Uma das coisas mais significativas do nosso país é a cultura popular. Em cada região, as manifestações culturais dão vida a tradições ancestrais que contam e registram a nossa história. O mês de dezembro no Nordeste é marcado por diversas expressões artísticas que representam o auto de Natal: peças teatrais que contam, de forma ensaiada, o nascimento de Jesus. Assista:
O Guerreiro, por exemplo, é uma manifestação cultural alagoana que tem como objetivo anunciar a chegada do Messias, o menino Jesus. Em um verdadeiro espetáculo de cores, cantigas e figurinos, é possível identificar a riqueza cultural do estado nos detalhes das apresentações.
O Guerreiro é um folguedo genuinamente alagoano que surgiu na primeira metade do século XX como resultado de adaptações feitas na junção do reisado, a chegança e os pastoris.
Leia: Brincantes de tradição junina têm sido presos e têm bacamartes apreendidos em Pernambuco
O nome para esse folguedo vem da “guerra” disputada nas apresentações. Com espadas em mãos, os guerreiros da Nação dos Caboclos lutam com a Nação dos Índios Perí para a conquista do arraial.
Para João Lemos, diretor do Fórum de Cultura Popular e do artesanato alagoano e brincante do guerreiro, a tradição folclórica é um símbolo da cultura alagoana.
“O guerreiro é aquele brinquedo que maior expressa o sentimento de pertencimento do povo alagoano. É o maior símbolo de representatividade popular desde as classes mais altas abastadas, até as classes mais simples. O guerreiro é o maior vulto que une as massas e representa com todo vigor, com todo esplendor, a cultura popular de alagoas”, afirma João.
Leia: Com incentivos estaduais, famílias assentadas ampliam e diversificam produção agroecológica
Uma característica marcante nas apresentações é a diversidade das vestimentas. As cores marcantes e coloridas nos trajes passam por brilhos como espelhos, enfeites de árvores de natal, fitas diversas e coroas. Para contar a história, cerca de trinta personagens participam da apresentação.
Alguns deles associados a figuras natalinas, como a estrela de ouro, os reis, e outros que compõem os jogos, as canções e os entremeios, como a lira, o caboclo, o mestre e o contramestre.
As figuras chamam atenção pelo uso dos gigantes chapéus em formatos de igrejas, como explica João. “Ele quer engrandecer a religião que professa sua crença em Jesus Cristo, nesse caso a Igreja Católica. E cada chapéu daquele tem um significado. O chapéu de mestre e contramestre são os que representam as catedrais, as igrejas. Quem administra a catedral é o bispo, então no guerreiro quem pode usar o chapéu com a catedral é o mestre que a maior liderança do grupo”, explica.
Leia: Reisado se mantém firme no interior da Bahia
O auto acontece sempre no período do Natal e vai até o Dia de Reis, em janeiro, resultando em uma verdadeira e rica celebração natalina, que já recebeu o título de patrimônio imaterial de Alagoas em 2019.
Desde fevereiro de 2022, o Fórum de Cultura Popular e do artesanato alagoano tem recolhido assinaturas online para o pedido de registro do guerreiro como Patrimônio Cultural do estado, o que pode fortalecer o potencial de atração turística e valorizar a cultura do estado.
Edição: Vanessa Gonzaga