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O povo quer, o povo pode (ou: a alegria das pequenas vitórias)

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"Vitórias tiveram características em comum: união em torno de pautas objetivas, estratégias de sensibilização da sociedade em vias públicas, compromisso com o resultado e diálogo institucional" - Mídia Ninja/Reprodução
Quando há pessoas organizadas e comprometidas na luta por um direito, elas sempre vencem

“Quem defende os direitos humanos nunca vai ficar sem trabalho pra fazer”. Ouvi essa frase pela primeira vez faz uns vinte anos, da boca de um padre que atuava na luta para fechar a Escola das Américas, uma instituição estadunidense onde foram (e são treinados) os militares que fizeram a festa dando golpe por toda a América Latina desde os tempos da Guerra Fria. 

A frase indica uma escalada à Sísifo, interminável e penosa, em busca de algo que nunca chega. Duas décadas de militância depois, confirmo a veracidade da afirmação. Mas o que ela esconde precisa ser dito. Sim, a luta nunca acaba. Mas, sim, as vitórias sempre chegam pra quem vai atrás dos seus direitos. A verdade é a seguinte: quando há pessoas organizadas e comprometidas na luta por um direito, elas sempre vencem. 

Sempre vencem, sim. Nem sempre a vitória vem completa. Nem sempre vem no tempo que a gente gostaria e nem sempre todo mundo vai usufruir dos seus resultados. Mas que avança, avança! E esse é um pensamento que cada vez mais me move. Não quero nem falar agora de questões maiores, como o esforço que interrompeu uma escalada eleitoral do fascismo no poder executivo do Brasil ou mesmo as crescentes e numerosas vitórias alcançadas pelos movimentos feminista, de negritude e da turma LGBTQIA+. Ainda tá ruim? Tá ruim! Mas entre ações afirmativas, criminalização da discriminação e aumento da representação institucional desta turma toda, não tem como dizer que não estamos caminhando. 

Tem muuuuuuita coisa grande pra se conquistar e o momento global nem é de tanta celebração. Mas sabe o que eu estou curtindo mesmo hoje em dia? As pequenas vitórias. Os resultados alcançados por gente que simplesmente se junta porque está vendo alguma coisa errada. Se organiza, se planeja, se compromete e consegue.

Foi assim quando, há dez anos, uma turma do bairro das Graças enfrentou um projeto da prefeitura e conseguiu substituir faixas expressas para carros por um parque urbano na margem do Rio Capibaribe. Ou quando, ainda antes da pandemia do Covid, comerciantes informais da Conde da Boa Vista se juntaram pra demandar mais espaço na avenida que estava sendo reformada: e mais que dobraram a quantidade de quiosques disponíveis para que pudessem trabalhar.

Já este ano, estava presente quando a Comunidade das Flores, em Afogados, demoveu a gestão municipal da ideia de demolir 40 casas para a urbanização do Canal do ABC e também quando o grupo do Viva o Parque 13 de Maio se organizou para, entre outras coisas, reabrir as portas do maior parque do centro da cidade. Pode parecer até esquisito ter que se organizar pra se abrir portão de parque. Mas o exemplo vale demais pra dizer que de braço cruzado nem isso a gente ganha.

Praticamente estas vitórias tiveram características em comum: união em torno de pautas objetivas, estratégias de sensibilização da sociedade em vias públicas, compromisso com o resultado e diálogo institucional. Todos, todos esses sucessos foram conquistados com ações realizadas no mundo real. Lógico que a rapaziada usou a internet pra se comunicar. Mas na hora do “vamo ver”, tava todo mundo botando seu corpitcho na roda e fazendo as coisas acontecerem. Te garanto: é muito mais gostoso do que tretar com coleguinha em rede social.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga