Psicóloga e pesquisadora em saúde e educação, Idalice Barbosa acredita que a literatura é uma ponte que liga a realidade à imaginação e permite que o leitor transcenda as barreiras do conhecimento científico e entre nas complexidades da vida. Com essa crença, ela decidiu utilizar a linguagem literária para compartilhar as experiências das populações do campo e das águas em relação à vida, trabalho e acesso à saúde. Confira:
O resultado desse trabalho é a publicação "Narrativas de Vida", fruto do seu pós-doutorado em saúde. As histórias contadas no livro são frutos de entrevistas e grupo focal realizados por Idalice em municípios do Ceará e do Rio Grande do Norte, a fim de entender as barreiras que as famílias enfrentam para ter acesso à saúde.
"A gente já tinha entrevistado os profissionais do centro de saúde que eram médicos, enfermeiros, a equipe multiprofissional, também gestores, e para completar a gente precisaria também olhar do ponto de vista das famílias que usavam os serviços, quais eram as barreiras que eles encontravam no acesso à saúde. Para isso, nós utilizamos as entrevistas de histórias de vida", afirmou Idalice.
A pesquisa coordenada por ela, intitulada "Produção de Indicadores para Avaliação das Condições de Vida das Famílias e Acesso aos Serviços de Atenção Primária em Territórios do Litoral e do Sertão do Ceará e do Rio Grande do Norte", apresenta retratos de vidas reais que são reflexo das diferentes gerações atravessadas pelo histórico de injustiças e desigualdades socioeconômicas do país.
"Os pescadores e as pescadoras tem muitos processos de adoecimento que não são vistos, isso a gente viu na pesquisa pelos profissionais da saúde. Então uma marisqueira, por exemplo, ela tem os problemas de pele, problemas ginecológicos por estarem o tempo inteiro imersas no mangue. Isso causa alguns tipos de adoecimento e problemas de coluna que são completamente invisíveis para os profissionais da saúde e o valor do trabalho delas também é bastante invisibilizado até dentro da comunidade de pescadores", conta.
As narrativas de vida permitem que o leitor mergulhe nas histórias dessas populações, tornando mais acessível os resultados da pesquisa.
A linguagem literária e as ilustrações em aquarela, feitas pela artesã e psicóloga Teresa Queirós, proporcionam uma introdução a cada história, sensibilizando o leitor através da beleza e revelando um cenário que permanece o mesmo para ser revisitado pela imaginação criativa. A pesquisa contou com a colaboração de diversas organizações. Para ler "Narrativas de Vida", acesse o site ceara.fiocruz.br/serpovos.
Edição: Elen Carvalho