Pernambuco

Coluna

Os políticos e as fraldas

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" Concluir até dois mandatos consecutivos de qualquer cargo é um princípio de minha entrada na política"
" Concluir até dois mandatos consecutivos de qualquer cargo é um princípio de minha entrada na política" - PH Reinaux/Brasil de Fato
É preciso fazer a roda girar e fazer com que a renovação aconteça

Não há limites para a reeleição no legislativo brasileiro. Pela lei, qualquer pessoa pode passar a vida inteira numa mesma casa parlamentar, desde que tenha votos suficientes para isso. O resultado dessa possibilidade são câmaras e assembleias com pouca possibilidade de renovação. Não raro, políticos tradicionais acumulam mandatos a partir do uso da estrutura e da visibilidade de seus gabinetes e do recebimento de maiores parcelas dos recursos públicos destinados às campanhas através dos partidos. Isso tudo quando não ‘herdam o patrimônio político’ de um ascendente familiar, perpetuando a chamada ‘bancada do DNA’ que existe em todo canto.

Na primeira sessão legislativa deste segundo semestre, fui o primeiro vereador a falar na tribuna da Câmara do Recife. Em meu discurso, afirmei que não me candidatarei à mesma vaga nas próximas eleições. Não foi uma decisão recente. Concluir até dois mandatos consecutivos de qualquer cargo é um princípio de minha entrada na política, desde que assinei a ficha de filiação do PSOL no meio de uma passeata contra o golpe, em março de 2016. 

Ainda que não haja nenhum impedimento legal a um possível terceiro mandato como vereador do Recife nas próximas eleições, é preciso fazer a roda girar e fazer com que a renovação aconteça. Dar um passo para o lado (jamais para trás!) é um gesto que vai incentivar com que mais pessoas ativistas sociais que acreditam na transformação da política se animem para também disputar as instituições.

A verdade é que nunca vivemos numa democracia consolidada. Mesmo a democracia formal, este mecanismo com que a população escolhe quem a governa e representa através de regras (nem sempre justas) é capenga. Basta dizer que apenas cerca de 10% de quem tem título eleitoral faz parte das fileiras de um dos 30 partidos registrados no TSE. Some o fato de que a maioria dessas legendas funciona de forma vertical e cartorial (pra não dizer que “têm dono”) e perceba o quão longe estamos de um Estado em que a maioria de fato é protagonista das decisões sobre o que é de todo mundo. Em outubro do ano que vem haverá eleições em todos os municípios do Brasil. Ao chegar nas urnas, as pessoas encontraram um punhado de opções que foram colocadas pelas direções partidárias. Deixar de incidir sobre elas é, na melhor das hipóteses, inocência ou falta de informação.

Discordar da própria permanência à frente de um gabinete parlamentar não pode, porém, ser confundido com a desistência da participação. Muito pelo contrário. Sigo cada vez mais ativo e nesse momento divido as atenções da Câmara com a participação no Congresso Nacional do meu partido. Só em Pernambuco, são mais de 14 mil pessoas filiadas que terão agora a prerrogativa de conduzir os rumos do PSOL pelos próximos três anos. Se teremos candidaturas majoritárias em que municípios, que campanhas terão mais recursos, que tipo de alianças podemos fazer. Tudo isso será decido a partir dessas disputas internas que também demandam esforço. Eu estou com meu grupo defendendo, entre outras coisas, que a gente tenha uma candidatura massa para a prefeitura do Recife. Isso já é 2024 (e 2026!) na veia e quem não participar vai ser condenado a gostar ou ficar reclamando na mesa do bar.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga