Em resposta aos atos terroristas que aconteceram nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (08) o Governo de Pernambuco, na figura de Raquel Lyra (PSDB), se posicionou contra os ataques golpistas e garantiu a desmobilização de acampamentos bolsonaristas no estado nesta segunda (09). No mesmo dia, movimentos populares também ocuparam as ruas em defesa da democracia.
Logo após os acontecimentos na capital federal, a governadora se manifestou em suas redes sociais, afirmando que as cenas de vandalismo vistas na capital brasileira foram inaceitáveis. Nesta segunda-feira (9), junto aos outros 26 governadores, Raquel Lyra viajou à Brasília para um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O momento reuniu, também, presidentes da Câmara e do Senado, membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e Procuradoria-Geral da República (PGR).
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Na ocasião, os governadores reafirmaram o compromisso dos 27 estados da Federação com a democracia, mesmo os governadores que são de partidos que fazem uma oposição histórica ao PT, como é o caso do PSDB de Lyra. Estiveram presentes também os governadores alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em sua visita ao Palácio do Planalto, Lyra pontou a tristeza de ver de perto a destruição do patrimônio público. “Viemos aqui ao STF para prestar a nossa solidariedade irrestrita aos poderes constituídos no Brasil, onde democracia, ordem e respeito aos poderes são valores inegociáveis”, declarou em vídeo.
Desmobilização de atos antidemocráticos
Ainda em Brasília, a governadora afirmou que Pernambuco agiria de maneira integral com as forças operacionais de Polícia. Na noite da segunda-feira (9), seguindo a decisão do STF de desmobilizar os atos antidemocráticos em todo o território nacional, iniciou-se a desarticulação dos acampamentos bolsonaristas em Pernambuco.
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No estado, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou dois pontos de concentração de bolsonaristas. Um em frente ao 71º Batalhão de Infantaria Motorizada, na BR-423, em Garanhuns, no Agreste; outro no Comando Militar do Nordeste (CMNE), na BR-232, no Recife.
Em Garanhuns, o grupo com 10 pessoas saiu de forma espontânea ainda pela manhã. A PRF informou que o local foi completamente desocupado às 15h.
No Recife, o prefeito João Campos (PSB) informou que disponibilizaria os serviços municipais à disposição da governadora ainda pela manhã. Contudo, o desmonte demorou mais. No início da noite, um caminhão de mudança chegou na BR-232. As barracas foram desmontadas e o local esvaziado.
Em nota ao Brasil de Fato Pernambuco, a gestão municipal reforçou o apoio na ação. “A Prefeitura do Recife informa que criou um grupo, formado por equipes de segurança, controle urbano, limpeza e procuradoria, para discutir a ação do município na desmobilização dos atos antidemocráticos na cidade, atendendo a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A Prefeitura também está em contato com outros órgãos, incluindo o Governo do Estado, para colocar estas equipes à disposição no que cabe ao município”.
Havia, também, um acampamento instalado em Petrolina, sertão pernambucano, no 72º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército . O local também foi desocupado.
Repercussão política em Pernambuco
No estado, a maior parte dos parlamentares que conquistaram vagas na Assembleia Legislativa (Alepe) condenaram os ataques e cobraram punição. No entanto, alguns escolheram o silêncio e uma minoria declarou apoio aos golpistas.
Dos 49 deputados estaduais eleitos em 2022, foram 15 os que nada comentaram sobre a situação até esta terça-feira (10). A grande maioria deles da bancada conservadora, que engloba os partidos PP, PL, UB, PSDB, REP e PATRI.
Uma minoria, formada pelo pastor Júnior Tércio (PP) e Alberto Feitosa (PL), publicou mensagens de apoio aos atos terroristas em suas redes sociais.
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A deputada federal Clarissa Tércio (PP), esposa do pastor Tércio, postou junto com ele vídeos com imagens dos manifestantes com a legenda "Brasília hoje, oremos pelo nosso Brasil". Após a publicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais, em que rejeita a violência nos atos, o casal também recuou e mudou o tom do posicionamento. Horas depois, a legenda foi trocada.
