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A 7º Marcha das Margaridas e a continuidade de uma longa história de luta

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Na década de 80, Margarida Alves se tornou a primeira mulher a presidir um sindicato de trabalhadores rurais - Reprodução
Margarida não foi esquecida e sua dolorosa morte se tornou um grande símbolo de luta e memória

Margarida Maria Alves hoje é um nome que traz consigo a história da luta das mulheres no Brasil e no Mundo. Margarida foi presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, em Alagoa Grande, cidade na Paraíba. Pioneira do feminismo camponês popular, foi uma das fundadoras no Movimento de Mulheres do Brejo, assim como do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, que tinha como base a educação popular.

Em 2023, durante os dias 15 e 16 de Agosto, a Marcha das Margaridas terá sua sétima edição na capital federal. Sendo um espaço importante na articulação e acumulação de forças feminista no Brasil e América Latina, e que carrega o nome de Margarida como continuação de suas lutas e vitórias, tendo o objetivo de diálogo político com o Governo Federal, por meio de suas pautas, da denúncia e da pressão ao Estado.

Assassinada a tiros por mando de latifundiários da região, no ano de 1983, na casa na cidade onde vivia em Alagoa Grande, Margarida não foi esquecida e sua dolorosa morte se tornou um grande símbolo de luta e memória em torno dos movimentos de mulheres e dos movimentos de trabalhadores, sejam eles rurais ou urbanos. Margarida floresceu e segue florescendo, e a cada 4 anos a Marcha das Margaridas é realizada, dando frutos à tudo aquilo que Margarida dedicou sua vida.

A Marcha das Margaridas que teve seu nascimento no ano de 2000, contou desde o início com a organização central da CONTAG (Confederação Nacional dos trabalhadores na Agricultura), FETAG (Federação dos trabalhadores na Agricultura) e STTRs (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais). O MST (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra), assim como outros movimentos que integram a Via Campesina também fazem parte da organização da Marcha.

Ao longo dos anos outros movimentos sindicais, feministas e movimentos de mulheres, - sendo a Marcha Mundial de Mulheres um importante exemplo desses movimentos - passaram a integrar toda a organização da marcha, tanto para os dias do evento em si, como para todo o processo de debates em torno das pautas, formações políticas e mobilização, que traz alguns temas centrais como, por exemplo, as condições de vida do mundo do trabalho, reforma agrária, soberania alimentar, direitos reprodutivos das mulheres, entre outros.

As três primeiras Marchas realizadas no ano de 2000, 2003 e 2007 tiveram como tema a luta por justiça no campo e contra a fome, pobreza e violência de gênero. A primeira delas, em 2000 conseguiu reunir 200 mil mulheres em Brasília, um feito histórico para o movimento feminista. As Marchas realizadas em 2011 e 2015, durante o governo Dilma Rousseff, debateram sobre desenvolvimento sustentável, justiça, autonomia e liberdade. Em 2019 ocorreu a 6° edição do evento, que contou com um número crescente e plural de movimentos que assinaram a organização. Apesar do momento político que era vivido no país, conseguiram reunir cerca de 100 mil mulheres.

A vitória eleitoral em 2022 do presidente Lula marca um importante momento na história recente do nosso país. Após seis anos de grandes retrocessos, especialmente no tocante às condições trabalhistas, violência no campo e questões de gênero, temos agora uma possibilidade de respiro, para assim, poder organizar as lutas, os movimentos, partidos e as massas em torno da relação com o governo e das formas de pressionar em torno dos direitos e condições de vida da classe trabalhadora. É momento de repensar estratégias de luta, mas sobretudo de voltar às ruas.

E é dentro desse cenário que a Marcha das Margaridas volta a Brasília no ano de 2023, trazendo milhares de brasileiras e mulheres de todo o mundo, com uma expectativa de diálogo com o governo e com a ministra das mulheres, Cida Gonçalves, que tem uma longa história de atuação em movimentos feministas. A ministra, que já acenou de forma positiva para as reivindicações que estão sendo trazidas pela Marcha, vem mantendo uma boa comunicação com as lideranças do movimento. Assim como a ministra Cida, é esperado que outros ministros e ministras participem durante os dias 15 e 16, e também em demais espaços de diálogo, alguns deles são: Marina Silva, Nísia da Trindade, Anielle Franco, Luciana Santos, o Ministro Wellington Dias, entre outros, assim como demais autoridades do governo federal.

Trazendo o tema “Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”, a 7º edição da Marcha das Margaridas, em documento, evidencia alguns projetos de lei que tem impacto negativo na vida das mulheres, e que portanto são contra. Ainda no documento explicitam que são guiadas a partir de um feminismo anticapitalista, antiracista e antipatriarcal e que “reflete cada uma de nossas realidades”.

O documento que divide as pautas trazidas em um total de 12 eixos, fala sobre democracia participativa e soberania popular, participação política das mulheres, autonomia das mulheres sobre seu corpo e sexualidade, proteção da natureza, justiça ambiental e climática, democratização do acesso à terra, direito de acesso e uso da biodiversidade, segurança alimentar, autonomia econômica, saúde, previdência e assistência social, educação pública e educação no/do campo. Cada um dos 12 eixos bem com elaborações de propostas “que fortaleçam a vida das mulheres”, fruto de muitos debates, estudos e pesquisas.

A Marcha das Margaridas é fruto de muito esforço, dedicação e luta, e é um dos maiores movimentos de mulheres de toda a América Latina, conseguindo aglutinar mulheres, movimentos e organizações de diversos países na luta em comum em prol da democracia e da vida das mulheres. Mesmo estando em um governo eleito com a participação ativa das mulheres, a luta e a pressão popular continuarão.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga