Pernambuco

ORGANIZAÇÃO POPULAR

Comunidade se reúne e reergue horta destruída pela prefeitura, na Imbiribeira

Moradores já colhiam itens alimentares quando Emlurb destruiu a Horta Comunitária Cafezópolis, na zona sul da capital

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O mutirão acontece duas semanas após a Prefeitura do Recife destruir a horta, que era cultivada por moradores havia 6 meses - Divulgação

No último sábado (11), moradores da comunidade de Cafezópolis, bairro da Imbiribeira, se reuniram para reerguer sua horta comunitária. O mutirão acontece duas semanas após a Prefeitura do Recife destruir a horta, que era cultivada pela população havia seis meses. Uma equipe da Secretaria Municipal de Agricultura Urbana foi enviada para contribuir com a reconstrução.

Paula Silva, uma das moradoras voluntárias, conta que aquele espaço tem contribuído com itens alimentares que os moradores às vezes não conseguem comprar. “Falta na nossa mesa um alface, que está caro demais. Mas agora nós plantamos e colhemos esse alface”, diz ela, que distribuiu pimenta e alface para moradores do bairro antes da destruição. “Estávamos com milhos grandes para colher em junho, mas a Emlurb tirou a cerca e as galinhas e cachorros destruíram”, lamenta. Mas o quiabo sobreviveu e deve ser o próximo item compartilhado com as vizinhas.

Ela conta que a experiência de lidar com a terra tem sido enriquecedora para todos os que participam. “Aprendemos muito mesmo. E a cada quinzena os meninos do MST vêm e aprendemos mais ainda. Vamos lá colocar água todos os dias, criamos o hábito de conversar com as plantas. Quem passa lá sempre dá uma olhada, para ver se algo novo está brotando. Está sendo incrível”, comemora.


A ideia da horta partiu de um professor da comunidade, que sonhava envolver crianças e adolescentes num projeto do tipo / Divulgação

A ideia da horta partiu de um professor de futsal da comunidade, que sonhava envolver as crianças e adolescentes num projeto do tipo. Hoje ele não vive mais no bairro, mas a ideia plantada por ele deu frutos. “As crianças têm participado e sempre passam aqui depois da escola. Tem sido educativo”, conta Paula.

Líder comunitária, Paula conta que no início até achava que a população acabaria destruindo a horta, mas isso não aconteceu. “A comunidade respeitava e todo mundo se revoltou com essa destruição”, pontua. Questionada sobre a possibilidade de ampliar a área de plantio, ela acena positivamente. “Dá para aumentar, sim. É um local público, da comunidade, onde antes só havia entulho e um matagal onde usavam drogas”, recorda.

A região onde hoje está a comunidade de Cafezópolis pertencia, até a década de 1990, ao Armazém Coral. No fim da década foi vendido para a União, que cedeu parte à Prefeitura do Recife e manteve uma faixa, onde construiu a linha de metrô e a Estação Antônio Falcão (inaugurada em 2008), sob responsabilidade da empresa estatal federal CBTU. Na área cedida para o Recife foram construídas casas, entregues à população em 1999. O título de propriedade das moradias, no entanto, até hoje não foi entregue.


Os itens alimentares da horta estavam sendo distribuídos entre vizinhos, que se preparavam para colher milho no mês de junho / Divulgação

Desde o fim de 2023, cerca de 15 moradores do bairro se reúnem, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para transformar em horta aquela faixa de terreno público que estava sem uso e era usado muitas vezes como depósito de lixo. Ao longo destes seis meses têm sido plantados e colhidos alface, couve, quiabo, pimenta, jerimum, milho, além de plantas para chás e temperos.

A faixa de terra fica entre a Academia da Cidade de Cafezópolis e o terreno do Poder Judiciário, onde ficam os fóruns especiais da capital pernambucana. Tudo foi feito em diálogo com o poder público municipal, através da Secretaria Executiva de Agricultura Urbana, ligada à Secretaria de Política Urbana e Licenciamento.

A Horta Comunitária Cafezópolis teve suas cercas arrancadas e plantio destruído por uma equipe da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb), no último dia 27 de abril, sob o argumento de uso indevido de terreno público. A Emlurb é um órgão também da Secretaria de Política Urbana.

Não houve qualquer aviso prévio por parte da prefeitura. Algumas voluntárias da horta foram avisadas por vizinhas do que estava acontecendo e se dirigiram ao local, mas não conseguiram impedir a destruição.


Plantio está sendo realizado na faixa de terra que fica entre a Academia da Cidade e o terreno do Poder Judiciário / Google Maps

Edição: Helena Dias