As religiões deveriam ser instrumentos de restabelecimento da Justiça e da Paz
No mundo atual, vivemos uma mudança de época, caracterizada pelo pluralismo cultural, pelo papel preponderante das informações, pelo aumento terrível das desigualdades sociais e pela ameaça à sobrevivência do sistema vida no planeta Terra, provocada pelo tipo de desenvolvimento predatório que a elite dominante da sociedade impõe a toda a humanidade, à mãe Terra e à natureza.
No Brasil, um congresso predominantemente de direita e dominado por descendentes dos velhos senhores escravagistas, se volta para mais um ataque violento e desonesto ao movimento social mais importante da sociedade brasileira: O Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST).
Em meio a essa realidade, as religiões deveriam ser instrumentos de restabelecimento da Justiça, da Paz e da luta por mais vida para todos. Infelizmente, grande parte de grupos religiosos e pessoas que falam em nome de Deus semeiam ódio, violência e divisão. Para isso, se servem de notícias falsas, inundam a sociedade com temores infundados e ameaças de perigos que não existem. Provocam a volta de espiritualidades barrocas que levam as comunidades religiosas a devoções que eram comuns na primeira metade do século XX. Como se a fé devesse responder ao mundo do tempo das nossas avós...
Diante dessa realidade, no Brasil, grupos cristãos, católicos e evangélicos aprofundam o desafio de viver a fé cristã como profecia do reinado divino no mundo. Além da responsabilidade de testemunhar em justa defesa do MST no processo de CPI que o Congresso armou, os irmãos e irmãs de todas as Igrejas comprometidas com o reinado divino se organizam para o que, no Brasil, se está chamando “o mutirão da profecia”.
Com profetas como o saudoso bispo Pedro Casaldáliga, se sentem com a missão de libertar as Igrejas da tendência de se constituírem como religiões ritualistas para se transformarem em comunidades de fé profética no seguimento do profeta Jesus de Nazaré.
Nesse segmento, esse mês de julho será marcado por vários eventos de peregrinações tradicionais do povo católico. No Centro-oeste, no primeiro final de semana de julho, é a festa do Divino Pai Eterno em Trindade- GO. No segundo final de semana, nas margens do São Francisco, onde fica o Santuário do Bom Jesus da Lapa, sertão da Bahia, as pastorais sociais organizam a Romaria da Terra e das Águas com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano sobre a luta contra a fome. Finalmente, de 18 a 22 de julho em Rondonópolis, MT, acontecerá o XV Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base com o tema: “CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas”.
O rito é elemento antropológico, comum a todas as culturas e é bom e válido, enquanto sinal (sacramento) de uma realidade maior que é o compromisso, explicitado no encontro das Cebs, de tornar a Vida mais vida para todos e todas. Os povos indígenas nos têm proposto o paradigma do “bem-viver”, visão espiritual, não ligada a uma religião específica. O bem-viver integra a terra, a natureza, os povos originários e a humanidade. Expressa uma cultura comunitária que tem como implicações práticas: o uso sustentável da natureza e dos recursos naturais, a importância da partilha, como fundamento de uma nova economia solidária, a realização de uma democracia direta e popular, baseada no diálogo e na solidariedade.
O Bem-viver nos faz confiar que é possível a grande Utopia da fraternidade (sororidade) universal entre todos os povos e raças e lutar pacificamente para que esse sonho possa se realizar. É o sonho divino da Vida plena que os evangelhos chamam de reinado divino.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga