Pernambuco

SEGURANÇA PÚBLICA

Moradores do Sítio Histórico de Olinda sofrem com violência e cobram ação do poder público

Assaltos e furtos se tornaram recorrentes na região conhecida pelo Carnaval e declarada Patrimônio Mundial Cultural

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Bairro que é Patrimônio Mundial Cultura sofre com descaso do poder público. - Prefeitura Municipal de Olinda

Quem já passou um carnaval ou prévias em Olinda sabe as belezas que cada rua, ladeira ou praça reserva. Reconhecido como Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco, o Sítio Histórico da cidade abriga arquitetura e outros elementos que fazem do local um dos mais importantes museus a céu aberto do estado. Contudo, a região vem ganhando destaque nos últimos meses pelos casos de assaltos, furtos e vandalismo. Em outubro deste ano, os moradores, cansados da situação, colocaram panos pretos nas janelas como forma de protesto.

Leia: Iniciativas de comunicação nas periferias e interiores se propõem a contar outras histórias

A jornalista Izabel Melo nasceu e cresceu em Olinda. Ela está na Cidade Alta há mais de um ano e teve o portão de alumínio da sua casa levado durante a madrugada. “O furto aconteceu em 3 etapas. Eles foram uma vez e empenaram o portão. Da terceira vez, conseguiram levar uma parte”. Na ocasião, a moradora ligou para a Companhia Independente de Apoio ao Turista (CiaTur), braço da Polícia Militar. “Eles foram. Demoraram, mas foram”. 


Em outubro deste ano, os moradores, cansados da situação, colocaram panos pretos nas janelas como forma de protesto / Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

A explicação dada pela PM a Izabel em relação às solicitações de mais patrulhas é de que o efetivo é pequeno. “Eles só tem dois carros para patrulhar o Sítio Histórico inteiro. É absurdo. Eles também explicaram que o Estado não chama os aprovados no concurso e que tem policiais se aposentando, o que diminui ainda mais o efetivo”. 

Os casos de furtos não são recentes, de acordo com Izabel. “Antes percebia esses casos mais no final do ano. Agora é o ano todo. Tem vários relatos de vizinhos que tiveram lâmpadas, hidrômetros, janelas e grades levados. As tampas de bueiro antigas, que são feitas de ferro, também estão sendo roubadas. No dia que os policiais estavam na minha casa, eles receberam um chamado para um roubo desse tipo e tiveram que deixar minha ocorrência”, compartilha. 


Parte do portão da casa da jornalista Izabel que foi levado durante uma madrugada. / Cortesia

Apesar da rua em que mora ter câmera de segurança, como forma de tentar se proteger, a olindense comprou câmeras para instalar na entrada de casa e já colocou dois adesivos nos quais está escrito “Você está sendo filmado”. “Deixamos de sair de casa com celular. Se vamos para algum lugar perto, voltamos de Uber ou juntamos um grupo, principalmente quando são só mulheres”, explica. 

Olinda abandonada

No bairro do Bonfim há pouco mais de um ano, Marcelle Carvalho também não tem se sentido tão segura como antes. A casa onde mora é dos tios, que residiram lá por toda a vida e sempre relataram ser um local seguro. “Comparam, inclusive, a morar no interior. Mas recentemente vejo várias queixas em relação à segurança. Não faz muito tempo, entraram na casa da minha vizinha durante o dia e pegaram o celular que estava na mesa. A gente tinha o costume de deixar as portas abertas, porque era seguro”, conta. 

Leia: Em Olinda, Centro de Cultura Luiz Freire completa 50 anos realizando ações de acesso à cultura

Alguns carros que ficam na rua, já que muitas casas não têm garagem, agora estão sendo arrombados, de acordo com Marcelle. “Ainda me sinto mais segura do que morando em Recife, mas não dá pra ignorar os relatos. Então a atenção agora é redobrada quando chego e saio de casa”, observa a moradora.

Tentativa de diálogo

De acordo com Izabel, o grupo de moradores que fez o protesto em outubro solicitou uma audiência pública com o prefeito Lupércio (Solidariedade), mas ainda não foi respondido. “Além da insegurança, a cidade está suja, abandonada. Tem fossa aberta, cano estourado despejando água limpa, buracos nas ruas”, desabafa Izabel. 

Questionada sobre os casos relatados, a Prefeitura de Olinda respondeu por nota que a segurança pública do Sítio Histórico é responsabilidade do Estado. “No entanto, o município destaca que mantém um constante diálogo com as forças de segurança. A gestão da cidade, por meio da Guarda Municipal, realiza um sistema de patrulhamento preventivo, dispondo de guarnição, com roteiro de rondas previamente definido. A Guarda Municipal ressalta que, durante as abordagens a suspeitos, são realizadas revistas pessoais e caso sejam encontrados objetos de possível prática delituosa, o indivíduo é encaminhado à Polícia Civil, a quem cabe ações de investigação”, afirma.

Preparação para o Carnaval

Em relação a medidas de segurança voltadas para esse período de prévias e tendo em vista o Carnaval, a nota afirma que “em um monitoramento conjunto, uma comissão do município, envolvendo diversas secretarias e órgãos, tem promovido avaliações semanais, tendo o encontro mais recente sido realizado semanalmente. O trabalho se intensifica, sobretudo, neste período de retorno das festividades ligadas ao Carnaval, como ensaios de blocos e prévias de desfiles de agremiações. Vale destacar, que a gestão da cidade já está em alinhamento para disponibilizar um espaço para que seja montada uma Delegacia Móvel, bem próxima aos locais de maior concentração de foliões, ampliando a segurança para moradores e visitantes”.

A Polícia Civil de Pernambuco, em reportagem feita pelo JC, afirmou que os crimes violentos patrimoniais caíram 18% em 2022 e que essa redução também aconteceu no Sítio Histórico. Até o fechamento desta reportagem, a Polícia Civil não respondeu ao pedido de novas informações sobre a região. 

Diante de tudo isso, a jornalista compartilha que o sentimento é de tristeza. “Porque eu, como olindense, toda vida criada na cidade, sempre tive a sensação de segurança. Eu vinha de Recife e quando entrava em Olinda, baixava os vidros do carro, por exemplo. Agora não me sinto mais segura. Quando levaram parte do portão da minha casa, cheguei e estava a casa aberta. Então veio, além da sensação de tristeza, também a de impotência”. 

Leia também: Marcas de moda africana no Brasil são legado da influência negra na cultura brasileira

Edição: Vanessa Gonzaga