À medida que as chuvas chegam aos grandes centros urbanos, elas destacam uma série de desafios, incluindo problemas sociais e estruturais já existentes. Por outro lado, no sertão, embora a chuva também evidencie alguns problemas, parte dela é considerada uma bênção para os agricultores que, com inovação e tecnologias sociais, encontraram maneiras de aproveitar ao máximo esse recurso. Assista:
A espera sertaneja pela chuva é marcada por previsões e pela fé. Em algumas cidades do Nordeste, os profetas das chuvas estipulam o período chuvoso na região através de crenças e saberes populares.
O período chuvoso é, em determinados períodos do ano. confirmado devido às mudanças climáticas, como explica o meteorologista Patrice Oliveira. “Tudo isso está ligado com sistemas meteorológicos que atuam na nossa região e na cultura popular as pessoas observavam esses sistemas sem precisar de satélite, sem precisar medir chuva... eles vivenciam esses sistemas e passavam de geração a geração”, explica.
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Como a região sertaneja é semiárida, as chuvas tendem a ser rápidas e irregulares. Essa área geralmente está mais distante dos principais sistemas de circulação atmosférica que trazem umidade, como frentes frias e massas de ar úmidas vindas do oceano e isso dificulta a chegada de precipitações no sertão.
Diferente das regiões úmidas, em que a chuva acontece em períodos longos, no Semiárido o período chuvoso dura em média quatro meses, conhecido como quadra chuvosa. Patrice explica: “os sistemas de chuvas tem curto espaço de tempo. Ele atua durante quatro, cinco meses no máximo, o restante do ano não têm atuação do sistema meteorológico que faz chover. No sertão as chuvas iniciais ocorrem de fevereiro a maio, sendo março o mês mais chuvoso, mas geralmente chove entre 600 a 700 mm por ano no semiárido”
A convivência de famílias agricultoras com as características climáticas do Semiárido facilita a adaptação durante a estiagem com bastante sabedoria. Partindo dos conhecimentos adquiridos na prática, tecnologias sociais são desenvolvidas a fim de preservar e fazer um bom uso da água da chuva.
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Para se prevenir dos efeitos da estiagem, a agricultora Filomena Donato, do município de Curaçá, no norte da Bahia, tem em casa tecnologias sociais de reúso de água das chuvas que dão uma outra perspectiva para o uso de água na região. “Eu tenho uma cisterna de consumo que eu ponho pra encher, tenho a de produção que é aquela de calçadão que também encho e quando estão cheias vou ajeitando em baldes, em dorna, em caixa porque aqui a gente fica feliz quando está chovendo”, elenca a agricultora.
Com a política de armazenar a água para fazer um uso inteligente, as famílias tem água para todas as atividades, como explica Filomena “A gente não vive sem água, mas hoje a gente tem água e molha as plantas, dá aos animais… tudo isso. Quando chove aqui, a gente tem uns canteiros que a gente planta hortaliça, a gente aproveita também a água da cisterna de produção para molhar [as plantas], é muito boa a água na nossa comunidade”
Com o tempo, as famílias sertanejas vão ampliando o uso das tecnologias sociais para fazer um melhor uso da água das chuvas e aprimorar a convivência com o semiárido, mostrando que hoje a vida no sertão é bem diferente do que se costuma imaginar.
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Edição: Vanessa Gonzaga