Que não haja espaço para anistia a quem tanto agiu pelo mal de muitos
Há pouco mais de 2 anos, escrevi uma coluna aqui no Brasil de Fato (Viveremos a volta dos homens-gabiru?) sobre a volta de alguns fantasmas que já se desenhava em nosso horizonte: a miséria e a fome, e com estas, as consequentes repercussões na saúde física e mental das pessoas. Algumas destas até se perpetuam no corpo e na memória de tempos trágicos vividos por tantas mulheres e tantos homens em nosso país.
Foi inevitável lembrar deste tema ao acompanhar as chocantes fotos e ler todos os relatos do que tem vivido o povo em território Yanomani, como consequência de uma política criminosa e genocida promovida pelo governo Bolsonaro nos anos que estiveram no poder.
Somente a situação de desnutrição crônica, se é que podemos isolá-la de todos os seus efeitos, já seria grave o suficiente. Mas temos todos os danos que são irreversíveis em situações como estas. O primeiro deles, e talvez mais óbvio, são as mortes por doenças evitáveis e que só acontecem pela fragilidade destas pessoas desnutridas e uma subsequente quase absoluta desassistência à saúde.
Um exemplo destas mortes evitáveis são as por pneumonia em crianças abaixo de 5 anos. Dados de 2022 mostram que ⅓ das mortes evitáveis em crianças yanomamis nesta faixa etária se deram por esta afecção. A discrepância com a média nacional, que não chegou a 5% no ano de 2021, é enorme.
Entretanto, me pego pensando também nas cicatrizes e consequências em todos aqueles que ficam. E quando falo de cicatrizes, naturalmente me refiro às alterações físicas que se perpetuam, como na história dos homens-gabiru, e nas psíquicas, incomensuráveis por si.
Quem pagará por estes crimes? Espero que neste cenário que se desenha de reconstrução nacional, não haja espaço para anistia a quem tanto agiu pelo mal de muitos. Espero que esta outra cicatriz, na história do Brasil, possa ser minimamente reparada com a culpabilização e punição de todos os envolvidos. Não há conciliação com quem trouxe tanto sofrimento e certamente não se furtaria de agir da mesma forma se tiver outra oportunidade.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga