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ARTE LGBTI+

Conheça Amun-há, primeira cantora de brega não-binária do Recife

Através do canto e de performances elaboradas, Amun-há fala de do brega e diz que a diversidade deve ser mais valorizada

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Amun-há em apresentação no festival Rec-Beat no carnaval de 2023 - Hannah Carvalho

“Porque por mais que o brega seja de todes eu acho que tava faltando representatividade”, esse é o diagnóstico de Amun-há, recifense autoentitulada a primeira não-binária na cena do brega na capital pernambucana.

No mês da visibilidade LGBTI+, O Brasil de Fato Pernambuco conversou com a artista, que fala do seu histórico na música e da necessidade de tornar a cena cultural mais inclusiva para a comunidade. Confira:

 

Brasil de Fato Pernambuco: Amun-há, como e quando você começou a cantar?

Amun-há: Assim como outras cantoras e outros cantores a igreja teve um papel muito grande nesse fluxo de cantar. Eu comecei a cantar na Igreja Católica quando eu fui batizada na Igreja Católica, com um seis, sete anos e aí eu comecei a cantar por querer cantar, não tava no Coro nem nada assim.. Eu comecei a cantar, gostava dos hinos, mas ninguém nunca me botava para cantar por ser aquela “bichinha afeminada” e aí eu nunca nunca ia na frente cantar, mas comecei a cantar lá.

Na minha eu comecei a morar no Rio de Janeiro e virei Adventista do Sétimo Dia e aí na igreja me disseram que eu cantava e me botaram para cantar e aí eu comecei a trabalhar mais vocal, técnica vocal e aprender um pouco. Foi o primeiro lugar que eu comecei a cantar. Depois disso, eu comecei a fazer teatro e aí no teatro eu já fui me desvinculando da igreja e transformando esse canto. 

Eu sempre escutei música internacional, música pop, música nacional também e aí depois que eu entrei na universidade comecei a me profissionalizar mais e decidi que ia cantar as minhas canções sobre o que eu quisesse falar, então faz alguns anos que eu canto, mas  mais profissionalmente assim desde 2019 que foi quando eu lancei “Quem vai Salvar” que é  a minha primeira canção.

BdF PE: Você se identifica como “a não-binária do brega” como foi pra você se inserir no mundo do brega funk no Recife?

Amun-há: Eu sempre gostei de Brega e o Brega Funk é o “bebê” do Brega né? No momento é o fluxo musical variante do Brega mais recente, que é mais juvenil, que é da nossa geração   depois de 2010, 2012, então o brega funk é bem recente. 

E aí pensando nesse fluxo musical, porque eu sempre achei que precisaria fazer parte de uma cena, de um estilo, de um eixo, hoje eu já não penso mais assim acho que a gente que compõe, que cria música, a gente pode cantar qualquer estilo musical, mas eu escolhi o brega funk para ser esse meu pontapé na música por gostar de brega funk, por amar, mas por não encontrar outra corpas e outras vivências que me representassem.  

Porque por mais que o brega ele ele seja de todes eu acho que tava faltando representatividade assim como o termo não-binária… O termo não-binária é algo que vem de fora que não é conversado, que não é discutido nas comunidades, nas periferias, nos lugares, acho que musicalmente trazer ele faz as pessoas pensarem “o que é não-binária?”  Vamos procurar saber ou vão em um show pra saber e eu me auto-intitulei a não-binária do Brega e hoje tenho um álbum.

Eu sou a primeira pessoa, a primeira travesti e não binária a lançar um álbum de Brega Funk que não é só Brega Funk, que tem Bregadeira, tem Brega Romântico, dá uma misturada mas o eixo principal é o Brega Funk. Essa cena não foi um convite né, essa cena pra participar, para ser uma cantora de brega funk , foi mais uma invasão mesmo, uma ocupação desse espaço e eu me sinto bem mas sinto que a cena não abre as portas para mim.

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BdF PE: Temos visto recentemente um crescimento de artistas drag queens e travestis ganhando destaque. Mas como você avalia a valorização dessas artistas no cenário local?

Amun-há: Eu acho que ser artista independente, independente de gênero e sexualidade, é bem complicado porque não é tão simples assim como as pessoas acham que é ser artista. É um trabalho diário intenso que vai desde a nossa vestimenta, nossa maquiagem, na produção de música, a produção de clipe, de show, trabalhar com banda. Então acho que o investimento para as pessoas LGBT’s que estão aí se jogando no fluxo musical precisa ser mais valorizado. 

Há um tempo que a gente tem artistas LGBT’s no Brega Funk, no Brega e em outros eixos musicais e infelizmente não é algo novo assim, sabe? Quando você pensa que quando eu me auto-intitulei a não-binária do brega não tinha não-binárias no brega e hoje pelas minhas contas a gente já tem umas quatro, cinco pessoas não-binárias que estão cantando Brega Funk também. A gente já tinha histórico de travestilidades no Brega Romântico, tem a Paulinha Lopes que é cantora da Takitá, que foi a primeira mulher trans cantora de brega há um tempo atrás mas…existiu, sempre existiu, sempre teve,mas essa valorização nunca foi tão forte assim.

BdF PE: Estamos no mês do Orgulho LGBT e gostaria que você convocasse as pessoas a conhecer mais tua música e o que você produz.

Amun-há: Quem quiser dar uma olhada no que eu já fiz em relação a trabalhos pode ir lá no meu instagram @amun.ha e aí lá dá pra ver futuros shows, vídeos de show que já foram, vai conhecer um pouco do pessoal que trabalha comigo, do meu balé,dos meninos que tocam comigo. Vai ver um pouco da minha identidade visual, de como eu vou mudando com o fluxo do tempo… E vocês podem me encontrar no Youtube, no canal Amun-há também e no Spotify, no Deezer, e pode me acompanhar e fica de olho porque vão vir novas coisas por aí esse ano ainda e aí a gente tá trabalhando pra isso.

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Edição: Vanessa Gonzaga