O coronel Alberto Feitosa (PL) também publicou imagens, nas quais chamou os golpistas de "patriotas", que estariam ocupando "pacificamente" o local. Repostou, ainda, publicação que afirmava que os responsáveis pela invasão aos três poderes eram "infiltrados", pois ações como as vistas em Brasília são "tática da esquerda".
Além destes, o deputado estadual Joel da Harpa (PL) publicou sua opinião através de uma entrevista a um blog. Ele afirmou que, apesar de ser contra vandalismos, não é possível generalizar a todos os bolsonaristas como terroristas. Ele qualificou como democrática as manifestações que ocorrem desde o resultado das eleições. "Temos muitos pais e mães de família que estavam pacificamente participando das manifestações. Aliás, há dias que a direita está na rua protestando de maneira ordeira e democrática", afirmou ao blog.
Também em suas redes sociais, a codeputada das Juntas, Carol Vergolino, publicou que medidas serão tomadas contra os parlamentares que apoiaram a tentativa do golpe.
A conduta de parlamentares bolsonaristas que apoiam estes atos é tão grave e incompatível com o decoro exigido no código de ética que pode inclusive acarretar na perda de mandato.
— Carol Vergolino (@carolvergolino) January 9, 2023
Outros parlamentares e figuras públicas repudiaram a conduta do casal Tércio, como foi o caso da deputada estadual Rosa Amorim (PT), a deputada estadual Dani Portela (PSOL) e o historiador e militante comunista, Jones Manoel.
O casal Clarissa Tércio e Júnior Tércio usam o nome de Deus e usam os símbolos nacionais para propagar o mal, o fascismo e o golpe de Estado contra a nossa democracia. Fingem de patriotas mas não passam de dois usurpadores. Devem também ser investigados e punidos.
— Rosa Amorim (@rosamst_) January 9, 2023
Verifiquei as redes e confirmei que o casal Tércio e o Cel Feitosa postaram a favor dos atos terroristas de ontem. Assim como a omissão de Ibaneis teve consequência com seu afastamento, ações de apoio por parte de parlamentares também devem ter punição. #semAnistiaPraGolpista
— Dani Portela (@daniportelapsol) January 9, 2023
A deputada estadual de Pernambuco, Clarissa Tércio, deu apoio público para os atos golpistas de hoje. A deputada deve ser representada no conselho de ética da Alepe. Tá querendo golpe de estado? Vaza da assembleia legislativa. pic.twitter.com/0CuWu3XEgc
— Jones Manoel - YouTube: Jones Manoel (@jonesmanoel_PE) January 9, 2023
Atos em defesa da democracia
A sociedade civil, movimentos populares, sindicatos e partidos também fizeram questão de demonstrar nas ruas a indignação com os atos golpistas em Brasília. Em capitais de todo o país milhares de pessoas fizeram parte dos atos em defesa da democracia. Na capital pernambucana, o ato aconteceu às 16h na Praça do Derby, zona central do Recife.
Os atos exigiram que os responsáveis pela invasão sejam punidos e que não haja anistia àqueles que incentivaram ataques ao Estado Democrático de Direito mesmo antes do ato criminoso, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Jaime Amorim, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco, afirmou ao Brasil de Fato Pernambuco que a ação foi uma resposta ao ataque e uma forma de fazer uma disputa ideológica nas ruas.
"A resposta tem que ser dada pelo governo, mas também pela sociedade como um todo, demonstrando nosso apoio ao governo e demonstrando também todo o nosso descontentamento e nosso repúdio ao que ocorreu. É importante que a gente volte às ruas. As ruas serão nosso campo de disputa das ideias”, declarou.
Mayara Menezes, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), comentou o protagonismo feminino nas ruas ontem. "Quando essas pessoas antidemocráticas ameaçam e tentam deslegitimar o resultado das urnas, eles estão querendo deslegitimar também a nossa vontade, a nossa voz, então é importante as mulheres tomarem todos os lugares, porque se não tem mulheres, as coisas não acontecem", defendeu.
O ato se encerrou na Rua da Aurora, no monumento Tortura Nunca Mais, com os manifestantes entoando palavras de ordem como "Sem anistia" e pedindo prisão aos criminosos.
Ocorreu, também, ato em defesa da democracia em Caruaru, no Agreste do estado. A concentração aconteceu na Câmara de Vereadores do município, às 17h.
Edição: Vanessa Gonzaga