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A resistência construída durante a Ditadura: sempre lembrar, nunca esquecer! 

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Mulheres protagonizaram a Campanha pela Anistia dos presos e exilados políticos na ditadura - arte sobre foto de Juca Martins
o Movimento pela Anistia teve como protagonistas mães, irmãs, filhas e esposas dos presos políticos

No ano que marca os 60 anos do Golpe Militar de 1964 no Brasil, devemos honrar as inúmeras histórias e vítimas para que nunca mais se repita. É necessário - não só agora, mas sempre - mantermos viva a memória em torno do golpe e seus 21 anos de Ditadura empresarial militar, bem como todo o horror vivido durante esse período.

Uma questão sobre a qual é de suma importância falar e trazer sempre ao centro dos debates são os relatos, vivências, construções e, especialmente, a resistência durante aquelas mais de duas décadas, inclusive para tomarmos como base na hora de fazer política hoje. Claro, é necessário denunciar toda violência, tortura, repressão existente nesse período. Mas é importante lembrarmos que os movimentos, partidos, demais organizações da classe trabalhadora não se mantinham passivas diante do que ocorria no país. Havia muita luta e das mais diversas formas e táticas.

A volta da democracia no nosso país foi, sobretudo, por meio de muita luta e resistência, que nos abriu caminho para a organização popular construída no pós-ditadura no Brasil, a partir de 1985, com o processo da redemocratização.

É, portanto, no sentido de trazer histórias de resistência, a importância disso até hoje, que esse texto encontra seu sentido. Especialmente quando falamos da atuação das mulheres no processo de enfrentamento à barbárie.


Cartaz da Campanha pela Anistia destaca protagonismo das mulheres / Reprodução

O ano de 1975 foi conhecido internacionalmente como o “Ano da Mulher”, abrindo a Década da Mulher que seguiu até 1985. Esse período na história dos movimentos de mulheres foi um grande divisor de águas para toda uma forma de fazer política que se forjava. Foi no Congresso Mundial do Ano Internacional da Mulher, no México, evento organizado pela ONU com tema “Igualdade, Desenvolvimento e Paz”, que esses marcos temporais foram decididos. Ao mesmo tempo, no Brasil, as organizações populares de mulheres ganhavam forma e força.

Terezinha Zerbini, militante brasileira dos movimentos de mulheres, voltou do Congresso trazendo o debate sobre a anistia. Foi a partir desse momento que foi sendo construído o Movimento pela Anistia, que teve as mulheres em seu centro e à sua frente. O movimento tinha como protagonistas mães, irmãs, filhas e esposas dos presos políticos. Eram elas a maioria levantando a bandeira desse debate, mexendo com a opinião pública e lutando por si, por seus familiares e entes queridos.

Outros movimentos que nasceram e cresceram durante essa fase, reverberando na luta política no Brasil, foram Clubes de Mães, Movimento pelo Custo de Vida, Movimento por Creche, entre tantos outros - muitas vezes motivados pelo contexto de ditadura, violência, repressão, recessão econômica, falta de políticas públicas que as amparasse.
Eles surgem a partir do compartilhamento e encontro de experiências das mulheres, sobretudo dentro dos espaços dos CEBs (Clubes Eclesiais de Base). Foi, então, por meio da compreensão inicial de suas questões, dificuldades e lutas em comum, que as mulheres, trabalhadoras, mães, donas de casa, em sua maioria negras e que viviam nas periferias dos centros urbanos, passaram a se reconhecer dentro do recorte de classe, raça e gênero.


Capas de revista, panfletos e cartazes pela anistia dos exilados políticos e presos pela ditadura militar brasileira / Colagem: Brasil de Fato

Apesar da construção e protagonismo das mulheres, suas pautas e formas de se organizar abrangiam toda a sociedade e as questões de classe de uma forma ampla, não se limitando a pautar apenas questões de gênero. Foi a partir da compreensão da sociedade de uma forma abrangente e da realidade vivida nesse contexto específico que se caminhou e se construiu.

Os movimentos de mulheres do século 20 no Brasil, ou seja, a formação atual do feminismo popular, vem de uma longa trajetória e de construções anteriores. Compreender essas movimentações e seus itinerários ao longo da história nos dá base, norteia e ensina, enquanto preserva a memória de grandes lutadoras, entre as quais os grandes nomes de Mércia Albuquerque, Amelinha Teles e Jessie Jane Vieira e tantas outras que, ao longo dos anos e nos mais diferentes contextos, construíram, a partir de suas experiências, a resistência no Brasil e na América Latina, fortalecendo a democracia e a vida de todas as mulheres.

Viva a memória de quem veio antes de nós, e que nunca esqueçamos suas lutas e vitórias!

Edição: Vinícius Sobreira