No dia 30 de outubro deste ano, o Brasil elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente da República pela terceira vez. Desde então, a expectativa para o momento da posse do presidente eleito está posta para brasileiras e brasileiros que depositaram seus votos e esperanças pela reconstrução do país no petista, que tem origem pernambucana.
No segundo turno das eleições 2022, Lula teve 66,9% dos votos válidos em Pernambuco contra 33,7% de Jair Bolsonaro (PL), e só perdeu para o atual presidente em um município do estado, Santa Cruz do Capibaribe, localizado no Agreste. Apesar de o Nordeste ser reduto político do petista, os números gerais do pleito mostram que o candidato do PL avançou na região, enquanto Lula também conquistou votos na região Sul do país, que tem preferência bolsonarista.
Passada as eleições, é fato que esses números ainda devem reverberar politicamente, principalmente por meio da polarização aprofundada neste período. Mas de vários cantos do país pessoas, movimentos e organizações se mobilizam para a cerimônia de posse, que simboliza um recomeço nacional.
Em Pernambuco, não é diferente, saem de casa, de ônibus ou de avião, afirmando a urgência do combate à fome. Do Recife a Brasília dá 2.131 km de distância, o trajeto de ônibus dura cerca de dois dias e de avião são 2h35 em média. O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou três pernambucanos que estarão em Brasília para acompanhar a posse do presidente eleito Lula (PT). Conheça:
Da periferia recifense rumo à BSB
“A história de todo o povo de Brasília Teimosa com Lula começa em 2003 quando o prefeito João Paulo, junto com ele, fala sobre urbanizar o bairro”, conta Luan Alcântara, de 23 anos, morador do bairro localizado na Zona Sul do Recife. Ele faz parte da Brigada Dom Hélder Câmara do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se organiza na Região Metropolitana do estado. Uma das principais tarefas de Luan é organizar o Maracatu da Resistência, que ensaia semanalmente no Armazém do Campo do Recife, localizado no centro da capital pernambucana.
Luan embarcou em um ônibus do movimento na madrugada da última quarta-feira (28) rumo a Brasília, junto a diversos outros militantes Sem Terra de Pernambuco. A posse de Lula demarca o ápice de um momento histórico que ele viveu intensamente na campanha de rua durante as eleições deste ano. Quando perguntado sobre o significado da cerimônia, ele acredita que representa “uma das tantas derrotas necessárias na luta contra o fascismo”.
“Na esperança de dias melhores”, ele explica que o combate à fome é urgente nas periferias brasileiras, mas lembra da importância da cultura. “Está tudo tão caro que há muitos casos em que você escolhe se almoça, toma café ou janta. Estamos falando da periferia e aqui tem muita gente na mesma casa, muitas vezes as mães deixam de comer para dar aos filhos. Além disso, minha expectativa é que volte o fortalecimento da cultura periférica, que vem do hip hop, o brega, da arte periférica em si”.
Muito presente nas demandas das juventudes, Luan reivindica também formação profissional. “Quero que os jovens e as mães solo sejam protagonistas das suas vidas. Tenham cursos de formação, técnicos e profissionalizantes. E é importante que esses cursos possam refletir na realidade da periferia”. Luan deve chegar em Brasília no fim desta quinta-feira (29).
Trajetória de luta ao lado de Lula
A administradora aposentada Tércia Lemos, de 60 anos, também faz parte da Brigada Dom Hélder Câmara. É baiana e mora no Recife há 20 anos, começou a militância ainda na sua época de estudante e é filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) há 35 anos. Vai a Brasília de avião e deve chegar na manhã do próximo sábado (31) junto ao seu companheiro, Ricardo Pacheco.
A sua participação na brigada marca a militância atual que ela também desenvolve no Pedal Lula Livre, uma iniciativa política e cicloativista da sociedade civil junto ao PT, que começou no Recife na época da prisão de Lula, em decorrência do uso político da Operação Lava-Jato da Polícia Federal.
Diante desse histórico, ela afirma que não há outra possibilidade se não a de acompanhar a posse de Lula de perto. “Falar de Lula é muito bonito, é uma vida toda de luta. Ele é um sindicalista que sempre esteve do lado certo da história. Para mim como militante do PT, é sempre muito prazeroso estar com Lula. Quando ele ganhou pela terceira vez, como pensar em não ir à posse?”. A ida foi organizada na correria, mas está dando certo. O Pedal Lula Livre, que se tornou comitê de luta durante os pleitos eleitorais, estará representado em Brasília por cerca de 30 pessoas. Algumas vão de carro e outras de ônibus ou avião.
Perguntada sobre as lembranças que ela tem dos mandatos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva à frente da presidência, Tércia conta que tem “memórias maravilhosas”. “A minha memória mais forte entre elas é o Programa Fome Zero. Quando Lula era presidente, eu fui convidada para instalar a ouvidoria do Metrô do Recife e eu gerenciava também a área de articulação externa. Nesse momento, implementamos a atuação do programa no metrô”, conta Tércia sobre quando trabalhava no metrô da capital pernambucana.
Para ela, um marco desse momento era “a participação das comunidades” no diálogo com o Governo Federal. Tércia lembra da importância do programa federal também pensando no contexto atual de fome em que o Brasil se encontra. Para além das políticas de segurança alimentar, a expectativa dela para o novo governo Lula está focada nas políticas voltadas para as mulheres brasileiras.
Por um INCRA que olhe para a agricultura familiar
A relação de apoio do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ao presidente eleito Lula (PT) é de longa data e ficou ainda mais evidente nas eleições deste ano, assim como os acenos do petista para a renovação de medidas que fortaleçam o direito à terra e a agricultura familiar. Do Assentamento Lula Livre 13, localizado no município de Moreno (PE), o agricultor e militante do MST Wellington Ribeiro de Andrade, de 42 anos, também embarcou no ônibus do movimento, na última quarta-feira (28) com destino a Brasília.
Ele atua com a distribuição dos produtos da Reforma Agrária produzidos pelo MST para as merendas das escolas da sua cidade. Wellington, mais conhecido como Léo, conta porque do acampamento em que mora e trabalha tem o nome do presidente eleito. “Colocamos na época em que Lula estava preso injustamente, foi uma forma de homenagear. A gente quis esclarecer para o nosso povo que estávamos junto com ele”. A ocupação das terras deste acampamento aconteceu em 2018, justamente no ano em que o petista foi preso.
Entre as expectativas de Léo para o novo governo, também está o fortalecimento das políticas de combate à fome e ele traz uma perspectiva de quem vem do campo e sabe a direta ligação entre a necessidade de reforma agrária e a produção alimentar. “Para a agricultura familiar, o que é de mais urgente é um Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que olhe mais para os agricultores e agricultoras familiares e faça mais investimentos nas nossas produções, para que a gente possa fazer com mais rapidez, qualidade e bom escoamento”, explica Wellington já a caminho de Brasília.
Edição: Glauco Faria