Entre os dez brasileiros mais ricos do mundo, dois se dizem pastores de Igrejas cristãs.
No mundo, o Brasil continua sendo um dos países campeões em desigualdade social. Neste panorama, muitos ministros e grupos pentecostais, evangélicos e católicos dão testemunho de um Deus que não é Amor e legitima o ódio, a violência e as discriminações sociais. As pesquisas revelam que entre os dez brasileiros mais ricos do mundo, dois se dizem pastores de Igrejas cristãs.
Infelizmente, alguns grupos católicos e evangélicos, inclusive parte do clero e de pastores não ligam a fé com a justiça e apoiam políticas contrárias aos direitos da população mais pobre. Nas paróquias e comunidades locais, promovem um tipo de devocionalismo superficial de caráter espiritualista, que parece inocente, mas encobre um ritualismo religioso que tenta abafar a profecia da fé e legitimar a sociedade injusta e desumana.
Diante disso, é bom recordar a proposta que, em 1968, os bispos católicos da América Latina afirmaram: “Que se apresente cada vez mais nítido, na América Latina, o rosto de uma Igreja pobre, missionária e pascal, desligada de todo poder temporal e corajosamente comprometida na libertação de cada ser humano e de toda a humanidade” (Medellin. 5, 15).
Atualmente, não basta mais que nossas Igrejas falem em “pastoral da dimensão sócio-transformadora da fé", até porque, se a fé cristã vem de Jesus, o modo dele viver a fé tem a profecia como eixo fundamental e estruturante de toda a sua vida e sua ação. Para reafirmar isso, em várias regiões do Brasil, cristãos e cristãs de várias Igrejas se mobilizam e convidam pessoas de todas as religiões para, juntos, renovar o compromisso das Igrejas e religiões com a libertação de toda a humanidade e da mãe-Terra.
Há quase 60 anos, durante o Concílio Vaticano II, um grupo de bispos católicos assumiram um compromisso de assumirem a pobreza evangélica e a comunhão com os pobres como estilo de vida e jeito de ser da Igreja. Em 2019, em Roma, durante o Sínodo para a Amazônia, bispos, padres, missionários e pastores evangélicos, junto com representantes dos povos originários renovaram esse mesmo compromisso de comunhão com os pobres e “por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana”.
Em nossos dias, essa proposta se atualiza pelo convite a um mutirão da profecia. Até o dia 7 de setembro, dia nacional do Grito dos Excluídos, os grupos cristãos e até núcleos ligados a outras expressões de fé são convidados a expressar, do modo que quiserem e da forma que desejarem, o caráter profético da sua espiritualidade. O importante é que renovem sua aliança com as categorias mais pobres de nossa população e com o cuidado com a mãe-Terra e com a Ecologia Integral.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga