É chegado o 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres. A data marca o início do calendário de lutas e mobilizações da classe trabalhadora, tem como foco as pautas feministas e está de volta de maneira ampla nas ruas após dois anos de pandemia da covid-19.
Para entender quais são as principais reivindicações das mulheres em 2023 em um período de reconstrução do país, o Brasil de Fato Pernambuco conversou com Adriana Vieira, que é do Rio Grande do Norte e integra a coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres. Assista:
Brasil de Fato: Está se iniciando um novo governo a frente do Brasil com Lula presidente, e as mulheres foram parte significativa do eleitorado que elegeu este governo. Quais são as principais reivindicações das mulheres neste período que estamos chamando de "reconstrução do país"?
Adriana Vieira: A pauta das mulheres é uma pauta bastante antiga, porque nós estamos em uma sociedade que é bem misógina, machista e patriarcal, que é bem hostil às mulheres. A pauta das mulheres é uma reivindicação constante. Nós mulheres participamos de um convencimento nacional de que o governo Lula é um projeto que pode retomar a luta das mulheres e políticas. Mas para falar de algumas pautas específicas, que nós da Marcha Mundial das Mulheres estamos envolvidas, e que faz parte do nosso processo de convencimento e de diálogo com esse governo, é de primeiramente compreender e exigir que as mulheres estejam no conjunto de toda a pauta do governo. Seja na pasta da economia, da saúde, do desenvolvimento agrário, das mulheres indígenas, a luta antirracista. A primeira coisa é isso.
Você falou de participação no governo Lula. Como avaliam este assunto? As mulheres estão no governo?
De 37 ministérios do governo Lula, 11 são mulheres e estão em ministérios importantes. É bom a gente pensar que é um recorde porque nós temos um histórico de não participação em outros governo. Se a gente pensar também toda essa questão da retomada dos conselhos, a retomada da participação popular, também permite que as mulheres tenham mais participação. Então, esses mecanismos de participação popular vão contribuir para que as mulheres participem não só nas cadeiras dos conselhos, mas sim propondo retomadas de políticas, como é o caso da Casa da Mulher Brasileira, que é uma casa importante no combate à violência contra as mulheres.
O que podemos esperar da preparação desse 8 de março?
Depois que começou a pandemia, esse vai ser o nosso primeiro grande 8 de março. Essa data é sempre o calendário que abre a agenda de luta da classe trabalhadora no Brasil, são as mulheres que abrem. O movimento de mulheres no Brasil é muito diverso e amplo, composto por um conjunto de mulheres de vários lugares. Então, é uma expectativa muito grande que tenham grandes mobilizações em todo Brasil, A gente olhando a programação dos estados a gente vê que estão com a mesma expectativa. Estados que antes tinham pouca participação agora dizem que vão levar cinco mil mulheres para as ruas. Vai ser um 8 de março massivo, de bastante gente na rua, porque nós nunca saímos das ruas, mas com a pandemia e as restrições a nossa forma de luta ia se dando de diversas maneiras.
Nos últimos sete anos, as mulheres se colocaram no front da luta contra o avanço do neoliberalismo e do fascismo. Não só no Brasil, mas em muitos países latino-americanos. Qual o maior desafio dessa luta que continua mesmo diante da vitória de alguns governos mais progressistas?
Pensar em desafios é muito difícil porque são muitos. E se a gente olhar só para o Brasil, nós tivemos um governo de quatro anos de bastante hostilização das mulheres e nós vamos ter que lidar com o desafio do bolsonarismo, porque, nas eleições, nós fizemos um processo muito grande de convencimento da sociedade de que a volta do governo Lula era a volta da democracia e da possibilidade de reconstrução do país. Nós derrotamos o bolsonarismo nas urnas, mas não nas ruas e, se a gente for olhar, todo dia nós temos casos de muita violência, casos de racismo e homofobia.
Edição: Elen Carvalho