Pernambuco

direito à moradia

Ocupação Menino Miguel reivindica moradia popular no centro do Recife

Abandonado há mais de 20 anos, prédio acumula dívida milionária em IPTU, de acordo com o MLB e o MLRT

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Faltam mais de 74 mil unidades habitacionais para a população morar na capital pernambucana. - MLB

Na madrugada desta segunda-feira (05), 50 famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e do Movimento de Luta e Resistência pelo Teto (MLRT) ocuparam mais um imóvel abandonado no centro do Recife. Trata-se do prédio onde funcionou o antigo Hotel Nassau, no bairro de Santo Antônio. Ele está sem uso há mais de 20 anos, já que desde 1999 não paga o IPTU, somando mais de 3,2 milhões de reais em dívidas, de acordo com o movimento. 

“A Ocupação Menino Miguel pauta o déficit habitacional que a cada dia aumenta no nosso país e no nosso estado. E aumenta em uma situação de desmonte das políticas públicas em relação à produção social de moradia”, afirma Kleber Santos, integrante da coordenação do MLB. 

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Em estudo realizado pelos movimentos sociais e sociedade civil em 2018, esse prédio já havia sido indicado como um dos 42 imóveis no bairro de Santo Antônio que estão sem cumprir sua função social, como determina a Constituição Federal e o Plano Diretor de Recife. Nesse período, o antigo hotel também foi reconhecido pelo Plano Diretor de 2021 como um dos imóveis prioritários para realização de estudos para reconhecimento como Imóvel Especial de Interesse Social, por parte do poder público.

Esses equipamentos são fundamentais ao enfrentamento da condição de mais de 74 mil unidades de déficit habitacional, que coloca Recife como a capital brasileira da desigualdade, afirmam os movimentos.


As 50 famílias organizaram espaço para creche e cozinha coletiva já nos primeiros momentos da ocupação. / MLB

De acordo com o coordenador do MLB, a ocupação é “uma maneira de fazer essa denúncia e de lutar para que o povo pobre e trabalhador saia desse déficit habitacional e que o centro do Recife sirva também para o povo morar. A gente vê a questão do projeto de reorganização do centro anunciado pela prefeitura faz mais de um ano que fala dessa questão de moradia, mas não fala de forma clara e não saiu do papel durante um ano. Nós achamos que é principalmente para favorecer a especulação imobiliária. Então essa ocupação é para fazer essa denúncia e nós queremos esse prédio para moradia”, declara. 

Organização da ocupação

Já nos primeiros momentos da ocupação, as famílias se organizaram para dividir os espaços e as tarefas de cada um, para garantir uma creche para as crianças e uma cozinha coletiva para o preparo das refeições, garantindo que todos possam se alimentar.

O nome da ocupação é em homenagem ao menino Miguel, “vítima também da acentuação do processo de expulsão branca que tem nas duas torres um marco das novas casas grandes que se erguem sob o centro do Recife”, observam os movimentos. 

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A Ocupação Menino Miguel precisa de alimentos, materiais de limpeza, itens de higiene pessoal, colchões e roupas. As doações podem ser feitas no local da ocupação, Rua Larga do Rosário, 253, Santo Antônio, Recife. Nas redes sociais do MLB é possível ter mais informações. 

Edição: Vanessa Gonzaga