Pernambuco

EDUCAÇÃO

Sem telefone, restaurante universitário e água potável: novo reitor fala da situação da Univasf

Em entrevista ao BdF PE, Julianeli Tolentino afirma que instituição tenta se recuperar de desmantelamento administrativo

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
Professor Julianeli Tolentino ocupa o cargo de Reitor Pro Tempore, assumindo a gestão na Univasf pela terceira vez - Foto: Divulgação/Univasf

No dia 16 de janeiro, o Ministro da Educação, Camilo Sobreira de Santana, dispensou o interventor nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Paulo César Fagundes. No lugar, nomeou para o cargo de Reitor Pro Tempore o professor Julianeli Tolentino de Lima, que já foi reitor por duas gestões, entre 2012 e 2020. 

Na última quinta-feira (19), o reitor viajou até Brasília para um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e reitores de diversas instituições federais no Palácio do Planalto. O momento serviu para marcar o compromisso da nova gestão com o ensino público e superior de qualidade. 

Em fala aos reitores, Lula afirmou que "um novo momento" irá se iniciar, no qual o ensino público federal irá sair "das trevas" e "voltar à luminosidade de um novo tempo". 

Leia: Após quase três anos com interventor, Univasf volta a ter Julianeli Tolentino como reitor

"Não existe na história da humanidade nenhum país que conseguiu se desenvolver sem que antes tivesse resolvido o problema da formação do seu povo. Nós estamos começando um novo momento. Eu sei do obscurantismo que vocês viveram nesses últimos quatro anos e eu quero dizer que estamos saindo das trevas para voltar à luminosidade de um novo tempo", declarou. 

O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou o novo reitor da Univasf para saber a situação atual da instituição, quais são as perspectivas da nova gestão, como foi o encontro em Brasília e o que devemos esperar de próximos passos. 

Confira os principais trechos:

Brasil de Fato Pernambuco: Mesmo que temporariamente, o que significa retornar à Univasf como reitor mais uma vez, após a instituição ser guiada durante dois anos por um interventor nomeado por Bolsonaro?

Julianeli: São dois significados. Um é voltar, de forma simbólica, a trazer a perspectiva da retomada da democracia e da estabilidade administrativa; o outro é proporcionar a luta real pela nomeação e posse do professor Télio Leite, que foi democraticamente eleito pela comunidade acadêmica em 2019 e até hoje não foi nomeado e nem empossado. Nós temos essa expectativa e já estamos trabalhando para que tudo isso se torne uma realidade. 

BdF PE: É possível ter alguma previsão de tempo para a conclusão do processo para que o professor Télio Leite assuma?

Julianeli: Ainda não há uma previsão precisa de datas. Porém, na próxima quinta-feira (26), o Tribunal Regional Federal (TRF) irá se reunir e os desembargadores que estão analisando o processo provavelmente irão votar e sentenciar. Então, a nossa esperança é que saia um resultado e de preferência positivo, no sentido da nomeação pelo presidente Lula do professor Télio, obedecendo o que ele já confirmou de nomear os primeiros colocados nas listas tríplices encaminhadas pelas universidades. No nosso caso, é o professor [Télio] que está lá. 

Leia: MEC desrespeita democracia e nomeia reitor que não participou de eleições na Univasf

BdF PE: Como é que o interventor Paulo Fagundes deixa a Univasf e quais devem ser os primeiros passos da nova gestão frente à instituição? 

Julianeli: Após uma semana da nomeação, imediatamente fiz questão de definir uma pequena equipe de transição formada por técnicos da nossa universidade, que estão fazendo uma prospecção de informações para que nós tenhamos um diagnóstico mais preciso da situação real da Univasf hoje. E já é possível notar que teremos muito trabalho pela frente, porque houve um desmantelamento administrativo e infelizmente isso tem provocado muitos transtornos na nossa universidade.

