Apesar do nome "quarta-feira de cinzas", o dia que sucede o fim dos festejos de Momo não costuma ser tão cinza assim no Sítio Histórico de Olinda. Na manhã da quarta, como tradicionalmente, os blocos Munguzá e Bacalhau do Batata fizeram a folia com direito à distribuição de munguzá e orquestras para animar principalmente as trabalhadoras e trabalhadores que passaram o carnaval garantindo o sustento em vez da brincadeira. O Bacalhau toma conta das ladeiras de Olinda há 61 anos, enquanto a tradição do Munguzá tem 28 anos. Ambos se concentraram no Alto da Sé. A festa que começou por volta das 6h saiu para o cortejo às 10h40.
Um dos diretores do Bacalhau do Batata, Ícaro Tomás, conta que se sente muito emocionado em ver o bloco sair novamente após dois anos de pandemia. "É uma emoção enorme junto com a expectativa dos foliões que estão aqui. A gente não sabe como vão receber com tamanha a saudade que estão. Quem trabalhou durante o carnaval, tem esse dia para poder brincar, é como se fosse liberada a quarta-feira. Tem uns que trabalham ainda, mas aquele que trabalhou durante o carnaval de Olinda vem prestigiar".
É justamente com esse sentido de ter um dia de liberdade que começou a história Bacalhau do Batata, em 1962, quando o garçom Isaías Pereira da Silva, mais conhecido como Batata, transformou em realidade a sua vontade de brincar os festejos de Momo depois de passar os quatro dias trabalhando sem curtir a folia. Após 33 anos, nasce o Munguzá do Zuza Miranda e Thaís, para alimentar as foliãs e os foliões que aguardam o Batata, e fazer o esquenta do bloco. Este ano, o Munguzá está homenageando 11 mulheres que fazem o festejo acontecer, como conta a organizadora que dá nome ao grupo, Thaís. "São mulheres que estão com a gente batalhando do início e outras que foram se agregando nesses 28 anos e que resolvemos homenagear. Mulheres que cozinham o munguzá, ajudam a distribuir e a correr atrás de patrocínio", compartilha.
A volta do carnaval após o período pandêmico não só sensibiliza quem organiza a folia, mas também quem brinca. O autônomo Rogério de Melo Sales é um folião assíduo dos dois blocos, comparece à folia da quarta-feira de cinzas todo ano e lembra que começou com essa tradição ainda quando o famoso Batata era vivo. "Hoje a gente come o munguzá para depois ter energia para descer as ladeiras de Olinda. O carnaval é uma festa que eu gosto muito, mas o dia que eu me realizo é a quarta-feira. É tudo maravilhoso. O sol, as orquestras e o munguzá. Eu só não venho se tiver algum problema de saúde, mas graças a Deus foi permitido que eu viesse".
Quase como uma marca do Bacalhau do Batata, o garçom e folião José Felipe diz que o bloco é para ele uma tradição que veio para mudar o fato do carnaval acabar na terça-feira. José sempre se faz presente no festejo e chama atenção vestido de garçom. Muitas pessoas que estão na folia fazem questão de tirar uma foto com ele. "A gente, com muita força e resistência, tem levado o carnaval nas ladeiras de Olinda, arrastado essa multidão".
Já Moacir Moreno, de 41 anos, conta que seu pai o trazia para os blocos no dia de cinzas e agora ele é quem traz a família. "Nesse carnaval, eu brinquei pouco porque estamos com criança pequena e tem que selecionar onde ir. Mesmo assim, achei a festa legal e segura, só faltou um pouco de acessibilidade para crianças nos banheiros. O bacalhau é esse espaço de inserir as crianças, vir e brincar".
Mesmo com as ladeiras de Olinda já bastante esvaziadas nesta quarta-feira, o Bacalhau do Batata foi arrastando os resistentes por onde passou e os moradores reforçaram a tradição de abrir as janelas para observar o cortejo passar. O fim do carnaval para uns, um único dia de folia para outros e uma grande tradição.
Edição: Elen Carvalho