Existindo há 31 anos, o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no agreste pernambucano, se consagra como um dos maiores festivais de inverno do país. A programação, que geralmente dura cerca de dez dias, varia entre 25 polos com shows no palco principal, em palcos alternativos, apresentações nas ruas, encontros e uma diversidade de atividades educativas. Assista:
Mas neste ano, o protagonista da edição foi o desentendimento entre a gestão da cidade de Garanhuns e o Governo de Pernambuco. Nesta segunda (31), logo após o encerramento da edição de 2023, uma postagem da conta no Instagram do FIG, administrada pelo Governo do Estado, agradeceu a participação do público e anunciou as novas datas do festival: 18 a 28 de julho de 2024.
Já o prefeito Sivaldo Albino (PSB) publicou nas redes sociais que em 2024 o festival acontecerá com a organização da gestão municipal “Ano que vem realizaremos sim o FIG pela Prefeitura de Garanhuns, com muitas parcerias [...] Vamos reerguer o Festival de Inverno de Garanhuns, o nosso FIG”, declarou o prefeito em sua conta no Instagram.
A polêmica não é recente. No mês de junho, em vídeo publicado nas redes sociais, Sivaldo lamentou a falta de comunicação da governadora Raquel Lyra sobre as datas do festival que ela havia divulgado em suas redes sociais.
“O que não pode, governadora, os que fazem a FUNDARPE, a Secretaria de Cultura do Estado, é divulgar a data deste evento tão importante como é o FIG para nossa cidade, região, estado e país, sem que o prefeito da cidade tenha conhecimento da festa que vai ser realizada na cidade que ele administra” disse o prefeito.
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Passado o embate sobre as datas do festival, uma outra surpresa afetou o FIG. Às vésperas do festival, o até então Secretário de Cultura de Pernambuco, Silvério Pessoa, elaborou um documento onde anunciou a saída do cargo.
No seu anúncio de saída em sua conta no Instagram, Silvério escreveu “despeço-me do cargo com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo, valorizando nossos artistas e suas mais variadas expressões e linguagens inseridas também nas culturas das periferias em todo o estado”.
“Um momento bem delicado”
A cantora parnambucana Isaar foi uma das artistas que fez parte da programação de abertura do festival neste ano, que contou, ao longo dos dez dias, com shows de Lenine, Nação Zumbi, Arnaldo Antunes, Maneva, Tiago Iorc e Priscila Senna.
Com um show que resgata suas composições e celebra a valorização dos artistas locais, ela comentou o sentimento da estreia: “Você subir num palco principal para abrir o festival em um momento onde o secretário, que é um artista, ele sai numa situação que a gente não entende direito, aí você tá ali de porta voz da abertura de um festival nesse contexto, pra mim foi um grande desafio, porque você não sabe o que acontecendo e você tá ali… vamo mostrar o trabalho, o público tava lá, tava querendo, mas eu achei politicamente, artisticamente, um momento bem delicado”, lamentou.
Mas, apesar de todos esses problemas, o festival de inverno de garanhuns aconteceu e continua sendo uma vitrine da cultura pernambucana, como pondera a artista. “Ele [o FIG] precisa dialogar, trazer a discussão da arte, da cultura, da música, do teatro, do show, da dança… ele precisa ser esse espaço de culminância da nossa cultura e aí, trazer shows que representem a política cultural do estado”, finaliza Isaar. Agora, é esperar os desdobramentos para a edição de 2024.
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Edição: Vanessa Gonzaga