Na última semana foi revelado que a diretoria da Petrobras decidiu não pagar dividendos extraordinários aos acionistas da empresa - ou, segundo Jean Paul Prates, presidente da estatal, “adiar o pagamento”. O comunicado gerou uma reação de venda massiva das ações da estatal nas bolsas de valores, com uma desvalorização de mais de 10%, resultando numa queda de R$ 55,3 bilhões no valor de mercado, saindo de aproximadamente R$350 bi para menos de R$300 bi.
A pressão política por parte dos acionistas pode ser vista no noticiário da imprensa comercial, que acusa o Governo Federal de “intervencionismo” e pede a cabeça de Prates. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado já aprovou, a pedido do senador Sérgio Moro (UB), a convocação para que Jean Paul Prates vá à casa legislativa “prestar esclarecimentos”.
Sobre o momento que vive a Petrobras, o Brasil de Fato Pernambuco conversou com Sinésio Pontes, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e da Paraíba, expressando a visão dos trabalhadores da Petrobras sobre o tema. “O lucro de 2023 foi o segundo maior da história da empresa e isso foi alcançado sem precisar fazer nenhuma privatização - diferente dos últimos anos, em que os lucros era motivados pela venda de ativos”, avaliou. O lucro mencionado foi de R$ 124,6 bilhões.
Sobre o não pagamento de dividendos extraordinários, Pontes considera correta a decisão da Petrobras. “Esses pagamentos estavam sendo muito superiores às demais empresas petrolíferas internacionais. Então o mercado reagiu porque acabou essa mamata do pagamento exorbitante de dividendos”, opinou. “Para acionista majoritário, que é o povo, a sociedade, a decisão foi acertada. Porque a gente quer a Petrobras investindo em novas tecnologias e em energia renovável, mas os acionistas privados, estrangeiros, não ligam para o desenvolvimento do Brasil, só com seus dividendos”, completou.
A Petrobras tem a obrigação de pagar trimestralmente um valor mínimo de dividendo aos acionistas e isso será cumprido. O valor referente a 2023 será de R$ 14,2 bilhões - bem superior ao valor médio anual pago pela empresa (R$ 5 bilhões), considerando o período desde sua abertura de capital, em 1995, até o ano de 2020. Mas em 2021 o governo Bolsonaro pagou um valor recorde de R$ 101,4 bilhões aos acionistas e, no ano seguinte, elevou ainda mais o “presente”, pagando mais de R$ 217 bilhões aos acionistas. Ao mesmo tempo, no último governo a Petrobras reduziu seus investimentos na própria infraestrutura.
“Intervencionismo”
Um ponto central das críticas é do papel “intervencionista” que o governo estaria exercendo sobre a empresa. “A lógica desses analistas e da imprensa comercial é a de quem gostaria que a Petrobras fosse uma empresa privada. Nos anos de Bolsonaro e [do ministro] Paulo Guedes a Petrobras sofreu sim interferência, mas em muitos aspectos ela se comportava atendendo aos interesses privados”, lembra Sinésio. “No governo Lula a Petrobras está lembrando que o acionista majoritário é o povo brasileiro”, completou.
As ações da Petrobras pertencem a acionistas privados brasileiros (10,5%), estrangeiros (39%) e ao Governo Federal (50,3%), sendo este último o acionista majoritário e, portanto, parte decisiva na tomada de decisão do presidente da estatal. “O governo tem o poder das decisões e está no seu direito - e isso conflita com o desejo do mercado de ter a Petrobras privada”, resumiu o trabalhador, que considera a normal que “a política da Petrobras está atrelada à política do governo eleito”.
Pontes pondera que os interesses dos acionistas privados não são deixados de lado. “A empresa não dá prejuízo, sempre pagando os dividendos”, diz ele. O presidente do Sindipetro critica as comparações que têm sido feitas com a petroleira venezuelana PDVSA. “A nossa empresa dá um dos maiores lucros deste segmento no mundo. Então pelos resultados, podemos dizer que essa ‘intervenção’ está sendo benéfica”, opinou.