Por exemplo, estamos com serviços de telefonia sem funcionar; nossos Restaurantes Universitários (RUs) estão parados; temos também contratos de serviços terceirizados que estão finalizando, outros que foram finalizados e descontinuados; sem falar que há setores que nem água para beber têm, que é o exemplo do nosso Centro de Ciências Agrárias (CCA), um campus na zona rural de Petrolina. São problemas muito difíceis de serem enfrentados, mas que serão nossos alvos, porque são essenciais. O nosso grande objetivo é a retomada dessa estabilidade administrativa

BdF PE: Como foi o encontro com os reitores, representantes da educação e o presidente Lula em Brasília?

Julianeli: Foi um encontro simbólico, recheado de muita emoção, que nos trouxe grande esperança. Tanto na fala do presidente Lula, quanto dos ministros, especialmente o Ministro da Educação e a Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, [eles] trouxeram informações sobre esse apoio que havíamos perdido, que era característico dos governos passados para as universidades. 

Eles confirmaram que irão lutar para que o orçamento seja restabelecido e nossas universidades voltem a executar suas atividades, conforme nós sempre prevíamos, executando ações para tornarmos aquele ciclo virtuoso do passado uma realidade, absorvendo mais e mais estudantes, retomando as atividades das pós-graduações. Nós saímos de lá muito entusiasmados, porque ficou muito claro o reconhecimento da importância das universidades e dos institutos federais para o crescimento das nossas regiões. 

Leia: Lula recebe reitores e diz que universidades e institutos federais vão "sair das trevas"

BdF PE: Em conversa com a comunidade acadêmica da Univasf, um ponto bastante citado foi a falta de diálogo na gestão do interventor Paulo Fagundes. Como garantir que isso não ocorra na sua gestão? 

Julianeli: Exatamente, também já chegou a mim essa questão do distanciamento da administração central da comunidade acadêmica. Na época da nossa gestão, de 2012 até 2020, o movimento foi exatamente de aproximação e isso foi quebrado na reitoria Pro Tempore passada. O nosso objetivo é nos aproximarmos novamente da comunidade acadêmica, até porque nós precisamos dialogar para entendermos melhor o que está acontecendo, quais as dificuldades, quais os principais problemas a serem enfrentados.

Na próxima sexta-feira (27), nós já temos confirmado uma reunião do nosso Conselho Universitário, em que eu vou deixar muito claro esse nosso desejo de retomada do diálogo com a comunidade acadêmica, com as entidades representantes, à exemplo do Diretório Central dos Estudantes (DCE), dos Diretórios Acadêmicos (DAs), do Sindicato dos Docentes (SINDUNIVASF), os nossos servidores técnicos. Assim, chegaremos a um entendimento sobre as ações para os principais problemas que a Univasf enfrenta hoje. 

BdF PE: Um problema bastante mencionado por estudantes e o próprio DCE foi a questão de atraso de bolsas e a necessidade de ampliação delas. Existe uma perspectiva de ampliação das políticas de assistência estudantil? 

Julianeli: Nós encontramos uma universidade bem diferente da que nós deixamos em 2020. Essa administração que aconteceu agora nesses últimos três anos conseguiu desmantelar programas, projetos, ações que vinham sendo executadas e que estavam trazendo excelentes resultados pra nossa universidade, inclusive reconhecidos pelo Governo Federal e outras instituições avaliadoras.

Mas, diante da dificuldades orçamentárias, da necessidade de nós termos um diagnóstico bem preciso, nós nem podemos falar em ampliação ainda. Mas, com certeza, junto com o Ministério da Educação (MEC) e o Governo Federal, nós iremos tentar trazer a normalidade administrativa. E, consequentemente, retomaremos essas ações de ampliações na oferta de vagas, de novos cursos e também de bolsas. Primeiro, a estabilidade; e depois, a expectativa real da ampliação. 

Leia também: Mesmo sem confisco, universidades tem dificuldades para continuar funcionando em Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga