Desde 2019, onze comunidades do município de Sento Sé, no sertão da Bahia, estão enfrentando problemas com a implantação e exploração de minério de ferro na área. Confira:
Morador de Sento Sé, Wellington de Oliveira afirma que a empresa “chegou com bastante promessas, dizendo que ia construir ferrovias, gerar muito emprego, desenvolvimento. E na verdade isso não aconteceu. Só tem trazido muito transtorno pra vida aqui das comunidades ribeirinhas que moram em torno de onde acontece a exploração".
A empresa que faz a exploração do minério é a Tombador Iron. Uma empresa australiana de capital aberto que detém 100% do projeto de minério de ferro de alto teor de tombador, no estado da Bahia. Mas essa exploração tem apresentado perigo para as famílias que vivem no local.
A população, insatisfeita com o descaso e o silêncio das autoridades, realizou um protesto bloqueando a rodovia BA-210, que dá passagem aos caminhões da empresa.
A medida foi tomada devido aos impactos causados nas comunidades que ficam ao longo da estrada estadual, que não é asfaltada, e o intenso tráfego de veículos pesados para escoar o minério tem gerado prejuízos aos moradores.
O protesto durou doze dias e foi cancelado por uma liminar judicial que alegava o direito de ir e vir da empresa.
Segundo Wellington, as onze comunidades atingidas pela ação da mineradora na serra da bicuda entregaram, em agosto de 2021, um documento em que listam ações de mitigação que deveriam ser implementadas pela empresa e pela prefeitura de Sento sé. No entanto, o documento nunca foi respondido e nenhum dos pedidos dos moradores foi atendido.
“A maioria das pessoas vivem da agricultura, pesca e da pecuária. Para você ter uma ideia, muitas pessoas que criavam seus gados aqui tiveram que vender suas criações. Não tiveram mais condições de criar. Quem planta próximo a exploração também não consegue mais plantar devido a poeira do constante tráfico das carretas. E essas plantações não conseguem mais desenvolver, não conseguem mais frutificar como antes por esse motivo”, disse Wellington.
As comunidades tradicionais, composta por ribeirinhos, pescadores e agricultores, também relatam que o tráfego pesado na rodovia tem afetado a saúde dos moradores e aumentado o número de acidentes. Além da preocupação com os possíveis impactos ambientais da mineração a céu aberto no rio São Francisco, que é uma importante fonte de subsistência para a pesca e produção de alimentos.
No momento, os moradores aguardam uma resposta do município após terem enviado um ofício em 7 de fevereiro, mas ainda não receberam resposta.
A principal demanda é a pavimentação asfáltica da estrada que liga as comunidades à sede do município. Eles argumentam que essa estrada é essencial para sua qualidade de vida e para o desenvolvimento econômico da região.
“A primeira melhoria é a estrada para acabar com a poeira, ter mais segurança, porque, até então, não tivemos retorno nenhum. Eles têm o dever de contribuir com o município, principalmente uma localidade onde eles estão extraindo o minério. Não fizeram estrada, a gente pediu melhorias nas escolas, nada foi feito. São dois anos de exploração e não tem tido retorno nenhum desse minério que está sendo retirado em nossa comunidade”, alegou Wellington.
Em nota, a Tombador Iron Mineração Ltda. informou que durante os seis anos em que realizou pesquisas no âmbito do Estudo Médio de Impacto Ambiental, não foi identificada a existência de sítios arqueológicos no local e nem populações tradicionais, indígenas, quilombolas e de fundo de pasto, no raio definido de oito quilômetros da mina.
Em relação ao tráfego intenso na rodovia que tem prejudicado a saúde dos moradores, a produção agrícola e aumentado o número de acidentes, a empresa afirmou que vem realizando inúmeras ações voltadas para a melhoria da estrada utilizada, a BA-210, por onde ocorre o transporte do minério, como ações de alargamento de vias, instalação de placas de sinalização vertical, terraplanagem, umectação e manutenção permanente.
Para mitigar a dispersão de poeira na estrada, a Tombador faz a umectação da via por intermédio de caminhão pipa, em todo o trecho e com mais intensidade nas vizinhanças das comunidades Aldeia, Pascoal e Limoeiro.
Ainda segundo a nota, a empresa também tomou medidas preventivas para a segurança do tráfego de caminhões carregados com o minério lavrado no trecho em destaque, como velocidade baixa e controlada, respeito à sinalização e não formação de comboio.
A redação também tentou contato com a prefeitura de Sento Sé, mas não obtivemos resposta.
Edição: Elen Carvalho