Nossa sociedade machista tenta, das mais diversas formas, impedir que estejamos no campo
Daqui a pouco começa a Copa do Mundo Feminina, na Nova Zelândia e na Austrália, uma das maiores que já tivemos, com 32 seleções mundiais. Este ano, a premiação final será de 15,7 milhões de dólares - valor quatro vezes maior do que foi pago em 2019 - às atletas e aos times. No Brasil, estamos em uma fase alvissareira com o governo Lula e a ministra dos Esportes Ana Moser, ex-atleta de vôlei e bastante comprometida com a participação das mulheres nas mais diversas modalidades esportivas, bem diferente do que se viu nos últimos anos do ex-presidente Bolsonaro.
O fortalecimento do futebol feminino, profissional e amador, é uma prioridade deste novo governo. Além de propor ponto facultativo nos dias dos jogos, como uma maneira de chamar atenção da sociedade para a performance feminina, Ana, ao desembarcar na Oceania, ainda está incumbida de trazer para o Brasil a próxima edição da Copa. São vários os concorrentes, mas também é clara a disposição da ministra e do próprio Lula em fomentar, cada vez mais, o esporte no nosso país.
Nos próximos meses, a gestão apresentará uma estratégia nacional para o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil, que inclui, entre outras ações, a ampliação de investimentos, formação técnica e instalação de centros de treinamento voltados para as mulheres. O valor que se dá aos jogos masculinos ainda é extremamente discrepante em relação ao das mulheres, seja em relação aos salários supervalorizados ou no fomento ao esporte.
Nossa sociedade machista tenta, das mais diversas formas, impedir que estejamos no campo, seja nas arquibancadas ou mostrando o talento nato das nossas atletas com a bola. São inúmeras as violências que escutamos: “futebol é coisa de menino”, “mulher não entende nada de futebol”, sem contar com a importunação sexual, os estereótipos, os preconceitos de gênero. Ainda bem que a realidade contradiz e nos faz brilhar na FIFA: Marta, nossa melhor jogadora brasileira, já ganhou seis vezes o prêmio de melhor do mundo e capitaneia, mais uma vez, nossa seleção.
Aqui, no Recife, nosso mandato anda em consonância com o governo Lula. Além de aprovarmos a Lei (18.907/2022) de nossa autoria e sancionada pelo prefeito João Campos, que obriga os clubes de futebol do Recife a promoverem formação em direitos humanos para seus e suas atletas e categorias de base, também propomos um projeto de lei (PL 52/2023) que estabelece a manutenção das equipes de futebol feminino profissional, no Recife, como condição para a remissão de dívidas dos clubes com o Poder Público Municipal. Nosso intuito é estimular que as jogadoras possam ter um espaço contínuo para mostrarem seus talentos, de forma digna e valorizada.
Este último projeto está em tramitação na Câmara Municipal e aguarda a votação no plenário. Estamos juntando esforços, junto às diretorias femininas do clube, para que possamos tirar do papel e abrir mais espaços para nossas meninas. Quando fui secretária da Mulher do Recife, nossa equipe elaborou um “Manual de como não ser um babaca no campo de futebol”, em parceria com o clube Náutico, para promover igualdade de gênero dentro dos estádios e mostrar que mulheres entendem do que elas querem, inclusive de futebol. Respeito às nossas potências deve ser a base de um projeto feliz de país. Contem comigo, e com o nosso mandato, para pavimentar tais estradas.
No mais, fica aqui o meu desejo de boa sorte a todas as jogadoras brasileiras. Estarei atenta à transmissão dos jogos e espero que possamos mostrar o nosso futebol-arte, intrínseco no nosso DNA cultural. Um novo tempo começa agora e o Brasil tem tudo para trilhar bons e prósperos caminhos. Tragam a taça, mulheres! Estamos aqui para celebrar vocês!
Edição: Vanessa Gonzaga