O que era para ser a alegria da conquista de um emprego como professor em uma das universidades de maior prestígio no estado se tornou uma luta pela nomeação. O resultado final do concurso da Universidade de Pernambuco (UPE) foi divulgado em 18 de outubro de 2022, mas foi só em 28 de dezembro do mesmo ano que o concurso foi homologado pelo então governador Paulo Câmara (PSB), deixando para Raquel Lyra (PSDB) a tarefa de nomear os concursados.
No entanto, apenas 29 dos 184 aprovados no concurso foram empossados no último dia 15 de maio através do Diário Oficial. Entre os professores nomeados está Delma Silva, que foi assumiu o cargo como professora do departamento de Pedagogia do campus Garanhuns, localizado no agreste do estado.
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Ela afirma que a alegria veio com o pesar pela situação dos colegas “Eu fiquei muito feliz por estar entre os 29 professores e, ao mesmo tempo, muito triste. Isso é uma realização imensa, mas ao mesmo tempo senti muito que apenas 16% dos professores tenham sido nomeados inicialmente. A maioria dos colegas está à espera da nomeação. Quando serão convocados os 156 que ainda não foram nomeados?”, questiona Delma.
Outra questão que preocupa a docente é o curto período de tempo entre a nomeação e o início do ano letivo na UPE, que já começa no próximo dia 29. “O trabalho docente demanda planejamento, organização para atuar no tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. É certo que nesse primeiro semestre não estaremos com desenvolvimento de pesquisa, já o ensino e a extensão sim, temos amplas possibilidades de articular o ensino com a extensão ainda neste semestre”, destaca a docente, que teve 14 dias para elaborar seu plano.
Faltam professores na UPE
Segundo informações da Associação de Docentes da Universidade de Pernambuco (ADUPE), a Universidade de Pernambuco enfrenta há muito tempo um déficit de professores na instituição.
A UPE é a única instituição estadual de ensino superior pública de Pernambuco e está presente em 10 cidades. Ela possui cerca de 15 mil estudantes de graduação e 3 mil de pós-graduação, além dos 1.078 professores e 4.565 servidores.
É o que destaca a presidenta da ADUPE, Terezinha Lucas. “Foi a constatação do déficit existente, mediante rigoroso estudo das necessidades, que levou o governo passado a autorizar a realização do concurso, cuja homologação do resultado final saiu em dezembro passado. A nomeação imediata, passado o período de impedimento eleitoral, seria uma consequência natural”, afirma a servidora, que aponta a importância das nomeações para garantir a qualidade no ensino.
A análise da associação é que a dotação do quadro completo de professores qualificados e concursados têm um impacto direto na qualidade das atividades de ensino, na produção de conhecimentos e nas atividades de extensão universitária.
Dificuldade no diálogo com o governo
A comissão dos concursados afirma que já tentou diálogo com o Governo de Pernambuco através da marcação de agendas e até protocolando um documento, mas não tiveram resposta.
Por um lado, os aprovados vem tentando sensibilizar a sociedade através da divulgação do caso nas redes sociais, através da conta no Instagram @aprovadosupe2022 e, do outro, buscando o apoio de órgãos públicos, a exemplo da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Dentro da assembleia, a Comissão de Educação e Cultura é quem vem pressionando o Governo pela nomeação.
No último dia 08, a deputada estadual Rosa Amorim (PT), que integra a comissão, protocolou uma indicação à governadora Raquel Lyra para cobrar a nomeação. Em seguida, os 29 foram chamados. No entanto, 156 permanecem sem saber quando serão chamados.
A reportagem entrou em contato com a Universidade de Pernambuco (UPE) e com o Governo do Estado para questionar sobre o posicionamento das instituições sobre o tema e o cronograma de nomeações dos concursados. No entanto, não obtivemos resposta até o fechamento da reportagem.
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Edição: Vanessa Gonzaga