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Coluna

A luta do povo palestino por liberdade também é nossa

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" necessário criarmos condições na sociedade para que o apoio se torne maior, combatendo notícias falsas, políticas que giram em torno de questões religiosas, e visões fundamentalistas" - Lucas Maia/ Brasil de Fato
Residentes da Faixa de Gaza têm suportado condições desumanas devido ao cerco imposto pela ocupação

Nesse momento da história global onde as atenções de todos estão voltadas para a escalada crescente da violência contra a Palestina por Israel, é preciso que tomemos controle da narrativa. A mídia hegemônica procura passar uma mensagem de forma parcial e tendenciosa, tentam enquadrar o Estado de Israel como vítima e apontam números de mortos a partir de notícias falsas e sensacionalistas, sem fazer o devido serviço de mostrar os dados reais em relação à Palestina, além de lhes taxar de terroristas. 

Para nós brasileiros, ao pensarmos em um projeto de país, não podemos excluir o sentimento internacionalista deste mesmo projeto, e o que nos conecta enquanto povos subjugados, e a partir disso quais bandeiras nós defendemos e levantamos e o porquê. Faz parte da nossa tarefa não apenas hoje, mas sobretudo hoje, denunciar e divulgar a crise humanitária, os crimes de guerra e a limpeza étnica que o Estado de Israel pratica contra o povo Palestino.

Tudo isso, desde o dia 7 de outubro tem tomado proporções muito maiores e devastadoras, e com uma intencionalidade muito bem demarcada, sob a justificativa de auto defesa. É nesse sentido reiteramos: a luta do povo palestino por liberdade e autodeterminação é também a nossa luta. O que acontece agora não é um evento isolado e muito menos gerado por razões circunstanciais, mas algo que faz parte de toda uma construção histórica e de 75 de apartheid e colonização. 

Um momento que é necessário destacar, - mas que não marca o início das questões políticas e territoriais - é a Partilha da Palestina pela ONU em 1947, onde ocorre a criação de um Estado Árabe e um Estado Judeu - divisão essa que foi feita de forma injusta para o lado Árabe. No entanto, apesar dessa resolução, os sionistas ocuparam cidades e vilas que pertenciam ao lado árabe, dizimando cerca de 250 pessoas e anexando territórios, antes mesmo da criação oficial do Estado de Israel, forçando o povo palestino ao exílio. A Nakba, em 1948 faz parte da história da Palestina, e não pode ser desconsiderada ao pensarmos na situação atual dos conflitos e a sua compreensão. 

À luz do genocídio levado a cabo pela ocupação sionista contra o povo palestino na Faixa de Gaza e da preocupação global com a solidariedade para com o criminoso, afirmamos o direito histórico de lutar pela liberdade, justiça e autodeterminação, contra todas as formas de perseguição que nós suportamos por 75 anos. Desde 1948, Israel deslocou à força mais de 800 mil palestinos das suas terras e levou a cabo os piores tipos de massacres, resultando na destruição de 531 aldeias palestinas.

A ocupação abrangeu 78% da área terrestre da Palestina, levando ao estabelecimento do estado sionista após o deslocamento de mais de 85% da sua população. A população sobrevivente tornou-se refugiada na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e nos países árabes vizinhos. As forças de ocupação israelenses ocuparam as terras palestinas restantes após a guerra de 1967. Desde então, os residentes da Faixa de Gaza têm suportado condições desumanas devido ao cerco imposto pela ocupação israelita desde 2006. Este cerco levou a sanções que afetam os direitos básicos da população, impondo severas restrições à entrada de medicamentos, bens, combustível, a circulação de indivíduos, o acesso aos recursos naturais, à água e à pesca.

Durante a segunda metade do século XX outras guerras ocorreram e, assim, Israel conseguiu expandir ainda mais seu território, de forma ilegal. Entretanto, apesar de toda a expansão colonial, esse foi também o cenário do surgimento de movimentos nacionalistas de forte cunho anti colonial, e que também demarcam a história de resistência palestina. O século XXI está também muito longe de ser um momento calmo e tranquilo, como já trazido, sendo cenário de diversos ataques, mortes e um terrorismo sem igual praticado pelo Estado de Irsael ao longo dos anos. Também é importante destacar que, apesar da divisão feita pela ONU, a mesma só reconheceu o Estado da Palestina no ano de 1988. 

 Atualmente o que tem se visto muito forte a partir dos meios de comunicação hegemônicos ao redor do mundo é o apagamento de anos de história e de colonização, para se criar uma imagem positiva de Israel, com todo o apoio de das potências imperialistas, sendo o governo estadunidense o maior e mais forte aliado do Estado de Israel, por ser uma área importante estrategicamente para eles. A Faixa de Gaza sofre há anos com os ataques e com todas as violações e crimes de guerra, como, por exemplo, o uso do fósforo branco, um tipo de arma química que tem seu uso proibido e também ao matar médicos, jornalistas, crianças, idosos e demais civis de forma premeditada e intencional.

A situação em Gaza, de um cerco total, se intensificou muito nos últimos dias, é grave e fere todas as leis do direito internacional, massacrando, de forma aberta para o mundo ver milhares de pessoas, fazendo vítimas reais, com nome, família, histórias, mas que não recebem a atenção devida dos governos e da mídia ocidental. 

Somada a situação vivida em Gaza, comparada com a situação dos campos de concentração nazistas, toda a população ao longo dos vilarejos e cidades da área da Cisjordânia também sofre com os abusos, violações, pontos de checagem, vigilância, assentamentos e toda a política de violência colonialista que parte da ocupação israelense, não havendo paz, nem segurança para todo o povo palestino, sofrendo com a ocupação sionista e sendo privados também de itens de necessidade básica.

A ocupação Israelense tenta isolar a Cisjordânia do resto dos territórios ocupados da Palestina. Estas políticas visam exercer pressão sobre a população e expulsá-la das suas terras. Desde 7 de Outubro, as forças de ocupação prenderam 930 palestinianos da Cisjordânia, elevando o número total de detenções desde o início de 2023 para mais de 6.000 casos, e também assassinaram mais de 70 palestinos. 

As forças de ocupação também estão bombardeando escolas e hospitais onde famílias procuraram abrigo depois de terem perdido suas casas. As forças israelenses bombardearam um hospital palestino depois que centenas de famílias foram deslocadas para lá, causando a morte de mais de 500 pessoas, incluindo feridos, doentes, deslocados e crianças. Mais de 47 famílias, incluindo 500 cidadãos, foram completamente retiradas do registo civil devido aos massacres em várias cidades e campos da Faixa de Gaza. A situação humanitária na Faixa de Gaza é angustiante e horrível. Mulheres feridas procuram os seus filhos nos escombros e centenas de crianças foram resgatadas sem que ninguém soubesse a sua identidade ou quem eram os seus pais. Isso porque todos os familiares faleceram, deixando a criança sozinha. Uma das ações mais horríveis das forças de ocupação foi ordenar aos civis que evacuassem as suas casas em preparação para o bombardeamento, e depois bombardeá-los enquanto estavam deslocados e em busca de segurança dentro de hospitais.

Esta ocupação brutal persiste em cometer as injustiças mais flagrantes contra o nosso povo, e é pelo acesso aos dados e informações reais que nós vamos compreender a dimensão do genocídio que ocorre. Desde 7 de Outubro de 2023, a ocupação israelense continua a visar a população civil. No décimo quarto dia de guerra, o número de crimes da ocupação atingiu pelo menos 4.218 mártires palestinos, incluindo mais de 40% dos quais são crianças, e 13.400 feridos. Destruiu casas junto com seus residentes e teve como alvo hospitais e equipes de ambulâncias. O número de pessoas deslocadas já ultrapassou 1 milhão, o que representa metade da população de Gaza. Estas pessoas vivem em condições desumanas, sem acesso a água, electricidade ou alimentos, apenas aguardando o seu destino, especialmente porque existem 7 hospitais na Faixa de Gaza de serviço, com medicamentos, suprimentos médicos e combustível acabando.

É, então, a partir dessa realidade trazida que questiono: qual a responsabilidade do Estado de Israel em toda a situação que agora se passa? Por que é tão difícil que essa responsabilidade caia em torno daqueles que construíram, durante anos, essa política genocida? Apesar do governo atual de Netanyahu, de extrema direita, as políticas não surgiram e não foram implementadas agora, elas apenas tomam um novo redirecionamento do governo. É também necessário responsabilizar o governo dos EUA, que votou contra a entrada de ajuda humanitária e a abertura de corredores humanitários, que foi proposto pelo governo brasileiro no Conselho de Segurança da ONU, além de Biden dar apoio irrestrito aos ataques contra a Palestina. 

A luta do povo palestino pela sua libertação, auto determinação e descolonização é legítima. É necessário criarmos condições na sociedade para que o apoio se torne maior, combatendo notícias falsas, políticas que giram em torno de questões religiosas, e visões fundamentalistas da situação, sabendo que igualar os lados é um desserviço em relação ao acesso à informação. Apelamos aos povos livres para que se mantenham ao lado do nosso povo para acabar com os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos pelas autoridades de ocupação e pelas suas forças contra o nosso firme povo palestino. Do rio ao mar, a Palestina será livre! 

*Texto escrito em parceria com Raya Radwan, palestina que mora na Cisjordânia ocupada e é mestranda em Estudos Internacionais na Universidade de Birzeit.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga