Diferente das eleições municipais de 2020, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) vinha de duas grandes derrotas (impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e eleição presidencial de 2018), neste ano de 2024 o PT vive um ambiente de “volta por cima”, com Lula na Presidência da República. O ambiente faz com que o deputado estadual Doriel Barros, presidente do partido em Pernambuco, projete resultados bem melhores para as eleições municipais.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Pernambuco, Doriel afirmou que espera chegar ao fim de 2024 comemorando a eleição de entre 15 e 20 prefeitos petistas (8% a 11% das 184 prefeituras no estado), o que seria duplicar ou triplicar as 7 prefeituras que o partido possui hoje. Em baixa no ano de 2020, o PT levou apenas 5 prefeituras (2,7%). Mas dois prefeitos eleitos por outros partidos se filiaram ao PT nos últimos meses, com destaque para Yves Ribeiro (ex-MDB), da cidade do Paulista (6ª maior do estado).
Mas não há perspectiva de algum outro prefeito se filiar ao PT na janela partidária que se abre no próximo dia 7 de março (e vai até 5 de abril). “Não temos no radar. O que estamos construindo é a chegada de lideranças importantes que estarão disputando prefeituras relevantes para o estado, seja na cabeça da chapa ou compondo como vice”, diz Doriel Barros, que vê o PT em “fase de arrumação” para a disputa. O partido tem pré-candidaturas para 27 prefeituras até o momento - número que ainda pode aumentar.
Barros destaca o nome do experiente Elias Gomes, ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho (3x entre 1982 e 2004) e de Jaboatão dos Guararapes (2009-2017). Com passagens por PSDB e MDB, Elias será candidato em Jaboatão (643 mil habitantes), segundo maior município pernambucano, atrás apenas do Recife.
Gomes é a principal aposta do PT local para este ano - ao lado de Yves, em Paulista, candidato à reeleição. “Jaboatão é a disputa mais importante, além daquelas cidades que já governamos”, diz Doriel. “Com Yves e Elias o PT passa a ter grande força na região metropolitana”, completa. Nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, Elias aparece em 1º lugar empatado com o atual prefeito, o bolsonarista Luiz Medeiros (PL).
Em 2020 o PT elegeu Márcia Conrado em Serra Talhada (92,2 mil habitantes), George Gueber em Orocó (13,6 mil) e João Bosco em Granito (7 mil), todas no Sertão; além de Luiz Aroldo em Águas Belas (41,5 mil) e Álvaro Marques em Tacaimbó (13,7 mil), na região Agreste do estado. Posteriormente se filiaram ao PT os prefeitos Gildo Pontes (ex-PL), de Sairé (10,8 mil), no Agreste, além do prefeito do Paulista (342 mil), na Região Metropolitana. O PT governa hoje para aproximadamente 520 mil pernambucanos (5,7% da população).
Vídeos de Lula
Cientes da força de Lula no seu estado natal, os petistas tentam mais uma vez canalizar o lulismo para os candidatos do PT (ou aliados do PT) nas disputas municipais. “Nas cidades pequenas o PT já tem força expressiva, mas queremos ter mais capacidade de aglutinar esses votos ‘de Lula’ para nossos candidatos a prefeito. Vamos mostrar que esses candidatos apoiados pelo PT terão com o povo os mesmos compromissos que Lula tem”, vislumbra o dirigente petista.
Doriel tem expectativa de que Lula grave vídeos declarando apoio a todos os candidatos apoiados pelo PT este ano. “É uma estratégia nacional do PT. Lula será um grande cabo eleitoral. Confiamos bastante que vamos convencer a população”, diz ele. O deputado petista se mostra preocupado em ampliar a força do PT em cidades maiores, com maior presença nas câmaras de vereadores. “Queremos eleger em torno de 150 vereadores no estado”, diz ele.
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Com João no Recife, desde que na vice
Sobre a disputa na capital pernambucana, Barros reafirmou a intenção do PT em indicar o vice na chapa pela reeleição de João Campos (PSB). “Queremos a aliança, mas não vemos outro espaço diferente desse [vice] na chapa. Caso esse formato não seja atendido, um outro debate deve ser feito”, disse ele, dando a entender que uma candidatura própria não estaria totalmente descartada.
Sobre os nomes ventilados para a vice, Doriel descartou os do deputado estadual João Paulo (PT) e do empresário Roberto Gusmão (que poderia migrar do PSB para o PT). “Só existem os nomes do deputado federal Carlos Veras e o do ex-vereador Mozart Sales - qualquer outro é mera especulação”, finalizou.
Pacificação em Paulista
Questionado sobre a relação da vereadora de oposição Flávia Hellen (PT) com o agora petista Yves Ribeiro, Doriel Barros se mostrou tranquilo. “O PT está trabalhando isso internamente e essa situação deve ser superada. Acredito que estaremos unidos, porque a eleição de Paulista tem importância significativa, inclusive para a chapa proporcional”, diz o presidente petista.
Quando do anúncio da filiação de Yves ao PT, a vereadora protestou, alegando que o experiente prefeito não tinha identidade com o partido. Na ocasião, ela se colocou à disposição do partido para disputar a prefeitura. Doriel fez afagos a Flávia Hellen. “A nossa vereadora é um quadro importante e precisa ser valorizada. Ela tem feito um bom debate político local e tenho certeza que será reconduzida ao cargo”.
PT aguarda PCdoB sobre Olinda
Tendo na mesa a pré-candidatura de Vinicius Castello (PT) à prefeitura de Olinda, o PT ainda aguarda o aliado Partido Comunista do Brasil definir sua vida no município. “O PCdoB tem Olinda como prioridade e existe a possibilidade de a ministra Luciana Santos (prefeita de Olinda de 2001 a 2008) querer concorrer”, pondera o líder petista.
Desde 2022 o PT está vinculado juridicamente ao PCdoB e ao PV através da Federação Brasil da Esperança, de modo que os três partidos atuam juridicamente como um só tanto nas eleições como no parlamento, não podendo lançar candidaturas concorrentes. “Mas se não acontecer [de o PCdoB lançar Luciana], temos a possibilidade de candidatura própria do PT. Com o trabalho que Vini tem feito, somado à força de Lula, podemos vencer em Olinda”, completa Doriel.
Os três partidos ainda não se juntaram para “trocar figurinhas” sobre seus mapas e pretensões eleitorais em 2024.
Caruaru em aberto
Na Capital do Agreste, a deputada estadual Rosa Amorim (PT) se colocou como pré-candidata, mas não é o único nome petista visto que o presidente municipal Léo Bulhões também se colocou no jogo. “Há um entendimento de que não haverá uma disputa entre eles. E tem o nome de Zé Queiroz. Nós estamos abertos ao diálogo”, resumiu Doriel.
Enquanto Amorim busca fortalecer a tese de candidatura própria, Bulhões mostra simpatia pelo apoio a Zé Queiroz (PDT). O experiente pedetista já amarrou o apoio do PSB e aparece nas pesquisas como principal nome da oposição ao prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB).
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Definições em Petrolina
Já na maior cidade do Sertão (e agora 3ª maior do estado), já está determinado que o PT terá candidatura própria à prefeitura. “Isso está definido. Já temos uma pesquisa em curso para avaliar qual o melhor nome para trabalharmos”, diz o presidente do PT. Os nomes possíveis são os do ex-prefeito Odacy Amorim e o de Julianeli Tolentino, ex-reitor da Univasf.
Nas pesquisas públicas divulgadas até o momento, Odacy (14%) aparece empatado com Julio Lóssio (15%, do Solidariedade), ambos a uma razoável distância do prefeito Simão Durando (UB), candidato à reeleição e apoiado pelo clã Coelho. “Lula vai nos ajudar muito”, acredita Doriel.
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Acima de 100 mil, o debate é maior
O PT tem por determinação que as candidaturas e alianças em municípios com mais de 100 mil habitantes sejam debatidas pela direção nacional.
São 12 os municípios pernambucanos que se encaixam nesse grupo: Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu e São Lourenço da Mata, todos na região metropolitana; além de Petrolina, Caruaru, Garanhuns e Vitória de Santo Antão, no interior.
De Pernambuco, integram o diretório nacional do PT o senador Humberto Costa, a senadora Teresa Leitão; a comunicadora Sheila Oliveira; o professor Patrick Campos; além da sindicalista rural e presidenta da Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco (Fetape), Cícera Nunes.
Edição: Helena Dias