CANDOMBLÉ

Vozes Populares | Candomblecista fala sobre importância da liberdade ao culto

Coordenador do projeto Meu Bairro Tem Axé, Tiago Batista relembra morte de Mãe Gilda de Ogum por intolerância religiosa

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Atualmente, o Candomblé reúne cerca de 3 milhões de adeptos ao redor do mundo - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Eu acredito que o combate ao racismo religioso vem por meio da educação

"O candomblé é uma religiosidade que nos ensina a viver em comunidade, em comunhão com a natureza e com os nossos ancestrais... e os terreiros têm uma contribuição social, política, religiosa e cultural significativa nos locais em que estão inseridos". É com o pernambucano Tiago Batista falando sobre o que representa o Candomblé para a sociedade brasileira que se inicia a edição do Vozes Populares desta semana.

Tiago é militante pernambucano do Movimento Brasil Popular, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Pernambuco e também coordena o projeto Meu Bairro Tem Axé, que também foi apresentado em outra edição. Se trata de uma iniciativa que dá atenção aos povos e comunidades de terreiro. Nascido e criado em uma família de culto à religiosidade de matriz indígena, a Jurema, e afrobrasileira, o Candomblé, Tiago usa sua voz para defender a liberdade ao culto. 

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É com ele que o Brasil de Fato Pernambuco dá continuidade ao nosso especial sobre o combate à intolerância religiosa. Ao trazer o tema, de pronto ele se lembra de um caso emblemático e que deu origem à data de 21 de janeiro. O caso é um triste exemplo de como fiéis de religiões de matrizes africanas têm seu direito à fé atacado. 

"Isso nos faz recordar um ataque de intolerância religiosa que aconteceu em 1999, no Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador, na época liderado pela saudosa Mãe Gilda de Ogum, que teve seu templo invadido e depredado por fundamentalistas religiosas. Não superando os traumas dos ataques, Mãe Gilda faleceu no ano seguinte, de um infarto fulminante, após ver seu nome e foto veiculados em um jornal de igreja evangélica a chamando de macumbeira charlatã", relembra. 

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Em memória à Mãe Gilda, foi sancionada, em 2007, a lei 11.635, que instituiu o Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa, no dia da morte da líder religiosa. 

No entanto, as denúncias seguem uma crescente. Em 2022, por exemplo, uma casa de Candomblé no Maranhão foi atacada por fundamentalistas. A casa, chamada Fanti Ashanti, é a primeira do estado e um dos mais tradicionais terreiros de Tambor de Mina do país, com atividades religiosas, sociais e culturais. Enquanto preparavam uma festa dedicada à Ogum, as mães, pais e filhos de santo receberam insultos e gestos de "exorcismo". 

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O caso não é isolado, mas sim uma consequência do racismo estrutural da sociedade brasileira. Para mudar esse cenário, Tiago Batista aponta para a necessidade de um amplo debate. "Eu acredito que o combate ao racismo religioso vem por meio da educação, através de rodas de diálogos nos espaços públicos, nas escolas, e também na própria comunidade. Hoje já temos sancionada a Lei que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser comemorado nacionalmente no dia 21 de março, mais um passo importante pras religiões de matrizes africanas e indígenas, que assegura e fortalece as diversas manifestações e práticas religiosas dos povos de terreiro", afirma.

A data mencionada por Tiago foi sancionada nos primeiros dias de gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e, para os povos de terreiro, representou uma conquista. Datas como essa contribuem com a mobilização social para garantir liberdade de culto a todos e todas. Com ações conjuntas do Estado e da sociedade, é possível caminhar para um país plural e livre para que todas as pessoas possam exercer sua fé. 

Ouça o programa na íntegra no início desta matéria. 

Edição: Vanessa Gonzaga