Pernambuco

Coluna

Páscoa – parto de Vida e Liberdade

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Mural "A Páscoa de Cristo e a Páscoa do Povo" - Mino Cerezo Barredo
Essa subversão da Vida tem de provocar força nova para que possamos juntos vencer o desamor

Nestes dias, as Igrejas cristãs celebram a festa da Páscoa. Paróquias e congregações cantam hinos de alegria e proclamam: O Cristo ressuscitou! Comunidades e grupos que, além dos ritos, seguem a missão profética do Cristo gritam para toda a humanidade: O Amor Divino ressuscitou Jesus e essa subversão da Vida tem de provocar força nova para que possamos juntos vencer o desamor e a morte. 

Na Amazônia, a dança dos Xapiris faz renascer a floresta e mantém o mundo de pé. Isso traz novo respiro contra garimpos e os males com os quais, durante séculos, a civilização do dinheiro tenta exterminar os povos originários. A teimosia dos Xamãs em invocar os espíritos da floresta é algo de próprio da cultura Yanomami, mas do seu modo, corresponde ao Aleluia da Páscoa cristã. No Nordeste, o Toré indígena nas aldeias e a dança da Jurema nas periferias urbanas têm seu valor autônomo. Não podem ser vistas apenas como tradução para outras culturas de expressões cristãs.

No entanto, mesmo com suas características próprias, correspondem do seu jeito ao que para os cristãos é o anúncio alegre e feliz da ressurreição. Cremos que é o mesmo Espírito do Cristo Ressuscitado que, como cantamos, “enche o universo. Tudo abraça em seu saber e tudo enlaça em seu amor”. Esse Espírito é reconhecido pelas comunidades do Santo Daime como o Caboclo Juramadan, pelos povos indígenas do Nordeste no culto dos Encantados e pelas comunidades negras como Orixás, Inquices e Caboclos, cada qual com sua originalidade e características próprias. No entanto, essas diversas expressões de espiritualidade celebram a vitória da vida sobre a morte e da amorosidade sobre o desamor.

Atualmente, a biologia confirma: o mistério da vida se dá pelo entrelaçamento e interdependência das células e dos corpos. O amor é, antes de tudo, fenômeno biológico.  Agora, a mensagem pascal nos diz que a culminância desta evolução é uma forma de  amor-doação gratuita, que cria comunhão entre nós e nos impulsiona a fazer tudo o que é possível para que a humanidade se torne uma comunidade de irmãos e irmãs. 

Para nós, cristãos e cristãs, as festas pascais são sempre ocasião para novamente acreditarmos que é possível recomeçar o caminho da Boa Nova. A ressurreição de Jesus confirma em nós o amor divino. Este amor toma conta de nossas vidas e nos dá força para impregnar de amor as estruturas da vida e da sociedade. 

Neste momento brasileiro, um bom número de pessoas católicas e evangélicas, em nome de Jesus apoia políticas de direita contrárias aos interesses dos mais pobres e testemunha um Deus cruel e sectário, amigo dos que o adoram e vingativo com os que não aderem à Igreja. A boa notícia da ressurreição tem de ser profeticamente contrária a esse tipo de religião.

Por isso, grupos cristãos de várias Igrejas preparam um Mutirão da Profecia para reafirmar ao mundo que seguir Jesus Ressuscitado é optar pela justiça, paz e misericórdia anunciada nas bem-aventuranças do evangelho. Desta Páscoa, até o 7 de setembro, quando no Brasil, ocorre o Grito dos Excluídos, muitos grupos cristãos se preparam para reafirmar o compromisso de comunhão com os mais pobres. A Páscoa nos faz viver uma Igreja a serviço de toda a humanidade e não somente das pessoas que creem. 

Junto com todas as pessoas famintas e sedentas de justiça e paz, acendamos sobre a terra o fogo novo da paz e da solidariedade. A partir da alegria de crermos que Jesus ressuscitou, a nossa missão, como dizia Pedro Casaldáliga, é sair pelo mundo semeando e espalhando ressurreição. 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga