necessidade a ser enfrentada.
Por fim, é preciso reforçar também que nós, os profissionais de saúde, precisamos também de cuidados. O governo federal precisa ter um olhar cuidadoso para todos os processos que envolvem contratação e fixação de profissionais nos mais diversos serviços e regiões de nosso país. Somos nós a força motriz do Sistema Único de Saúde e a sua reconstrução passa necessariamente pela valorização de nossos trabalhadores e de nossas trabalhadoras do SUS.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Elen Carvalho