Diante da pressão dos acionistas e de parte da imprensa, o presidente da Petrobras falou que os valores seriam retidos apenas temporariamente, mas que seriam sim pagos; depois citou a possibilidade de pagar metade dos valores extraordinários que os acionistas desejavam e só conter metade; e também negou que Lula tenha participado das decisões da empresa.
A confusão toda irritou o presidente da República, que nos bastidores tem criticado as falhas de comunicação por parte de Jean Paul Prates (Petrobras) e de Alexandre Silveira (ministro das Minas e Energia), tendo convocado uma reunião com os dois, além de Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil). Lula deu ordem para que deixassem claro que ele não só apoia, como orientou a decisão de não pagar os valores extraordinários.
Chão de fábrica
O líder dos trabalhadores da Petrobras em Pernambuco disse que esses debates não afetam o dia a dia do trabalhador na empresa “em nenhum nível”. “Se a ação for R$ 5 ou se for R$ 30, isso não tem impacto nenhum na vida do trabalhador. Isso é só é assunto na [avenida Brigadeiro] Faria Lima [em São Paulo]”, opina. “Já houve grande desvalorização antes e também grandes subidas. Essa queda é temporária. Desde o início do governo Lula as ações se valorizaram mais de 60%”, disse ele.
O que faz diferença para os trabalhadores da Petrobras, segundo Sinésio, são as ameaças de privatizações ou, por outro lado, o anúncio de novos investimentos na empresa. “Nós defendemos uma empresa maior, integrada, com mais refinarias, mais exploração de petróleo. Então entendemos que a empresa precisa investir seus recursos”, diz ele.
Refinaria Abreu e Lima vira prioridade da Petrobras
Questionado sobre as expectativas dos trabalhadores da Petrobras após o primeiro ano do governo Lula, o líder sindical se mostra animado, especialmente com a sua unidade de trabalho, a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), no polo industrial de Suape, no Cabo de Santo Agostinho (PE). “Saímos da condição de uma refinaria que seria vendida, com futuro incerto para os trabalhadores, e passamos a ser a unidade com mais investimentos no país”, comemora Sinésio Pontes.
Dentro do plano estratégico 2024-28 divulgado pela empresa, a RNEST passará por três ciclos de ampliação da produção. Hoje a refinaria tem capacidade para processar o equivalente a 88 mil barris por dia no seu trem de refino. O projeto original previa a capacidade de 115 mil barris/dia em cada trem, mas há uma limitação por órgãos ambientais. No 1º ciclo dessa retomada de obras na Abreu e Lima, o trem 1 será ampliado e chegará à capacidade de 100 mil barris/dia e o 2º ciclo elevará para 130 barris/dia. A expectativa é que essa obra seja concluída antes de abril de 2025.
O 3º ciclo é uma obra maior, para retomada das obras paradas do segundo trem de refino, que será erguido já com capacidade de processamento equivalente a 130 mil barris de petróleo por dia, deixando a RNEST com capacidade total de 260 mil barris/dia, o triplo dos 88 atuais. As obras já estão em fase de contratação e devem ter início no segundo semestre deste ano, com conclusão prevista para 2028.
O sindicalista pontua ainda que tudo isso traz ganhos para o povo pernambucano, não só na geração de emprego, como em impostos para o Governo do Estado e municípios. “Hoje já somos [a RNEST] o maior contribuidor de ICMS de Pernambuco. Com essa ampliação, isso vai mais que duplicar, impactando também no Porto de Suape”, celebrou Sinésio. “Aumenta o nosso desafio. Espero que a gente retome aquela atmosfera positiva de 2010, 2013, com obras e captação de investimento”, deseja o trabalhador.
Edição: Helena Dias