"Foi preciso muito ego pra chegar até aqui, porque nascer preta no Brasil é lutar contra todos os estigmas que minam a nossa autoestima". É com essa frase que a cantora e poeta recifense Bione começou a apresentar o seu primeiro álbum visual nas redes sociais lançado no início deste mês, que tem como nome "EGO".
Ainda na escola, apenas com 11 anos, Bione começou a escrever e foi aos poucos construindo uma trajetória artística que coloca no centro do debate as lutas feministas e antirracistas por meio da cena rap e da poesia. Hoje, é uma referência na cena recifense e nacional.
Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, Bione fala sobre o lançamento inédito na sua carreira e a forma como as diversas linguagens artísticas dialogam em seu trabalho, também conta como chegou a arte chegou na sua vida. Confira:
Brasil de Fato Pernambuco: A sua trajetória na escrita e por um viés mais artístico não começou de hoje, apesar de você ser jovem. Como começou esse teu caminho e em que momento você está hoje?
Bione: Hoje eu tenho 19 anos e eu comecei a escrever, a flertar com a escrita aos 11, ainda na escola. Eu era a aluna que escrevia na sala, a menina que fazia as poesias e fiquei sendo conhecida no meu meio de amizades e os mais velhos queriam ter acesso a essa menina que escrevia, que fazia rima. E aí eu comecei com 11 anos, com 13 fui amadurecendo mais as rimas e fui entendendo melhor o meu lugar na sociedade aos 14 anos e fui fazendo mais essas rimas de protesto mesmo.
Como uma menina preta, que vem da favela e que na época estudava em uma escola particular, que é um espaço diferente de uma escola pública, por exemplo, que as pessoas da minha rua frequentavam e eu quis trazer essas coisas para as minhas rimas. E hoje, com 19 anos, depois de ter passado pelo Slam, depois de ter lançado a minha primeira mixtape que se chama “Sai da Frente”, eu estou construindo um álbum para de lançamento da minha carreira que se chama “EGO”.
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BdF PE: Do que o seu álbum EGO fala? Como foi esse processo criativo?
Bione: É importante dizer que EGO é mais do que um álbum que a gente vai soltar. Eu enxergo o EGO como uma oportunidade de mostrar o que artistas como eu, tendo a equipe que eu tenho, conseguem fazer tendo estrutura.
Já que em 2020 a gente conseguiu o prêmio do Pré-AMP, que é uma mostra competitiva daqui do estado de Pernambuco e esse prêmio viabilizou isso para a gente que foi 120 horas em um estúdio profissional. Se não fosse isso, eu tenho certeza que a gente ia demorar bem mais para conseguir construir esse álbum, que já está sendo construído há dois anos para poder sair. Eu quis trazer essa estética do poder, do empoderamento preto, do quanto a gente consegue chegar longe com oportunidade, a viabilização das coisas e a abertura dos caminhos para a gente conseguir passar.
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BdF PE: Em 2019 você lançou um livro de poesias, o “Furtiva”. Como artista, você transita em diversas linguagens. Como você faz o diálogo entre elas?
Bione: Além de ser, eu me sinto muito jovem. Então, eu não gosto de me limitar e Furtiva veio nessa época com a ideia de falar menos sobre o que eu já falava muito sobre essa resistência, esse poder que a gente precisava ter. E Furtiva está nessa leveza das poesias mais românticas, menos rimas, mostrando Bione por outras perspectivas, que ainda podem ser mostradas por várias outras na frente. Eu costumo não me limitar, eu acho que o início para você ser um artista é saber que você pode ser multiartista também.
BdF PE: Seu trabalho faz parte de toda uma cena rapper, jovem e do povo negro. Quais são as suas principais referências artísticas?
Bione: Embora no início da minha carreira eu tenha me referenciado muito por homens da cena do rap porque é o que até hoje está em evidência, mas está mudando com as minas que hoje eu me inspiro, eu venho com o EGO com uma inspiração ainda maior. Me inspiro em Tasha e Traice, Nina, Júlia Costa, Flora Matos. Daqui do estado de Pernambuco tem Margot, Adelaide, DJ Carla Guino… Muitas referências.
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BdF PE: Como as pessoas podem fazer para ouvir seu álbum EGO?
Bione: Eu trabalho com a Aqualtunes Produções, é importante frisar. É uma produtora formada por pretas daqui de Pernambuco que potencializam demais o meu trabalho, quero agradecer a Aqualtunes Produções por isso. Por esse lançamento maravilhoso, por essas 10 visualizera. Eu sou “Bione” em todas as redes e o álbum está em todas as plataformas digitais. Então, passe a me acompanhar e ouve esse álbum
EGO está vindo aí prometendo coisa muito boa vinda daqui do Nordeste e de Pernambuco, da rap. Eu sou a primeira mulher de Pernambuco a lançar um visual e isso para mim é uma honra. Sou a primeira de muitas, quero que muitas outras assim como eu que tenho esse sonho trabalhem o seu ego e comecem se desenvolver a partir disso e você também trabalhe o seu ego porque você consegue o que você pode.
Edição: Vanessa Gonzaga