Há quatro décadas, o casarão do século XVII localizado no bairro Madalena, no Recife, abriu as portas como o Museu da Abolição. O museu ganha esse nome devido a uma hospedagem de férias que o conselheiro João Alfredo, que era abolicionista, fez no Recife. Confira:
De acordo com Daiane Carvalho, museóloga do MAB, nos primeiros vinte anos de existência, o museu pautou a abolição baseada na história contada pelas pessoas não negras, mas que essa perspectiva passa a ser questionada.
A museóloga explica a mudança nas questões que o museu levanta: “E aí em 2005 ele [o museu] repensa: o que eu estou fazendo? Eu tô representando uma comunidade pra falar de um processo que diz respeito… até que ponto diz respeito a esta comunidade que eu tô representando a partir da história oficial que é a abolição oficial? E então ele começa a trabalhar a questão negra, a se auto identificar enquanto negro, protagonista da própria história, enquanto responsável pelo processo de abolição e começa a repensar a questão da escravidão em si”.
Desde então, o Museu da Abolição é um espaço cultural que busca preservar, valorizar, difundir e expor a memória e a cultura afro-brasileira. Com a promoção de atividades formativas, ações referentes a direitos humanos e políticas públicas e cursos voltados para professores da rede pública, o MAB reforça o compromisso com a educação e a transformação social.
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Além das exposições, o MAB também realiza espaços educativos como forma de colocar o espaço como uma ferramenta para a consciência social. “O Museu está a serviço da população negra e indígena e isso foi uma demanda que a gente recebeu dentro de um processo de construção participativa. Dar voz, pertencimento, espaço para que esses grupos ocupem o Museu é a pauta do dia. E a gente tem feito isso através das atividades educativas e expositivas”, explica Fabiana Sales, diretora do Museu da Abolição.
Depois da reforma ideológica, o museu passou por uma reforma estrutural que durou três anos. Com o projeto Canteiro Aberto, artistas se apresentaram no espaço enquanto a mudança acontecia.
A iniciativa, segundo Fabiana, animou os artistas que tiveram a oportunidade de mostrar ao público, através do museu, sua produção “Pessoas que nunca imaginaram que poderiam ter uma obra sua, uma peça sua dentro de um museu, quanto mais dentro de um casarão do sec. XVII que costuma ser um espaço extremamente pouco convidativo para essas camadas da população”, diz a diretora.
O Museu da Abolição funciona de segunda a sexta, das 9 às 17 horas, e nos sábados das 13 às 17h. Para conhecer mais sobre o museu e agendar uma visita acesse museudaabolicao.museus.gov.br
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Edição: Vanessa Gonzaga