Pernambuco

PROTESTO

“Aqui mora uma golpista!”: jovens picham rua onde vive a deputada pernambucana Clarissa Tércio

Além do apoio à tentativa de golpe, deputada já tentou impedir que criança estuprada pudesse fazer aborto

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"Escracho" aconteceu na manhã desta segunda-feira (1º), pedindo punição para os golpistas de 1964 e 2023 - Levante Popular da Juentude/reprodução

A rua Francisco da Cunha, onde mora a deputada federal Clarissa Tércio (PP), no bairro de Boa Viagem, Recife, amanheceu nesta segunda-feira (1º) pichada com a frase “Aqui mora uma golpista! Por memória, verdade e justiça!”. A ação faz referência ao apoio público da parlamentar aos atentados golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, quando manifestantes bolsonaristas insatisfeitos com o resultado eleitoral invadiram e depredaram os prédios do STF e o Palácio do Planalto.

A ação faz parte de uma campanha nacional de “escrachos” do movimento Levante Popular da Juventude, pedindo punião aos apoiadores da tentativa de golpe de 2023, mas na data do golpe militar de 1964. Em 2012, o movimento fez uma série de “escrachos” aos torturadores da ditadura, apontando a impunidade dos militares que perseguiram, torturaram e mataram durante os 21 anos de regime militar no Brasil.


Rua onde mora a deputada Clarissa Tércio, em Boa Viagem, foi palco de protesto / Levante Popular da Juentude/reprodução

No dia 8 de janeiro, três meses após ser eleita deputada federal - mas ainda restando um mês para tomar posse - Clarissa compartilhou imagens da depredação aos prédios públicos em Brasília comemorando: “acabamos de tomar o poder!”. Bolsonarista, ela descredibilizou o processo eleitoral em que ela mesma conquistou o mandato.

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Durante a pandemia da covid-19, ela usou suas redes sociais e a rádio Novas de Paz, que pertence à sua família, para afirmar que a pandemia não existia. Depois, quando já não conseguia negar o vírus, espalhou mentiras de que a cloroquina “previne” ou “cura” a covid-19. Ela distribuiu o medicamento nas periferias.


Cartazes fizeram referência ao apoio da deputada à tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro de 2023 / Levante Popular da Juentude/reprodução

A deputada, também em 2020, participou de um protesto em frente a uma maternidade do Recife. Ela chegou a invadir a maternidade para impedir que uma criança de 10 anos, que havia sido estuprada e estava grávida, a deputada tentou impedir a criança de realizar um aborto dentro da lei.

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Em 2023 ela foi condenada em 1ª instância a pagar R$10 mil por uso indevido da imagem e transfobia, após usar suas redes para expor um casal.

Quartel, igreja e prefeitura

Clarissa Tércio (PP) é deputada federal e pré-candidata a prefeita de Jaboatão dos Guararapes, onde enfrentará o ex-prefeito Elias Gomes (PT) e o atual prefeito Mano Medeiros (PL). Tanto Clarissa como Mano são bolsonaristas, mas de grupos concorrentes em Jaboatão.

O prefeito é nome de confiança da família Ferreira - liderada pelo federal André Ferreira e composto pelo ex-prefeito Anderson Ferreira, pelo pai e ex-estadual Manoel Ferreira e pelo vereador Fred Ferreira.

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Os “Tércio”, que na verdade não possuem “Tércio” no nome, são representados na política por Clarissa, seu esposo e deputado estadual Junior de Tércio (Podemos) e pretendem lançar outros familiares no jogo este ano.

Clarissa foi eleita estadual em 2018 com 50,8 mil votos e, em 2022, eleita federal com 240,5 mil votos (2ª mais votada do estado, atrás justamente de André Ferreira). Seu esposo foi eleito vereador do Recife em 2020 com 12,2 mil votos e, em 2022, eleito estadual com 183 mil votos (1º lugar em Pernambuco).


Manifestação ocorreu na manhã desta segunda-feira (1º) / Levante Popular da Juentude/reprodução

O pai de Clarissa é o pastor evangélico Francisco Tércio - este sim, que “emprestou o nome” aos demais. A família comanda a igreja Assembleia de Deus Ministério Novas de Paz, fundada em 1997 dentro de um quartel da Polícia Militar em Jaboatão dos Guararapes.

Hoje a denominação possui mais de 150 templos no estado, sendo quase 100 só em Jaboatão. Também possuem a concessão de rádio onde operam, desde 2014, a Rádio Novas de Paz, denunciada pelo Ministério Público por espalhar informações falsas durante a pandemia.

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Edição: Vinícius Sobreira