“A posse da terra é uma conquista, uma vitória, do qual, depois de tanto tempo, a gente já tinha praticamente perdido as esperanças”. A camponesa Maria Quitéria relata a felicidade da comunidade após anos de conflitos e perseguições na zona da mata alagona.
Após duas décadas de luta, as cem famílias camponesas da antiga Fazenda Bota Velha, localizada no município de Murici, em Alagoas, finalmente têm motivos para comemorar. A desapropriação da terra foi concretizada e o terreno se tornará um assentamento, dando uma nova perspectiva de vida para as pessoas que viviam em acampamentos na mesma fazenda. Assista:
Desde 1999, as famílias dos acampamentos Bota Velha e Santa Cruz enfrentavam a destruição das lavouras, despejos e ameaças. Apesar disso, a luta do povo de Bota Velha foi reconhecida por transformarem a propriedade abandonada em uma terra fértil e produtiva.
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"A preocupação e a dificuldade foi as pessoas quererem nos tirar a vida, os conflitos, fome, guerra. A gente foi ameaçado, fomos despejados, mas firme e forte não desistimos. Preferimos morrer na luta do que morrer de fome", afirmou Maria Quitéria.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanha as ocupações na região há anos, destacou que a resistência foi grande, com inúmeros mandatos de reintegração de posse, o último deles ocorrendo em 2019.
Na época, o governador do estado, Renan Filho (MDB), se comprometeu com a aquisição da área, já que o governo federal não garantiu às famílias o direito à terra durante 24 anos. Agora, com o apoio de organizações como a Comissão Pastoral da Terra, movimentos populares, sindicatos e lideranças políticas, as famílias camponesas de Bota Velha finalmente têm a posse da área e o terreno se tornará um assentamento, dando uma nova perspectiva de vida para as pessoas que viviam em acampamentos na mesma fazenda.
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Segundo Carlos Lima, coordenador nacional da CPT, a organização teve um papel importante no apoio às famílias. "Primeiro no trabalho que elas se reconhecessem como herdeiras da terra e que aquela luta, por Bota Velha, era uma luta além de constitucional, que prevê a Constituição brasileira, também é uma luta que à igreja apoia pelo fato de trazer dignidade para os filhos e filhas de Deus".
Com a desapropriação da terra, a antiga fazenda abandonada por usinas falidas se tornou um terreno fértil onde as plantações de banana, feijão, macaxeira, batata doce e a criação de animais se tornaram a principal forma de viver das famílias camponesas.
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Edição: Vanessa Gonzaga