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DEBATE

“O sionismo é uma vergonha para o judaísmo”, afirma jornalista judeu no Recife

Breno Altman fez visita de 3 dias à capital pernambucana lançando seu livro “Contra o Sionismo”

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Breno Altman lançou seu livro no Armazém do Campo (dia 6) e na Adufepe (7); do Recife ele segue para Natal (RN) - Adaíra Sene / Adufepe

Na tarde desta quinta-feira (7) o jornalista Breno Altman, fundador e editor do site de notícias internacionais Opera Mundi, participou de atividade na Cidade Universitária sobre os ataques que a comunicação independente tem sofrido ao se posicionar contra a ocupação territorial de Israel na Palestina e os seus seguidos ataques militares na Faixa de Gaza. Altman é judeu e está sendo processado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib). A entidade tenta, por vias judiciais, impedí-lo de opinar sobre o tema.

Ele classifica as ações contra ele como “tentativa de censura” por parte de instituições que, na visão de Altman, compõem o “lobby sionista” no Brasil, o que inclui organizações não-governamentais - “algumas mais à esquerda, outras mais à direita” - ligadas a entidades judaicas, as 14 federações israelitas estaduais (há uma em Pernambuco) e lideradas pela Conib. “Eu não sou uma grande ameaça. Mas sou um judeu anti-sionista. E o sionismo não permite dissidência”, diz ele, apontando o que considera a motivação para ter sido processado.

Altman aponta que décadas atrás as nações imperialistas conseguiam exercer mais controle sobre o que entrava de informação tanto no seu território quanto nas suas colônias. “Os Estados Unidos censuram informação desde sempre. Prendem jornalistas que se opõem aos interesses do império. Mas hoje a internet possibilita meios de comunicação independentes e as informações de um celular podem circular o mundo sem aquele controle”, avalia Breno. “Isso incomoda muito. Por isso hoje buscam ‘tapar’ a informação por vias judiciais”, completa ele.

O editor do Opera Mundi cita o “lawfare” e o “slap” como formas de uso do sistema de justiça para calar vozes contrárias. “Não tenho mais ideia de quantos processos são. Num dos processos eles pedem que eu pague um salário mínimo de danos morais para cada judeu no Brasil. Isso daria mais de R$200 milhões. Se eu tivesse esse dinheiro, eu seria sionista”, disse Altman entre risos. O jornalista está sendo defendido, sem custos, pelo escritório Teixeira Ferreira e Serrano Advogados Associados.


Livro "Contra o Sionismo" foi lançado no Recife e está sendo comercializado no Armazém do Campo, centro do Recife / Vinicius Sobreira/Brasil de Fato Pernambuco

Altman avalia que a luta por liberdade de expressão e de imprensa deve voltar à pauta de reivindicações e terá que confrontar o Poder Judiciário, já que as disputas em torno do tema estão se dando nos marcos jurídicos. “Estou realmente preocupado com a ‘lei das fake news’. Acho que estamos dando uma arma ao inimigo e ela será usada contra a imprensa independente”, disse ele, se referindo ao projeto de lei 2630/2020, que a esquerda apoia majoritariamente. “É um bumerangue. Achamos que estamos atacando o inimigo, mas vamos quebrar a cara”, alertou.

Breno se disse “favorável à mais absurda liberdade de expressão possível”, apontando os modelos britânico e estadunidense como mais próximos do que ele considera ideal. “Sou praticamente um liberal nesse tópico”, afirmou.

O fortalecimento de uma imprensa independente também foi colocado como uma necessidade inadiável por Altman. “Já que não há força e nem vontade de confrontar os monopólios de mídia, por parte do governo - mesmo quando é nosso aliado -, então só nos resta a mídia independente”, disse ele.

Presente na mesa, a professora de comunicação da UFPE Ana Veloso, que integra o coletivo Intervozes pela democratização da comunicação, alertou que o Governo Federal não possui um fundo público para incentivar a mídia independente, deixando esses canais vulneráveis. “Ficam suscetíveis a todo tipo de assédio e cooptação econômica por parte das big techs, em troca de defenderem a não-regulação das redes sociais e outras pautas dessas empresas”, disse Veloso.

Assédio a juízes e jornalistas

Altman também denunciou que políticos, jornalistas, influenciadores e até juízes são levados para Israel em passeios pagos por entidades judaicas privadas, ficam hospedados em hotéis de luxo e têm encontros com autoridades israelenses, emulando uma proximidade com o objetivo de que essas pessoas a defendam interesses israelenses no Brasil. “O cônsul de Israel em São Paulo já me chamou para uma viagem dessa, mas eu neguei”, disse Breno.


Judeu, Breno Altman está sendo processado por entidades judaicas no Brasil / Adaíra Sene / Adufepe

Segundo ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, ministros do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e outras cortes federais foram levados há poucos meses a um passeio desses, com tudo incluso. “Nem a legislação brasileira e nem os regimentos internos desses tribunais e casas legislativas coíbem esse tipo de relação das autoridades com entidades privadas”, criticou o jornalista.

Os advogados que defendem Altman apresentaram ao STF uma reclamação constitucional contra o que ele chama de “assédio judicial”. Mas no sorteio para definir quem será o ministro do Supremo a avaliar a reclamação jogou a pauta no colo de André Mendonça, de modo que a ação tem poucas chances de prosperar neste primeiro momento.

“Dirigentes do regime sionista deveriam acabar como os nazistas”

Sobre o sionismo, conjunto de ideias e políticas que pregam a criação e expansão do Estado de Israel em território palestino, o comunicador classificou como “açucarada” a forma que a ideia é apresentada. “Apresentam como uma luta do povo judeu pela sua autodeterminação”, disse Breno no início do evento. Ele avalia que o sionismo e o Estado de Israel são, na verdade, “uma vergonha em termos de Direitos Humanos”.

Destacando que teve parte de sua família assassinada no holocausto judeu na década de 1940, Altman afirmou que “o regime sionista e seus dirigentes deveriam terminal num tribunal como o de Nuremberg e acabar como os dirigentes do nazismo, porque o regime sionista é a pior das tiranias”, disparou. “O regime sionista é inimigo da humanidade, inimigo dos povos e, portanto, deve ser varrido do mapa como foram varridos os regimes nazista e fascista”, emendou.

Altman considera que só haverá paz naquela região quando o governo sionista em Israel acabar. “O sionismo é uma vergonha para o judaísmo, uma chaga contra os valores humanitários e democráticos do judaísmo”, completou.

O comunicador judeu também apontou como justa a luta armada do povo palestino. “Eles estão protegidos pela resolução 3103 das Nações Unidas (ONU), aprovada em 1973, que diz claramente que o colonialismo é um crime e, diante do colonialismo, os povos têm direito à luta armada”, disse ele, ponderando que nos processos de resistência também há excessos e crimes contra os Direitos Humanos - e seus autores devem responder por estes atos.

Assista à íntegra do debate no vídeo abaixo:

Edição: Helena Dias