Para as culturas tradicionais, junho representa o tempo da colheita
Na segunda quinzena de junho, em várias regiões do Brasil, o clima é de festas juninas. Em São Luís e algumas cidades do Maranhão, os festejos do Bumba-meu-boi recordam costumes que vêm de séculos. Por todo o Nordeste, a fogueira e comidas de milho verde são acompanhadas por Quadrilhas e brincadeiras próprias da festa. Caruaru e Campina Grande disputam entre si quem tem o maior São João do mundo.
Para as culturas tradicionais, tanto dos povos indígenas, como das populações do campo e do sertão, junho representa o tempo da colheita do milho no Nordeste e no sul, a coleta do mate. Ainda há povos indígenas, para os quais esses festejos comemoram o início do ano novo. Na cordilheira dos Andes, as comunidades indígenas festejam o Inti-Rami, a festa do rei Sol, inscrita nos calendários oficiais da Bolívia, Peru e Equador. Na Argentina, Paraguai e sul do Brasil, os Guarani chamam este tempo de Ara Pyaú (Tempo Novo). É o batismo da erva mate, o ka’a nheemongaraí, cujas projeções sobre o ano novo são interpretadas pelo Xeramoi (pajé). Também se celebra a cerimônia de nominação, quando as crianças recebem o nome guarani dado pelo pajé. Devido a influências católicas, esse ritual é chamado de “batismo guarani”.
As danças juninas mais comuns vieram das cortes da Europa. Quadrilhas eram danças da nobreza europeia nos tempos da colonização. O povo se apropriou delas e as democratizou. Atualmente, nos chamados “casamentos caipiras”, figuras como a do padre e do juiz da roça são caricaturados. Assim, pessoas pobres que não têm voz na sociedade expressam sua crítica social e seu protesto. O fato de tomar como padroeiros das festas juninas Santo Antônio, São João Batista e São Pedro se vincula aos tempos em que tudo era religioso. Revela resistência cultural e liga esses santos à realidade dos pobres de hoje. O espírito dessas festas pede que as pessoas e comunidades possam ir além da criatividade com a qual ensaiam uma dança de quadrilha ou encenação caipira. É urgente ensaiar uma sociedade nova na qual todos e todas sejam protagonistas e restabelecer a dignidade da Política, colocada a serviço do Bem Comum.
Enquanto o povo brinca as festas juninas, políticos de direita se organizam para impedir o governo federal de cumprir suas metas e fazer o Brasil voltar. O presidente da Câmara mostra suas garras de coronel que faz política em função de si mesmo. O governo que, para vencer eleições teve de fazer acordo com ampla faixa de partidos e bancadas, é coagido a pagar preço altíssimo. Em meio a tudo isso, a governabilidade oficial, garantida pela relação entre os três poderes, acaba dificultando a comunicação direta do governo com o povo que continua sendo mais testemunha e assistente da politicagem dos grandes do que participante ativo em uma Política na qual todos possam ser cidadãos e cidadãs.
Para quem vive um caminho espiritual, religioso ou não, se trata de sinalizar o projeto de um mundo novo possível. Do seu modo e em sua linguagem lúdica, as festas juninas traduzem uma palavra que os evangelhos atribuem a São João Batista: “Mudem de vida porque o projeto divino no mundo está próximo!” (Mt 3, 2).
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga