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Coluna

O MST e a volta do Brasil

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"O MST nasceu e se consolidou como o mais importante movimento social e popular brasileiro" - Arquivo MST
É preciso atacar as raízes da injustiça institucionalizada para descortinar tempos novos de Paz

“O Brasil voltou!” é a palavra de ordem com a qual o atual governo quer despertar a consciência do povo brasileiro para as diferenças entre os anos que vivemos, com o Estado e o povo sequestrados pelo desvario de uma direita cruel e assassina e os novos sinais de retomada dos esforços para devolver o Brasil à maioria do povo brasileiro. 

Além da criação do Ministério dos Povos Indígenas e de entregar a direção da FUNAI a uma representante dos povos originários, assistimos a a renovação de muitos programas sociais. No entanto, não adianta investir em programas emergenciais, por mais importantes que sejam, sem tratar das raízes de nossas misérias. Quanto mais se criam programas sociais para alimentar milhões de pessoas famintas, mais o sistema cria, diariamente, novos famintos. É preciso atacar as raízes da injustiça institucionalizada para descortinar tempos novos de Paz, Justiça e cuidado com a mãe-Terra. 

Sem dúvida, no Brasil, a mais profunda e duradora das estruturas sociais injustas é a política agrária, baseada em uma das mais violentas concentrações de terras no mundo e uma estrutura fundiária que não mudou substancialmente desde os velhos tempos da escravidão. 

Futuramente, quem estudar a História do Brasil aprenderá que, para o povo brasileiro, do campo e da cidade, o acontecimento social mais importante de todo o século XX foi a fundação do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) em 1984. Naquela época, chegávamos aos anos finais da ditadura militar e de um período de muita repressão social. Ampliava-se ainda mais a concentração da terra para servir à política da agroindústria e das exportações. Em julho de 1980, ao vir ao Brasil e ver as gritantes injustiças no campo, o papa João Paulo II declarou ao mundo inteiro que “sobre toda propriedade, pesa uma hipoteca social”. Em 1988, a nova Constituição Brasileira consolidará esse princípio: a função social da propriedade da Terra. O latifúndio improdutivo é antiético e ilegal.  

Como verdadeira profecia laical e cívica, o MST nasceu e se consolidou como o mais importante movimento social e popular brasileiro. Atualmente, é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina. Põe em prática e mostra que é possível uma reforma agrária agroecológica, que garante acesso à terra como direito humano universal. Organiza cooperativas de agroecologia e produz alimentos saudáveis para todo o povo. 

Atualmente, reúne mais ou menos meio milhão de famílias assentadas. As famílias ainda acampadas em terras antes improdutivas e ociosas passam de 100 mil. É a partir dessa experiência de trabalho comunitário e organização dos assentamentos que o MST realiza um trabalho de formação humana e política, reconhecido e premiado por organismos internacionais da ONU. 

Nestes recentes anos em que o Brasil se debatia sob o flagelo da pandemia, o MST realizou o maior trabalho de solidariedade social do país. Garantiu a produção e a distribuição de milhares de toneladas de alimentos e ajudou comunidades de periferias urbanas e do campo em todo o país. 

Nestes dias, a sociedade brasileira assiste à nova onda de ataques da elite reacionária ao MST. No Congresso, como nas piores épocas de nossa política, se tenta criminalizar os movimentos populares. 

Na minha vida, considero um dos maiores privilégios que recebi do Amor Divino estar ligado ao MST desde os tempos de sua fundação. Nestes quase 40 anos de caminhada, sempre fui alimentado por sua mística de justiça libertadora. Mesmo quando, por conta da idade e de problemas de saúde, não consigo mais acompanhar cada passo desta linda caminhada, quando alguém me pergunta sobre o que acho das ações do MST, respondo com a palavra do nosso saudoso mestre e profeta Pedro Casaldáliga: “na dúvida, fique sempre do lado dos pobres”, isso é, se solidarize com os movimentos populares e as classes oprimidas.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga