Beatmaker, DJ, percussionista, cantora e compositora e, sobretudo, uma mulher lésbica paraibana. É assim que Luana Flores se apresenta e é com essa diversidade de funções que ela exerce a profissão de multartista, se alternando no canto, intrumento, discotecagem e na atuação e produção de visuais como o seu "Nordeste Futurista".
Aliando sons tradicionais e ancestrais do sertão, zona da mata e litoral paraibano, Luana se destaca nessa mistura que valoriza o passado e o conecta com o presente e o futuro. No programa Trilhas do Nordeste, produzido pelo Brasil de Fato Pernambuco, ela fala das suas referências e do seu processo de criação. Confira:
Brasil de Fato Pernambuco: Em que momento você entrou no mundo da música e quais são suas referências musicais?
Luana Flores: Eu entrei no mundo da música já faz um tempo, lá nos anos 2000, enquanto baterista de uma banda de hardcore. Da bateria eu fui pra percussão, fui dirigente de algumas batucadas, batucada feminista, do movimento Levante também lá em 2012, 2013... e aí em 2016 eu participei do grupo Coco das Manas, que foi uma coletiva de mulheres que se organizava lá na Paraíba pra sintonizar o coco de roda enquanto um instrumento de empoderamento feminino.
A partir dessa pesquisa é que eu consigo trazer o que as pessoas estão conhecendo agora da Luana Flores do presente que é essa mistura que eu provoco dos ritmos da cultura popular com o universo da música eletrônica, muito conectada com o universo da discotecagem; ao mesmo tempo que o coco das manas também tava nesse universo da discotecagem e aí eu fundi tudo nessa ideia, nessa provocação de enquanto uma mulher compositora.
BdF PE: Luana, estamos no mês de junho, de São João, época em que a celebração no Nordeste é forte e você mistura os elementos do forró e baião na sua música. Qual a importância do São João e dessa festa popular pra você?
Luana Flores: Eu particularmente tenho o São João enquanto uma festa muito afetiva, acho que muita gente do Nordeste sente isso, principalmente porque é o momento de colheita, de abundância, de prosperidade. Eu gosto muito dessa analogia de plantar de colher e acho que o São João traz essa coisa do pertencimento, das questões sonoras, visuais, culinárias, gastronômicas, o cheiro, o clima eu acho que tudo está muito conectado também com a sonoridade que eu proponho trazendo um pouco desse Baião, do Forró, mas como a roupagem diferente, trago um pouco também nas minhas composições um pouco dessa atmosfera do São João eu acho que tá super conectado e enfim, finalmente chegou a melhor época do ano.
BdF PE: Em 2021 você lançou o EP “Nordeste Futurista”, em que você mistura música eletrônica aos ritmos populares. Como foi esse processo de criação?
Luana Flores: Antes de lançar o disco eu tinha lançado uns quatro singles, testando, provando qual era o meu lugar dentro da música. Em 2019 lancei minha primeira música cantando, que foi muito impactante, se chama “Guerreira de Lança”, foi meu primeiro clipe também e aí a partir dessa música começou a provocação de cantar.
Eu vi que cantar impactava bastante é como se o que eu tinha para dizer podia se conectar com várias várias narrativas de outras pessoas e aí eu senti o poder disso. Em 2021 eu fiquei assim ‘cara eu quero lançar um disco, sabe?’ lançar um produto que tenha uma conexão com essa atmosfera que eu tô construindo aqui.
A grande questão que sempre bate é a questão do financeiro, então acabei fazendo uma campanha Pix para poder desenvolver esse EP, que depois eu até fiquei até apelidando de EPix porque foi graças a colaboração da galera que admirou meu trampo que eu consegui botar para frente o disco, que chegou com seis músicas e eu acho que foi uma narrativa bem desenhada, abrindo esses caminhos com minha avó me apresentando e sobretudo me colocando naquele lugar ali de mulher, lésbica, paraibana.
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BdF PE: Em 2022, após o lançamento do Nordeste futurista, você lançou um filme no formato de álbum visual em que traz esses elementos musicais, mas também a presença de personagens importantes da cultura paraíbana. Conta como foi isso.
Luana Flores: Quando eu penso o meu trabalho ele é muito audiovisual também, então toda vez quando penso em música, eu penso em roteiro, eu penso em visual , eu penso em narrativa e aí o rolê do álbum visual já era um desejo desde o início que eu tava desenvolvendo o disco Nordeste Futurista, sendo que mais uma vez a questão da grana, porque álbum visual é uma parada muito cara.
Quando chegou a Aldir Blanc 2 eu falei ‘velho, vou botar esse roteiro’. Ele nasce a partir das próprias conexões sonoras. Eu trago para o álbum visual as mestras de cultura popular aqui e quis trabalhar dentro desse também a Vó Mera, por exemplo; a Mestra Ana lá do Quilombo do Ipiranga, então a ideia era circular dentro de vários territórios, várias paisagens da Paraíba que eu sinto que tem conexão com o Nordeste futurista.
A gente começa pelo urbano, pelo concreto e aí depois a gente vai passeando para zona rural, a gente vai pro Quilombo do Ipiranga, de lá a gente vai para Barra de Mamanguape que já fica no litoral sul, vai pro litoral norte; do litoral norte a gente vai para o Sertão e do Sertão a gente tá se desdobrando em um percurso para si, eu enquanto filha de sertaneja, começo no litoral de que onde eu nasço, mas aí eu termino no sertão que é onde estão fincadas as minhas raízes.
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Edição: Vanessa Gonzaga