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Ciência são pessoas

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A formação de um estudante que segue da iniciação científica ao mestrado e doutorado é também uma capacitação que leva quase 10 anos para acontecer
A formação de um estudante que segue da iniciação científica ao mestrado e doutorado é também uma capacitação que leva quase 10 anos para acontecer - Giorgia Prates
É tarefa de fundamental importância para o novo governo aumentar o número e valor das bolsas de pós

Em meio ao pesadelo de mais um corte bilionário em nossa educação, serve de conforto saber que 2022 está acabando e ainda nos é dado o direito de sonhar. O Brasil precisa voltar seus olhos para a ciência e em especial para aqueles que são a sua sustentação e futuro: os pós-graduandos. São eles que estão dentro dos laboratórios fazendo pesquisa (mesmo sem perspectivas), recebendo pouco (bolsa de mestrado de 1500 reais e de doutorado de 2200 reais) e sendo cobrados como se tudo estivesse no melhor dos mundos. 

Esta pressão evidentemente causa danos psicológicos e é um convite à evasão. Sempre é importante lembrar que antes de “alunos de pós-graduação” estes são profissionais graduados que interessam ao mercado. Sem muito esforço, ele (o mercado) pode oferecer melhores condições para capturar todos os nossos pós-graduandos. 

E uma vez fora dos laboratórios, não é tão imediata a substituição por outro candidato. Vale lembrar que a formação de um estudante que segue da iniciação científica ao mestrado e doutorado é também uma capacitação que leva quase 10 anos para acontecer. Quando um grupo de pesquisa perde um pós-graduando no meio de sua formação, perde também toda uma expectativa de anos de formação em linhas de pesquisa que tendem a desaparecer por falta de capital humano para conduzi-las.

Desta forma, é tarefa de fundamental importância para o novo governo aumentar o número e o valor das bolsas de pós-graduação, para que a luta desigual que os laboratórios travam com o mercado seja minimamente equilibrada por perspectivas de um futuro de um país que valorize sua ciência. 

Do outro lado, dentro dos laboratórios, cabe a todos cuidar da saúde mental de quem faz pesquisa. Não adianta manter a pressão por índices em uma situação de caos em que vivemos. Isso faz dos laboratórios um local de pressão e sufocamento ao invés de um nascedouro de conhecimento. É papel de todos os pesquisadores terem a sensibilidade de reconhecer as sequelas da COVID e de um período de no mínimo seis anos em que nossa ciência deixou de ser apoiada para figurar como inimiga. A reconstrução será lenta e muito trabalhosa. 

Dessa forma, para começar tudo, precisamos focar nas pessoas. Afinal, como dizia o prêmio de química de 2000 Alan MacdDiarmid “Science is people”. Afinal, de que interessa um laboratório repleto de máquinas sem as pessoas para produzir conhecimento? Primeiro as pessoas, depois o resto.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga