Nesta quarta-feira, o #8M reuniu diversos movimentos feministas e populares em um Ato Unitário para colocar em evidência as principais reivindicações relacionadas à gênero em Pernambuco. A concentração se deu no Parque Treze de Maio, centro do Recife, e finalizou em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo Estadual, onde houve um diálogo com a governadora Raquel Lyra (PSDB).
Primeira governadora mulher do estado, a gestora tem sido alvo de críticas pelos movimentos feministas, que apontam para a negligência nas políticas de igualdade de gênero, para a falta de diálogo e representação dos movimentos sociais em sua gestão.
Daniele Braz, militante feminista antirracista do Fórum de Mulheres de Pernambuco e da organização Grupo Curumim, sinalizou que em mais de 60 dias de gestão, Raquel Lyra ficou em silêncio sobre o Plano de Ação para as mulheres. "É urgente que ela comece a criar e implementar políticas públicas [de gênero]. Ontem, foi a primeira vez que ela respondeu alguma questão e só por conta da pressão das mulheres em frente Palácio. E se ela não responder às propostas, a gente vai fazer mais pressão", demarcou.
Nas ruas, estavam presentes movimentos plurais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que já acampava na Praça do Derby desde o dia 6 de março; a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco; o Liberta Elas, a Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE), a Marcha das Margaridas e outros; além de sindicalistas, como as servidoras públicas e professoras do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe).
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Todas elas marcharam sob o lema “Mulheres nas ruas contra: o racismo, o feminicídio, o transfeminicídio, o encarceramento em massa, pela legalização do aborto, por uma democracia popular e sem anistia para golpistas”.
Diálogo com Raquel Lyra (PSDB)
Coletivamente, foi feito um manifesto unitário, um documento que reunia as principais pautas de gênero no estado, para ser entregue à governadora. “Quando chegamos no Palácio, tentamos negociar a entrada, a gente queria conversar. Com certeza, pela pressão nossa, ela desceu para dialogar”, relatou Gleisa Campigotto, da Coordenação Nacional do Movimento Brasil Popular.
Inicialmente, a ideia era que as lideranças das organizações entrassem no Palácio do Governo, algo que havia sido acertado previamente com a governadora. No entanto, a gestão não concordou em receber mais de 20 pessoas no Palácio, algo do qual os movimentos não abriram mão para que se garantisse a pluralidade dos movimentos feministas presentes.
“Infelizmente acabou tomando um outro caminho, ela acabou virando o jogo, como se ela fosse feminista, como se ela tivesse participando do ato, e não foi isso que aconteceu”, afirma Liliana Barros, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
Em meio à multidão, foi lido o documento com as reivindicações dos movimentos. No momento, a governadora propôs a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para estabelecer as políticas públicas sobre as pautas entregues, sem dar detalhes.
"Grande parte do que está colocado aqui está no nosso Plano de governo, mas tirar do papel e transformar em realidade, carece de muito esforço", discursou a governadora. Durante a sua fala, Raquel reforçou que 52% do governo é formado por mulheres e foi interrompida por falas questionando a falta de mulheres negras no secretariado.
Liliana Barros teme que esse GT não seja efetivo e critica os primeiros meses da gestão estadual. “Não há, efetivamente, políticas de igualdade racial, sobretudo para mulheres negras, basta você olhar o secretariado da atual governadora. Não faço coro que isso vá realmente acontecer porque a linha desse governo não condiz com as mulheres feministas. Então esse GT não terá nossa cara”, criticou.
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Apesar disso, Gleisa Campigotto reforça que o 8M representou um marco importante na luta das mulheres e no combate ao fascismo e enfatizou que a cobrança não irá parar. “A nossa luta não é só no 8M. Essa é uma data histórica, mas a nossa luta se mantém o ano todo para cobrar do Estado uma vida sem violência e com seus direitos garantidos”, finalizou.
Semana da Mulher em outras regiões
No Cabo de Santo Agostinho, foi realizada a 36ª edição da tradicional Caminhada do 8 de março, organizada pelo Centro das Mulheres do Cabo (CMC), com o tema "Mulheres e Meninas pelo Fortalecimento da Democracia e Garantia de Direitos".
"Nossa caminhada reuniu mais de mil mulheres. Estiveram presentes mulheres do campo e da cidade, periféricas, negras, trans e mulheres das comunidades com as quais trabalhamos", relatou Izabel Santos, Coordenadora do CMC. A festa tradicional foi marcada por atividades culturais, falas políticas e contou, também, com a presença de parlamentares; artistas da cena local e mulheres do esporte. "Infelizmente a gente não pode só celebrar com festa, a gente demarca esse lugar da reivindicação".
Em Petrolina, o #8M aconteceu com um momento cultural, sob a organização da Associação das Mulheres Rendeiras, no bairro periférico José e Maria. O evento, nomeado "Batucando com as Rendeiras", foi um espaço de celebração com as mulheres da comunidade.
Em Garanhuns e Caruaru, as programações estão pensadas para o sábado, dia 11 de março, onde ambos os municípios planejaram atividades. Em Caruaru, a Frente Feminista do Agreste organiza um cortejo com o bloco Nem Cá Mulesta, saindo do Grande Hotel às 08h. Em Garanhuns, acontece uma caminhada com concentração às 08h na Praça da Fonte Luminosa, com o mote "Na Rua Contra o Fascismo, Mulheres Sustentam a Vida".
Edição: Elen Carvalho