É chegada a hora de recolher os cacos, levantar a cabeça e voltar a sonhar
O investimento em ciência é a maior conquista que uma nação pode almejar em termos de sua soberania. Exemplos são diversos por todos os países que conseguiram melhorar a qualidade de vida de seu povo fazendo investimentos em educação e na produção de conhecimento.
O Brasil, infelizmente, tomou a contramão desta via e seguiu (enquanto pôde à toda velocidade) mergulhando no obscurantismo científico, negacionismo e demais mazelas das bolhas das redes sociais. Cabe aqui ressaltar que a escassez do financiamento para a pesquisa no Brasil conduziu a ciência a sequelas tangíveis e intangíveis que serão percebidas por anos.
Os efeitos mais visíveis foram a degradação do parque tecnológico - com o tempo, as máquinas quebram, do que segue o sucateamento pela inexistência de recursos para a manutenção. Se isso não bastasse, há ainda o fator psicológico que é reforçado pela falta de esperança dos estudantes para o futuro da ciência no país, o que os leva à evasão na pós-graduação e saída em massa do país para os egressos.
Essa janela “negacionista” que vivenciamos já gerou uma lacuna na geração futura de pesquisadores, o que deve ser ainda mais agravado pelos efeitos de longa duração da covid-19, que mudou inevitavelmente o ritmo de funcionamento dos laboratórios de pesquisa.
Mesmo com o retorno de investimento, a retomada da pesquisa nem sempre se dá no ritmo que desejamos, pois não há como retomar os laboratórios do ponto em que estavam anos atrás. Sem investimentos, vários passos atrás foram dados e a recuperação requer muito mais energia e investimento.
Além disso, o tão conhecido “estado-da-arte” não perdoa os devaneios tropicais. A ciência avança como uma grande onda, de forma que surfam apenas as nações que já se prepararam para tal. O Brasil precisa se estruturar para as próximas ondas que estão por vir. E por esta analogia fica claro que ciência não pode ser plano de governo, mas sim uma marca do Estado, que deve buscar o melhor para o seu povo via educação.
No entanto, por mais difícil que seja o caminho, é chegada a hora de recolher os cacos, levantar a cabeça e voltar a sonhar. A ciência está em modo on de novo. Que possamos atingir soluções que melhorem a vida das pessoas, formar estudantes, mudar histórias. Afinal esta é a missão da educação e da ciência: construir um novo mundo pela produção de conhecimento. Já aprendemos que o ódio não constrói nada. É hora de sonhar e realizar.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga