Estudo divulgado no fim de 2023 pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) registrou pela primeira vez no Brasil uma região de clima árido, com redução de nuvens, diminuição das chuvas, aumento da incidência de radiação solar de ondas longas sobre a terra, que se encontram agora severamente degradadas. As características permitem classificar a região, no norte da Bahia, como árida.
Sobre o tema, o programa, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Carlos Magno, mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. Magno também é coordenador do Centro Sabiá e integrante da Plataforma Semiáridos, iniciativa em defesa dos semiáridos da América Latina e liderada pela ONG estrangeira Coalização Internacional pela Terra (ILC).
Magno destaca que o problema não é exatamente novo. "A mancha de território árido entre a Bahia e Pernambuco é consequência de um processo que tem acontecido há pelo menos 20 anos, segundo o INPE", diz ele. As fotografias de satélites mostram que a região semiárida do Nordeste cresceu 48% entre 1999 e 2022. "Um aumento de 430 mil hectares", pontua ele.
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Há mais água evaporando do solo e das plantas do que retornando via chuvas. "Está chovendo pra cima", resume Carlos. "Isso resulta na distribuição dos ecossistemas e na falta de vegetação. Nessa área a formação de nuvens é muito menor que noutras, o que torna essa área mais atingida por radiação solar, com mais evaporação", diz ele.
Com menos nuvens, menos chuvas e mais sol, o caminho natural, segundo Carlos Magno, é que essas regiões se tornem desertos. "Mesmo que as chuvas voltem ao normal, o solo já está degradado, não produzi mais comida", lamenta. E segundo ele a tendência é de crescimento no tamanho das áreas nessa situação.
Papel do Governo
O articulador social sugere que os poderes públicos, especialmente a União e os governos estaduais, precisam dar a devida atenção ao problema. "Precisamos de políticas estaduais, nacionais, planos e orçamentos generosos para que essas populações consigam se adaptar e mitigar os efeitos causados por esse processo climático", propõe Carlos. "Precisamos investir em tecnologias sociais para universalizar o acesso a água para essas populações", diz ele.
Na avaliação do especialista, o Brasil - tanto o governo como a sociedade - "não temos dado a devida importância a esse problema, que é lento, mas é grave. Não tomamos consciência desse processo", diz ele. "A população nem sabe e nem entende o que está acontecendo, porque não é algo fácil de explicar", completa.
No Brasil, quando as pessoas pensam em lugar seco, pensam no Sertão. Acontece que nem sempre o Sertão foi assim. É um quadro que vem mudando, piorando", diz Magno. Ele lembra ainda que há cidades grandes nessas regiões. "Além dos centros urbanos, há comunidades rurais que vivem exclusivamente de recursos da agricultura e que estão sendo duramente afetadas", lamenta.
Cerca de 27 milhões de pessoas (13% da população brasileira) vive no nosso semiárido, composto por 1.427 municípios, que fazem deste o semiárido mais populoso do mundo. Dentro da nova região árida no norte da Bahia estão boa parte dos municípios da região do Itaparica (Abaré, Chorrochó, Macururé e parte de Rodelas), sendo "poupados" os vizinhos Glória e Paulo Afonso. Na região do Sertão do São Francisco trechos de Curaçá e Juazeiro também se tornaram áridos.
Em Pernambuco, os municípios de Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco e Itacuruba fazem fronteira com essas regiões áridas baianas
Edição: Helena Dias