Por Walisson Rodrigues, especial para o Brasil de Fato Pernambuco
A cidade de Recife, com aproximadamente 1 milhão e meio de habitantes, enfrenta desafios significativos devido à sua topografia e à distribuição populacional. Ocupando uma área urbana de mais de 218 km², a capital pernambucana possui 206,7 mil pessoas em áreas sob risco de inundações e deslizamentos monitoradas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
A cidade é caracterizada por uma topografia diversificada, com 67,4% de áreas de morros, 23,3% de planícies, 9,3% de áreas aquáticas e 5,6% de zonas de preservação ambiental. Cerca de 35% das famílias recifenses vivem nas áreas de morro. Essa configuração torna Recife a 5ª cidade com maior população em áreas de risco no Brasil, abrigando mais de 206 mil pessoas em condições vulneráveis, especialmente em encostas de barreiras propensas a deslizamentos.
De acordo com o 4º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ligado à ONU, o Recife enfrenta vulnerabilidades crescentes devido ao aumento do nível do mar, à elevação da temperatura média e à intensificação das precipitações. Esses desafios são exacerbados pela alta densidade populacional em áreas costeiras, pela impermeabilização do solo e pela sua baixa altitude.
A Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife (Sedec) identificou regiões críticas, categorizadas como de risco alto (R3) e muito alto (R4). Essas áreas foram divididas em cinco grupos de acordo com sua localização geográfica.
A região Nordeste do Recife tem áreas de risco no Córrego da Areia (Nova Descoberta), Córrego do Joaquim (Nova Descoberta), Sítio dos Macacos (Guabiraba) e no Córrego da Bica (Passarinho). Na região Noroeste estão o Córrego do Caruá (Vasco da Gama), Córrego do Beijú (Nova Descoberta), o Alto do Cruzeiro (Nova Descoberta) e o Alto do Brasil (Alto José Bonifácio) sob risco. Para informações sobre áreas vulneráveis e para chamar a Defesa Civil, o telefone é o 199.
No Norte da capital pernambucana a Defesa Civil aponta riscos na rua Cavalcanti Petribú (Dois Unidos), no Sítio/Alto do Rosário (Dois Unidos), Alto do Maracanã (Dois Unidos) e no Córrego do Deodato (Água Fria).
A região Oeste tem vulnerabilidades em Barreiras (Várzea), Pantanal (Cohab), Vila dos Milagres (Barro) e Jardim Monte Verde (Cohab) - esta última a localidade mais afetada por deslizamentos nas chuvas de 2022. A lista de zonas de risco é completada pela região Sul, com Vila do Sesi (Ibura), Alto da Bela Vista (Ibura), Alto da Jaqueira (Jordão), Lagoa Encantada (Cohab) e Jordão Baixo (Jordão).
A Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife vem implementando ações para mitigar os riscos de deslizamentos, como a utilização do Sistema E-ris para monitoramento em tempo real, além de vistorias técnicas e intervenções estruturais. Neste último grupo se encaixam melhorias na rede de drenagem e a contenção de encostas como a do Córrego do Marreco, na Guabiraba, um dos 51 planos específicos de intervenção em áreas com histórico de deslizamentos.
A população mais vulnerável, geralmente composta por indivíduos de baixa renda, sofre de maneira desproporcional os impactos dos desastres ambientais. As moradias muitas vezes são precárias e localizadas em áreas de risco, fatores que se somam à escassez de recursos para adaptação e mitigação desses problemas.
Mas as gestões municipais se limitarão a resolver os problemas ambientais imediatos, resultantes da falta de planejamento? A Prefeitura do Recife está pensando o desenvolvimento urbano e as correções necessárias para o futuro? As respostas têm sido construídas com a sociedade civil e organizações não-governamentais, ou apenas pelo poder público e iniciativa privada? As eleições municipais podem ser uma oportunidade para debater que tipo de cidade os recifenses desejam.
Edição: Vinícius Sobreira