Reunindo uma população que ultrapassa meio milhão de habitantes e com um dos pólos universitários do Semiárido brasileiro que reúne campi de universidades federais, estaduais, e particulares, surpreendentemente, o Vale do São Francisco não possui nenhuma grande livraria. Assista:
Na região, o acesso à leitura é feito através dos sebos, nome que se dá ao comércio de livros seminovos. Um desses espaços, localizado na cidade de Juazeiro, na Bahia, é o Sebo nas Canelas. Fundado em 2019 como uma forma de geração de renda emergencial, hoje o espaço é mais que um ponto de venda e troca de livros.
Marina Reis, proprietária do estabelecimento, conta como ele surgiu. “O Sebo nas Canelas surgiu no finalzinho de 2019, com minha sócia Camila Roseno, Ela fundou o Sebo numa tentativa de sobrevivência e de estudo. Ela precisava vender os livros para comprar livros e poder concluir o doutorado dela. Um amigo na mesma situação cedeu uma estante de livros e ela foi vendendo um, vendendo outro, mais pessoas surgiram e foi assim que surgiu nosso modelo de negócio que funciona até hoje, que é a consignação”, explica.
Leia: Armazém da Caatinga: um espaço de valorização da agricultura familiar no Vale do São Francisco
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro (IPL), realizada em 2019, aponta que a região Nordeste é a que mais lê no Brasil, mesmo tendo apenas 16% das livrarias do país concentradas na região, de acordo com a Associação Nacional de Livrarias (ANL). Dessa forma, os sebos são uma ferramenta importante para democratizar o acesso à leitura.
Localizado no centro da cidade, ao lado de pontos turísticos como o Museu Regional do São Francisco e a Catedral de Juazeiro, Sebo nas Canelas fica numa travessa que já foi conhecida como beco da cultura. Aproveitando essa relação histórica do espaço, o sebo vai além de um espaço comercial e promove também rodas de debate, lançamentos de livros e programações culturais abertas ao público.
Marina ressalta que o objetivo é valorizar a cultura juazeirense: “Por mais que nosso espaço seja pequeno, seja recente, a gente se esforça bastante para complementar essa ausência que está acontecendo. A gente produz muitos artistas incríveis. Inclusive aqui no Sebo a gente trabalha com escritores locais que são incríveis, que tem uma produção de muita qualidade e que produzem muita quantidade também e esses artistas hoje não tem espaço pra estar disponibilizando suas obras, pra fazer recital, para estar vendendo seu produto”.
Um outro diferencial do espaço é a variedade. Além dos livros didáticos, o sebo conta com centenas de livros e tem o maior acervo de mangás e histórias em quadrinhos do Vale do São Francisco.
Leia: No Vale do São Francisco, coletivo Carrapicho Virtual pauta direito à comunicação para jovens
A movimentação do espaço ao longo do dia não deixa dúvidas de que a população da região se interessa por literatura e que as lojas físicas tem sim um público fiel.”Para as livrarias é muito difícil continuar no jogo. Porém, nos últimos cinco anos a gente vê um crescimento das pequenas livrarias, principalmente as que trabalham com a economia circular e eu acho que os sebos conseguem fazer isso de uma forma muito boa, porque usam a própria cultura e o conhecimento pra fazer o dinheiro circule entre os interessados em literatura”, aponta Marina.
Quem se interessou, pode saber mais dos títulos à venda no sebo através do Instagram @sebo_nascanelas, que faz vendas para todo o Brasil.
Edição: Vanessa Gonzaga